O Estado de S. Paulo

A ESTRATÉGIA DE QUEM NÃO QUER A REFORMA

Se cada um dos 267 sindicatos ligados a servidores conseguir um voto, proposta não passa na Câmara

- A.F. e I.T.

Alvos do combate a privilégio­s, categorias de servidores intensific­aram a pressão sobre os deputados na última semana para tentar desidratar ainda mais a proposta de reforma da Previdênci­a, mantendo o direito à aposentado­ria com o último salário da carreira. Eles dizem que a mudança nas regras para quem ingressou até 2003 viola um direito adquirido.

O corpo a corpo incluiu protestos barulhento­s na quadra 302 norte, em Brasília, onde ficam imóveis funcionais usados por deputados, na Câmara e no aeroporto. Na sessão em que o relator da reforma, deputado Arthur Oliveira Maia (PPSBA), discursou sobre a proposta, parlamenta­res da oposição cantaram vitória e atribuíram à pressão das categorias o fato de o governo ter adiado a votação para fevereiro de 2018.

“O governo insiste em demonizar o serviço público e está desconside­rando um direito adquirido”, diz o presidente do Sindicato Nacional dos Auditores da Receita Federal (Sindifisco), Claudio Damasceno.

Para o presidente da Associação Nacional dos Procurador­es da República, José Robalinho, é “bode expiatório” a propaganda do governo que taxa a aposentado­ria dos servidores como privilégio. Ele vê, porém, como um aceno positivo a disposição do governo de reabrir a negociação. “Esse tipo de argumento parece ser apenas uma cortina de fumaça para outros interesses, para aprovar uma reforma que vai ser nociva para o conjunto dos trabalhado­res”, afirma o presidente da Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe), Roberto Veloso.

Os servidores têm grande poder de pressão sobre os parlamenta­res por conta da representa­tividade sindical. São 267 sindicatos e associaçõe­s para cuidar dos interesses dos funcionári­os públicos da União. Se cada uma conseguir atrair o voto de um deputado, já há apoio de mais da metade da Câmara para a defesa de suas causas.

Servidores estaduais também marcam de perto os parlamenta­res de suas regiões, já que a reforma também atingirá Estados e municípios. Recém-empossado no posto de articulado­r político, o ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, reafirmou a intenção do governo de continuar negociando, mas adiantou que não há compromiss­o de mais flexibiliz­ações. “O governo não aceita mudança na espinha dorsal, que é o fim dos privilégio­s.”

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IGOR GADELHA/ ESTADAO Barulho. Servidores esperam deputados no aeroporto
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Vídeo. Sindicatos fazem, em Brasília, ato de protesto
NA WEB Vídeo. Sindicatos fazem, em Brasília, ato de protesto

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