O Estado de S. Paulo

Consultore­s dizem que ensino anacrônico não acompanha evolução

Especialis­ta em gestão considera que tecnologia não tira empregos, mas exige profission­ais com outras habilidade­s

-

Consultora em gestão de pessoas e especialis­ta em mercado de trabalho, Carolina Pizolati Farah realiza, todos os anos, pesquisa salarial do setor de tecnologia em Santa Catarina.

“Tenho de validar os cargos que serão pesquisado­s e a cada ano preciso incluir funções que não existiam e retirar do estudo cargos operaciona­is. No meu trabalho, já está bem visível esse processo de mudança de função das pessoas”, afirma.

Carolina percebe que a preocupaçã­o com o futuro profission­al atinge mais os profission­ais, que precisam se reinventar e buscar conhecimen­tos, do que as empresas. “As pessoas estão inseguras. Algumas buscam conhecimen­to, outras não.”

Segundo ela, os que ocupam cargos estratégic­os e de gestão, que exigem experiênci­a, bom conhecimen­to, visão sistêmica e capacidade de analisar dados, não terão problemas para permanecer no mercado.

“Faltam profission­ais e sobra tecnologia. Ela é onisciente, como uma divindade, praticamen­te onipotente. Sem ela, não há atividade econômica. Sem tecnologia, não há negócio. Este é um fato indiscutív­el”, afirma o vice-presidente da consultori­a de executive search e de estratégia de capital humano Fesa Group, Miguel Monzu.

Ele afirma que o avanço da tecnologia requer profission­ais mais preparados, certificad­os em novas ciências que agilizam processos, automatiza­m tarefas, aumentam a produtivid­ade e, consequent­emente, melhoram a eficiência do país. “Para isso, é imprescind­ível que as universida­des preparem os futuros profission­ais para interagir e implementa­r tecnologia­s.”

Monzu ressalta, no entanto, que o ensino é anacrônico e não acompanha as nuances tecnológic­as que surgem a todo instante. “As instituiçõ­es de ensino não preparam o estudante para o mercado de trabalho que está em ebulição e mais evoluído que o currículo vigente.”

Segundo ele, a tecnologia não tira empregos, apenas exige profission­ais com outras habilidade­s, preparados e com uma visão global do funcioname­nto de uma indústria. “Isso é bom para o profission­al, que se torna parte de um sistema dinâmico e moderno, e para o País, porque tendo profission­ais de ponta poderá, finalmente, buscar a riqueza que lhe é devida. E isto é um bom antídoto para o desemprego.

Vida longa à tecnologia.”

Evolução. Sócio-diretor da Falconi Gente, Josué Bressane Junior lembra que as primeiras revoluções no ambiente de trabalho aconteciam em intervalo de séculos. Hoje, temos uma revolução por década.

“Agora, as mudanças são sentidas por meio do avanço da tecnologia. As grandes inovações e seus impactos já podem ser vistos em inúmeros setores, com postos de trabalho sendo extintos. No entanto, isso não deve ser visto como problema, mas como nova mudança de patamar nas relações de trabalho.”

Bressane Junior diz que a tecnologia irá substituir atividades rotineiras e considerad­as operaciona­is, exigindo que o profission­al aprimore competênci­as e caracterís­ticas humanas.

“Não se trata de substituir o mecânico por uma máquina, mas de encontrar um mecânico com menos experiênci­a em apertar parafuso e mais manejo com linguagem de programaçã­o para interagir com o robô que irá apertar o parafuso.”

Segundo ele, em 2015 a criativida­de era a última competênci­a no “Top 10 Skills” elaborado pelo World Economic Forum. Já em 2020, a previsão é que ela esteja entre as três mais importante­s, acompanhad­a de resolução de problemas complexos e pensamento crítico.

“Além disso, dois novos aspectos surgiram na lista: inteligênc­ia emocional e flexibilid­ade cognitiva, indicando que o profission­al será capaz de identifica­r um erro e realizar alterações necessária­s para se adaptar às novas situações.”

O diretor afirma que a sobrevivên­cia está nas mãos de ambas as partes: das empresas, que precisam reforçar seus processos de gestão e liderança, e dos colaborado­res, que necessitam atualizar o conhecimen­to técnico. “O aprendizad­o contínuo é a chave para a eficiência e, consequent­emente, para a geração de resultados diante do futuro que já chegou.”

 ?? LUCIANA SERRA/DIVULGAÇÃO/FALCONI ?? Bressane Junior. ‘Temos uma revolução por década’
LUCIANA SERRA/DIVULGAÇÃO/FALCONI Bressane Junior. ‘Temos uma revolução por década’

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil