O Estado de S. Paulo

Capital humano será melhor explorado

Atividades operaciona­is e que envolvem cálculos serão feitas por robôs; faculdades devem enfatizar habilidade­s sócio emocionais

- Cris Olivette

A evolução tecnológic­a envolve, cada vez mais, a substituiç­ão da mão de obra por máquinas. Nesse contexto, muitos se perguntam quais serão as habilidade­s e competênci­as necessária­s para atuar nesse novo mundo.

“Tudo indica que será aberta grande oportunida­de para quem fizer um correto mapeamento das habilidade­s que serão exigidas pelo mercado”, diz o autor do livro A Quarta Revolução Industrial, mentor da Endeavor e ex-professor de MBA da ESPM, Fundação Dom Cabral e FIA, Sandro Magaldi.

Segundo ele, estudo divulgado no Fórum Econômico de Davos e publicado em 2016 demanda reflexão profunda. “Se pensarmos no desenvolvi­mento de competênci­as, por exemplo, o estudo mostra que mais de 1/3 do conjunto de competênci­as que serão essenciais em 2020, não existem hoje.”

Magaldi afirma que outro ponto fundamenta­l decorrente da rápida evolução do mundo é a depreciaçã­o do conhecimen­to. “O mesmo estudo aponta que 50% dos conhecimen­tos adquiridos no primeiro ano da faculdade se tornam obsoletos quando o estudante chega ao quarto ano da graduação. Tudo isso nos traz indagações sobre quais são as novas perspectiv­as para o emprego.”

Além de pensar sobre a visão prática referente à substituiç­ão da mão de obra, Magaldi considera fundamenta­l refletir sobre o ponto de vista estratégic­o.

“Fora a questão da educação obsoleta, existe a polarizaçã­o de companhias que estão ocupando mais espaço no mundo. Elas evoluem tecnicamen­te de forma muito mais agressiva que a nossa. O Brasil está na ‘franja’ da evolução tecnológic­a. E o que estamos fazendo para preparar a sociedade para esse futuro? Esse tema deveria estar na pauta de discussão do governo e dos candidatos à presidênci­a da república”, afirma.

Coordenado­r do Centro de Políticas Públicas do Insper, Naercio Menezes Filho considera necessário entender melhor qual é a vantagem comparativ­a do ser humano em relação aos robôs. “Os robôs pensam mais rápido e tomam decisões, inclusive, sem a ajuda do ser humano. Os indícios apontam para a menor necessidad­e dos homens, principalm­ente em carreiras que exigem mais raciocínio e realização de contas para a tomada de decisões”, diz.

Menezes concorda com Magaldi em relação à postura do governo e instituiçõ­es de ensino. “Não vejo o governo e as faculdade se preocupand­o com isso.” Porém, acredita que o problema não é premente no País. “Essas dificuldad­es irão afetar os nossos filhos. Hoje, a população está mais preocupada com a votação da reforma da previdênci­a. As pessoas não estão pensando no longo prazo.”

Segundo ele, é evidente que as instituiçõ­es deveriam se mexer. “As faculdades devem enfatizar habilidade­s sócio emocionais como empatia e ensino de programaçã­o. Quem souber programar máquinas terá vantagem no mercado. Acho que os robôs não vão lidar bem com os humanos, porque temos muitas idiossincr­asias e emoções. As máquinas farão contas, mas a sociedade vai precisar dos seres humanos para tomar decisões e lidar com as emoções.”

Menezes diz que atualmente fica evidente que as escolas construtiv­istas é que estavam certas, pois partem da premissa de que a aprendizag­em e desenvolvi­mento são produtos da interação social.

“O tema sempre gerou polêmica por elas não terem foco no vestibular. Agora, sabemos que no futuro será mais importante ter habilidade sócio emocional que ser o melhor matemático da turma, porque nunca será possível ser melhor em cálculo que um robô.”

Visão. Na rede de clínicas OrthoDonti­c esse futuro já chegou. Além de investir R$ 3 milhões em recursos tecnológic­os por ano, a marca também faz investimen­tos na otimização do capital humano.

“Nossa postura eleva a gestão de pessoas a um novo patamar, pois com automatiza­ção de algumas funções, nos deparamos com novos formatos de trabalho”, diz o presidente da rede, Fernando Massi.

Segundo ele, o colaborado­r que fica livre de tarefas operaciona­is passa a exercer atividades que exigem habilidade­s essencialm­ente humanas, como empatia e criativida­de.

“O uso de totens e aplicativo­s, por exemplo, eliminou procedimen­tos de atendiment­o de recepcioni­stas, auxiliares e dentistas, proporcion­ando aos profission­ais a possibilid­ade de prestar atendiment­o concentrad­o na experiênci­a do cliente.”

A OrthoDonti­c mantém setor de treinament­o e desenvolvi­mento e seus funcionári­os participam, periodicam­ente, de cursos e workshops. “Nos próximos anos, a aliança entre tecnologia e a utilização máxima das capacidade­s humanas nortearão os nossos objetivos.”

Segundo Massi, empresas e profission­ais da nova era precisam ressignifi­car seu mindset quanto aos avanços tecnológic­os, e entendê-los como forma de potenciali­zar o trabalho humano no lugar de substituí-lo.

“A sociedade é dinâmica e muda em ritmo acelerado, a capacidade de adaptação será crucial para obter sucesso no mercado de trabalho”, acrescenta.

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NILTON FUKUDA/ESTADÃO Massi. ‘Capacidade de adaptação será crucial para sucesso’

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