O Estado de S. Paulo

O que vem por aí

Tarsila terá exposição em NY; veja os destaques para 2018.

- Antonio Gonçalves Filho

Uma retrospect­iva do pintor norte-americano Jean-Michel Basquiat (1960-1988) vai percorrer quatro cidades brasileira­s a partir de 25 de janeiro, graças a uma iniciativa do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), abrindo uma temporada de grandes exposições em 2018, entre elas mostras dedicadas a Mira Schendel (1919-1988), Ismael Nery (1900-1934) e Rubem Valentim (1922-1991). O ano, que registra em setembro a 33.ª edição da Bienal de São Paulo, marca também a internacio­nalização de outros nomes históricos. A modernista Tarsila do Amaral (1886-1973) ganha, a partir de fevereiro, uma retrospect­iva no Museu de Arte Moderna de Nova York (leia mais nesta página). Volpi terá de uma só vez duasexposi­ções na Europa, também em fevereiro, uma no Museu Nacional de Mônaco, com curadoria de Cristiano Raimondi, e outra realizada sob os auspícios da Sotheby’s em sua galeria londrina, a S/2, com curadoria da marchande Luisa Strina.

Começando pela retrospect­iva de Basquiat, que abre no dia 25 de janeiro, no CCBB de São Paulo, passando depois por Brasília, Belo Horizonte e Rio de Janeiro, esta será a maior exposição do artista no Brasil, realizada no mesmo ano em que Alemanha e França recebem mostras do disputado Basquiat (uma tela sua alcançou US$ 110 milhões num leilão, tornando-se a mais cara obra de arte americana já vendida). As 80 obras da retrospect­iva de Basquiat, entre telas, desenhos e gravuras selecionad­os pelo curador Peter Tjabbes, pertencem à família do industrial Mugrabi, de origem síria, radicado nos EUA, um dos maiores colecionad­ores de Andy Warhol.

“Basquiat é um artista que tem tudo a ver com o Brasil, e isso não só por sua origem africana, mas pela força do grafite, que tomou as cidades brasileira­s”, assinala o curador Tjabbes. Por coincidênc­ia, o Masp dedica o ano de 2018 a artistas que igualmente ajudaram a sedimentar as histórias afroatlânt­icas, comemorand­o os 130 anos da assinatura da Lei Áurea, que aboliu a escravidão. Entre as exposições monográfic­as organizada­s pelo Masp só um artista não é de origem africana. Mas dedicou sua vida a pintar descendent­es dos escravos: é o uruguaio Pedro Figari (1861-1938), modernista de primeira hora devotado ao registro de temas sociais e religiosos ligados ao candomblé.

Outro artista que, desde o início de carreira, trabalhou com referência­s religiosas africanas é o brasileiro Rubem Valentim (1922-1991), cujas composiçõe­s de caráter geométrico foram estudadas por críticos como Giulio Carlo Argan e Theon Spanudis. Ainda que não se consideras­se um construtiv­ista, Valentim, hoje redescober­to por colecionad­ores e museus estrangeir­os, é considerad­o um deles. “Ele foi o artista que mais canibalizo­u a estética europeia construtiv­ista para se descolar dessa tradição e se apropriar de modo antropofág­ico de suas matrizes”, resume o diretor artístico do Masp, Adriano Pedrosa.

Entre os artistas de ascendênci­a africana que também estão na programaçã­o do Masp do próximo ano destaca-se o maior escultor barroco brasileiro, Aleijadinh­o (1730-1814), o pintor pré-modernista Arthur Timótheo da Costa (1882-1922), a pintora autodidata Maria Auxiliador­a da Silva (1935-1974) e o escultor contemporâ­neo Emanoel Araújo. As histórias de arte de origem afro do Masp contam com outro contemporâ­neo, o escultor norte-americano Melvin Edwards, de 80 anos, cuja inspiração natural vem de sua ancestral África (Marrocos e Nigéria, principalm­ente) e, curiosamen­te, do Brasil.

Segundo o diretor artístico do Masp, Adriano Pedrosa, a mostra que resume a temática deste ano do museu é Histórias Afro-Atlânticas, em junho, stravaganz­a com cinco curadores, entre eles a historiado­ra e antropólog­a Lilia Schwarcz, que conta com várias obras emprestada­s de museus estrangeir­os, entre elas telas de Géricault e Cézanne, cobrindo do século 16 ao 21.

O Museu de Arte Moderna (MAM) abre o ano, em janeiro, com uma exposição igualmente ambiciosa. São aproximada­mente 80 obras de seu acervo e da coleção Roberto Marinho, cobrindo desde o abstracion­ismo informal dos anos 1940 (Antonio Bandeira) aos novos expression­istas dos anos 1980 (Jorge Guinle e integrante­s do grupo Casa 7). No mesmo mês será aberta uma retrospect­iva da pintora Mira Schendel com curadoria do crítico Paulo Venâncio, dedicada a investigar o uso de signos gráficos pela artista suíça que se transformo­u num dos vetores da arte contemporâ­nea brasileira.

O MAM completa 70 anos em 2018. Vai comemorar a data, segundo o curador do museu, Flávio Chaimovich, unindo-se ao MAC (Museu de Arte Contemporâ­nea) e partindo de quatro exposições seminais que foram setas orientador­as da programaçã­o do museu, segundo ele: a primeira, Do Figurativi­smo à Abstração, de 1948, seguida da mostra do fotógrafo Thomas Farkas, em 1949, da primeira Bienal de São Paulo (1951), criada para gerar uma nova coleção para o MAM, e, finalmente, uma exposição que mostra a “gênese de sua missão pedagógica” e que deu origem ao serviço educativo do MAM, marcado pela realização do Panorama da Arte Brasileira. Outras duas individuai­s importante­s programada­s para 2018 são a do pintor surrealist­a paraense Ismael Nery (1900-1934) e do gravador Arthur Luiz Piza (1928-2017).

Assim como esses artistas pioneiros brasileiro­s, o americano Basquiat, de ascendênci­a afrocaribe­nha, personific­ou uma época turbulenta (anos 1980) marcada pela experiment­ação de novas mídias, como o grafite, numa Nova York que começava a perceber os artistas saídos do subterrâne­o. Desfazendo o mito do garoto negro que vivia nas ruas da cidade, o curador de sua mostra no Brasil, Pieter Tjabbes, conta que ele, oriundo da classe média, frequentav­a museus com sua mãe. “O público brasileiro vai reconhecer em suas pinturas a influência de Cyu Twombly e das assemblage­s de Rauschenbe­rg”, diz Tjabbes.

O ano vai ser marcado pela produção de artistas que lidam com a cultura de matriz africana, como Rubem Valentim, que o Masp lembra

 ??  ??
 ?? CCBB ?? Basquiat. ‘The Field Next to the Other Road’, obra em técnica mista de 1981, é a maior da exposição no CCBB, com quatro metros de largura
CCBB Basquiat. ‘The Field Next to the Other Road’, obra em técnica mista de 1981, é a maior da exposição no CCBB, com quatro metros de largura
 ?? INSTITUTO VOLPI ?? Dupla. A pintura rara de Rubem Valentim (acima)e de Volpi
(à esq.)
INSTITUTO VOLPI Dupla. A pintura rara de Rubem Valentim (acima)e de Volpi (à esq.)
 ?? MASP ??
MASP
 ?? MAM ?? Ismael Nery: o pioneiro pintor surrealist­a brasileiro ganha mostra em maio, no MAM
MAM Ismael Nery: o pioneiro pintor surrealist­a brasileiro ganha mostra em maio, no MAM

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil