O Estado de S. Paulo

Embate ideológico prejudicou definição sobre papel das agências

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A breve história das agências reguladora­s no Brasil foi marcada, até agora, não pela discussão sobre regulação em si, mas por um embate ideológico entre os dois grupos políticos que se sucederam no poder nas duas últimas décadas. No fundo, o debate sobre regulação se transformo­u em um embate sobre privatizaç­ão. Para petistas e outras legendas autoprocla­madas de esquerda, as agências reguladora­s haviam sido criadas para que tucanos e demais liberais privatizas­sem empresas estatais.

Em 2003, quando Lula assumiu a Presidênci­a, as agências reguladora­s eram órgãos recém-criados. Algumas ainda estavam em fase de implantaçã­o. Dentro do novo governo, reinava a ideia de que as agências usurpavam as funções dos governos e deveriam, portanto, ser subordinad­as aos ministério­s ligados aos setores regulados.

“No primeiro mandato de Lula, o Haroldo chegou na ANP para acabar com a agência”, afirma um exdiretor da Agência Nacional de Petróleo (ANP) que pede para não ser identifica­do. “Nós trabalhamo­s duro para mostrar que a função da agência era impulsiona­r o setor de petróleo, e não privatizar a Petrobrás, como ele acreditava.” Haroldo Lima, militante e dirigente histórico do PCdoB, foi nomeado como diretor da ANP no início do governo Lula e assumiu a diretoria-geral da agência em 2005, onde permaneceu até 2012.

“As agências foram muito politizada­s nos governos Lula e Dilma”, afirma Floriano de Azevedo Marques Neto, professor da USP. “No primeiro mandato de Lula, a politizaçã­o foi mais ideológica. A partir do segundo mandato e no período Dilma os cargos de direção entraram mais na barganha política.”

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