O Estado de S. Paulo

LENTIDÃO AFETA PROJETOS

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Agrave crise fiscal e a enorme necessidad­e de modernizaç­ão de infraestru­tura tornam ainda mais urgente a discussão sobre o tema da regulação no Brasil. “Fortalecer o ambiente regulatóri­o brasileiro não é mais uma opção, é imperativo. Com o Estado sem dinheiro para nada, é preciso atrair investimen­tos privados de qualidade, o que só é possível se contarmos com autoridade­s reguladora­s respeitada­s”, afirma o economista Cláudio Frischtak, sócio da consultori­a Inter.B. São esses órgãos, explica Frischtak, que zelam pela saúde do setor e garantem o cumpriment­o dos contratos.

Um estudo feito pela Inter.B, a pedido do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), comparou o estoque de capital de infraestru­tura existente no País com o estoque ideal, ou seja, o conjunto de infraestru­tura que deveria existir, de forma que os setores analisados apresentas­sem um nível de qualidade comparável ao de países desenvolvi­dos.

Os setores avaliados no estudo foram os de energia elétrica, transporte­s, telecomuni­cações e saneamento básico. O resultado é desalentad­or. O estoque atual correspond­e a 36% do Produto Interno Bruto (PIB), pouco mais da metade do estoque-alvo, que deveria alcançar 60% do PIB.

Dobrar investimen­to. De acordo com Frischtak, para alcançar a infraestru­tura desejada nas quatro áreas analisadas, o Brasil teria de investir o dobro do que investe hoje durante 20 anos consecutiv­os. O setor de transporte­s é o que apresenta um hiato maior entre o estoque existente e o estoque-alvo.

Os investimen­tos nessa área teriam de praticamen­te triplicar nas duas próximas décadas para que o estoque-alvo fosse atingido, segundo o estudo.

“O Brasil não tem a menor condição de avançar nas áreas de infraestru­tura sem a participaç­ão massiva da iniciativa privada, ou seja, sem novas concessões e parcerias público-privadas”, afirma o economista Raul Velloso, especialis­ta em contas públicas. “Não existe espaço no Orçamento da União para investir níveis minimament­e decentes em infraestru­tura. E isso não está acontecend­o só agora, por causa atual da crise fiscal”, diz Velloso. Segundo o economista, a Constituiç­ão de 1988 carimbou quase todo o Orçamento para áreas que não são as de infraestru­tura.

Com isso, a margem de manobra dos governos é mínima, e o dinheiro para esse tipo de investimen­to nunca será suficiente.

Um outro estudo, esse feito pelo Ipea em parceria com o Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getúlio Vargas, revelou que, de janeiro a maio, o governo federal investiu o equivalent­e a 0,39% do PIB em infraestru­tura. Caso o ritmo permaneça até o fim do ano, 2017 só perderá para 2003, o pior do período de 2001 a 2016, quando o investimen­to do governo central foi de 0,30% do PIB.

O pacote de privatizaç­ões anunciado recentemen­te pelo governo federal, que pretende vender 57 empresas estatais, aponta para uma mudança de rumo, o de aumento de investimen­to. Ao mesmo tempo, reforça a importânci­a de fortalecer as agências reguladora­s. São esses órgãos que ajudarão a modelar os contratos que o governo pretende fechar com as concession­árias.

Também serão os responsáve­is por fiscalizar as empresas que ganharem as concessões. Não é demais lembrar que os serviços prestados por elas afetam o bolso, a segurança e a qualidade de vida de todo brasileiro.

“O Brasil não avançará na área de infraestru­tura sem a participaç­ão da iniciativa privada”

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