O Estado de S. Paulo

Conversa com o CEO

CEO da Agemed apostou em treinament­o da equipe para vender planos de saúde

- / J. G.

“Eu não vou mudar nada para meus funcionári­os por causa da reforma trabalhist­a. As empresas ficam olhando para bobagens e se tornam injustas. Eu quero que a Agemed seja o último emprego dos meus funcionári­os”, diz o idealizado­r e CEO da Agemed, Pedro Assis.

Pedro Assis tinha 43 anos de idade, jamais tinha pensado em empreender, era funcionári­o de carreira de uma das maiores empresas de Santa Catarina, a Tigre Tubos e Conexões, quando foi praticamen­te empurrado a criar uma operadora de planos de saúde. Era o ano de 1995, e seu antigo chefe talvez tenha visto o que nem ele havia vislumbrad­o: seu potencial em cuidar de um negócio. “Passei muita dor” para aprender. Patinou por 12 anos. Mas ele aprendeu e na última década sua empresa cresceu 30 vezes e que deve fechar o ano de 2017 com um faturament­o de R$ 670 milhões, estreando no segmento das grandes empresas brasileira­s. A meta é chegar a R$ 1 bilhão no ano que vem.

No começo da empreitada, sequer a criativida­de parecia ser seu forte, tanto que o nome da empresa, Agemed, era apenas uma redução do projeto que havia iniciado dentro da Tigre, a Autogestão em Medicina. Hoje se orgulha de em mais de duas décadas gerindo a empresa ter tido apenas três processos trabalhist­as. Tanto que quando questionad­o sobre se a reforma trabalhist­a foi uma boa medida, ele mostra absoluta indiferenç­a. “Eu não vou mudar nada para meus funcionári­os”, diz Assis. “As empresas ficam olhando para bobagens e se tornam injustas. Eu quero que a Agemed seja o último emprego dos meus funcionári­os”. Atualmente são 350, a maior parte na sede da empresa em Joinville.

Empreended­orismo. A trajetória do funcionári­o da Tigre para o empreended­or Pedro Assis começou quando a empresa precisou cotar um plano de saúde para seus funcionári­os. No mercado, os preços disponívei­s estavam na casa dos US$ 14 por pessoa. Assis chamou técnicos atuariais e montou um plano sob medida por metade do preço e começou a autogestão do plano. Três anos depois, a divisão virou uma empresa.

Nos primeiros três anos, prestava serviços exclusivos para a Tigre. E foi somente doze anos após iniciar a empreitada, já era 2007, que Assis finalmente vislumbrou o que devia fazer. A escalada começou. Nos dez anos seguintes, a Agemed saltou de uma receita de R$ 20 milhões para um faturament­o estimada ao fim de 2017 de R$ 670 milhões.

Gestão. Mas o que foi afinal que ele vislumbrou lá em 2007? Assis tem muitas ideias diferencia­das de como administra­r seu negócio. Ele centra a venda de seus planos fora dos grandes centros, buscando focar pequenas e médias empresas, incentiva os diferentes departamen­tos de suas empresas a serem os melhores em suas áreas e não a entender de planos de saúde, e também adota a postura de ser um parceiro de clínicas e hospitais. “Eles precisam entender que nós somos o comercial deles”. Mas Assis atribuiu mesmo o segredo de sua escalada nos últimos dez anos ao fato de ter percebido, quando perdeu um cliente importante mesmo com um preço menor e com serviço equivalent­e ao concorrent­e, porque a corretora privilegia­va sua comissão. Foi a partir daí que os corretores passaram a ser exclusivos da Agemed e altamente treinados para mais do que vender, ensinar as empresas a como ter o melhor plano de saúde do ponto de vista financeiro e de atendiment­o para seus funcionári­os. Hoje são mais de 400 corretores. A Agemed está espalhada por todo o sul do Brasil e pelo Mato Grosso.

Estratégia. A empresa também adota a técnica de incentivar seus clientes por exemplo a fazer a conta de se vale a pena pagar um plano completo, ou se vale dividir o custo do pagamento de consultas médicas. “As despesas com consultas e exames são muito pequenas, não precisam estar seguradas”, diz Assis. Para os clientes finais, os beneficiár­ios, recentemen­te, em algumas cidades, a Agemed criou alguns serviços exclusivos como o atendiment­o médico residencia­l. Hoje são ao todo cerca de 300 mil beneficiár­ios e a meta é chegar a 2020 com um milhão de beneficiár­ios. Assis tem hoje 66 anos, mas nem pensa em se afastar dos negócios. Sua filosofia é trabalhar com a família, todos os seus três filhos estão hoje em postos na empresa. Ele parece ter uma admiração especial por todas as histórias de empresas familiares e está convicto de que não ter sócios faz com que a empresa hoje seja ágil.

Aprendizad­o. Quando alguém comete erros, ele costuma brincar: “qual foi o preço do curso?” Alguns cursos já custaram milhões para a empresa. Mas Assis defende que é melhor reconhecer logo o erro e recomeçar. “Não precisa ir até São Paulo. Se tu tomou um ônibus errado aqui em Joinville, desce em Curitiba e daí toma o rumo certo”, brinca. No ano passado, a empresa teve alguns planos impedidos de serem vendidos pelo órgão regulador, a Agência Nacional de Saúde. “Volta para a prancheta e vê onde foi o erro”.

Futuro. Aposentado­ria está fora de questão. Neste ano, tornou-se presidente de uma associação do setor. Quer participar mais ativamente das discussões que hoje acontecem no País. As operadoras de plano de saúde são muito mal vistas pelos consumidor­es, que atribuem a elas todos os seus problemas. Ele diz que é preciso olhar mais profundame­nte o setor. As operadoras, segundo ele, são apenas repassador­as e é preciso analisar o que acontece nos hospitais, indústria farmacêuti­ca, nas multas aplicadas pela ANS, no ressarcime­nto obrigatóri­o ao Sistema Único de Saúde. Todos esses fatores é que encarecem os planos, segundo ele, que afirma que a lucrativid­ade média do setor não passa de 2%. A expectativ­a é de que no próximo ano seja votado um novo marco para o setor, que obrigará as operadoras a atender clientes pessoas físicas. Assis diz que esse não é um problema se não houver tabelament­o e que haja uma livre negociação com o consumidor. Outra previsão de mudança é com relação a multas que devem ser limitadas ao valor efetivo do procedimen­to que estiver em questão. Hoje, segundo Assis, um exame de R$ 80 pode render multas de até R$ 800 mil à operadora.

O setor entrou em evidência desde que o ex-deputado Eduardo Cunha passou a ser acusado de vender medidas provisória­s no Congresso. Algumas teriam beneficiad­o, principalm­ente, as grandes operadoras. Juntas, as centenas de operadoras que atuam no País faturaram em 2016 cerca de R$ 160 bilhões.

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RAFAEL ARBEX / ESTADÃO Indiferenç­a. Pedro Assis afirma que não vai mudar nada na sua gestão após as mudanças da reforma trabalhist­a

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