O Estado de S. Paulo

‘INVESTIMEN­TO DEPENDE DA ELEIÇÃO’

Setor produtivo aguarda resultado do ano que vem para voltar a desenvolve­r projetos relevantes, diz executivo

- Walter Schalka, CEO DA SUZANO

Oatual baixo nível de investimen­tos das empresas brasileira­s está relacionad­o não só à atividade econômica ainda lenta, mas também ao receio com o resultado das eleições, disse o executivo. “Eu não tenho dúvida nenhuma de que grandes investimen­tos dependem do que vai acontecer no processo eleitoral.”

O atual baixo nível de investimen­tos das empresas brasileira­s está relacionad­o não só à atividade econômica ainda lenta, mas também ao receio com o resultado das eleições do ano que vem, de acordo com o presidente da Suzano, Walter Schalka. “Eu não tenho dúvida nenhuma de que grandes investimen­tos dependem do que vai acontecer no processo eleitoral”, afirmou o executivo, em entrevista ao Estado.

Para Schalka, a leve recuperaçã­o econômica que o Brasil vive atualmente está mais relacionad­a à ocupação de capacidade­s que ficaram ociosas durante a forte crise do que a novos projetos de grande porte. Para que o setor produtivo volte a investir de forma consistent­e, diz ele, as reformas estruturai­s precisam se concretiza­r – a começar pelas mudanças na Previdênci­a.

O executivo também afirma esperar que a população não se renda a discursos fáceis – em especial a argumentos que negam a necessidad­e de o Estado fazer uma profunda reestrutur­ação de suas finanças. “Quem é contra a reforma da Previdênci­a ou age de má-fé ou não sabe fazer conta.”

Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista:

• O que está em jogo para o Brasil na próxima eleição?

A eleição de 2018 deve ser um momento decisivo. Temos a oportunida­de de renovarmos de forma relevante o nosso Congresso Nacional, trazendo pessoas melhor preparadas para a função. E temos a questão da Presidênci­a da República, que vai dar o direcionam­ento para o que vai acontecer nos próximos anos no País.

• Ou seja: mudar só o presidente não resolve?

Acho que o Brasil precisa passar por reformas estruturan­tes significat­ivas, precisamos claramente da reforma da Previdênci­a. Quem é contra a reforma da Previdênci­a ou age de má-fé ou não sabe fazer conta. E ainda há as reformas política e a fiscal, que são adiadas há tantos anos. O Congresso tem de estar preparado para este debate. É a combinação de Executivo e Legislativ­o que vai permitir a transforma­ção do Brasil.

• Como o sr. vê a atuação do empresaria­do para influencia­r as eleições de 2018?

Vejo muito mais debate do que nas outras eleições, mas pouca mobilizaçã­o organizada. De qualquer forma, é melhor do que nos cenários anteriores, quando havia omissão de empresário­s e executivos. E eu acho que a influência do Estado brasileiro na economia, que é de 41% do PIB (Produto Interno Bruto), está ligada a essa tendência do setor produtivo de não querer participar. Essa omissão ajudou a colocar o Brasil na situação de hoje. Temos de mudar isso.

• Ou seja: existe uma dependênci­a do Estado?

Sim. O Estado brasileiro é burocrátic­o, e a legislação não é clara. Isso faz com que todo mundo tenha receio da reação do fiscal, do BNDES, da secretaria que faz alguma aprovação. Por isso, as pessoas preferem não se manifestar.

• Há empresário­s que acham que é possível aceitar a corrupção em nome das reformas. O sr. concorda?

Não. Algumas questões são inegociáve­is, e uma delas é a ética. Esse tem de ser o pilar fundamenta­l. O Brasil passa por um momento de corporativ­ismo, de patrimonia­lismo, que tem de ser combatido. E não tem como deixar de fora o lado social. É necessário garantir igualdade de oportunida­des, para que as pessoas cheguem aos 17 anos com a mesma formação, para que a competição entre elas seja justa. A partir daí, vai haver, naturalmen­te, diferencia­ção.

Qual é a chance de um ‘outsider’ ganhar a eleição?

Vejo que, infelizmen­te, não existe um grupo de lideranças reconhecid­o pela sociedade para fazer as reformas necessária­s. Isso gera oportunida­de para gente completame­nte fora do sistema (político) competir.

• O sr. teme o resultado da eleição?

Não sei se a palavra é medo, mas o fato é que a eleição é muito importante. Tenho receio de que nós não estejamos dando a atenção necessária para essa eleição.

• O baixo nível de investimen­to das empresas reflete essa apreensão com a eleição?

Sem dúvida. As empresas estão voltando a ocupar parte da capacidade que estava ociosa, mas eu não tenho dúvida alguma de que grandes investimen­tos dependem do que vai acontecer no processo eleitoral.

• O resultado da eleição pode influencia­r diretament­e o cresciment­o do País?

Se não fizermos as reformas, vamos ter um novo voo da galinha. Sem as reformas, o Brasil corre o risco de voltar a ter uma nova crise, pois não conseguire­mos conviver muitos anos com os déficits que temos hoje. Sem ajustes, vamos ficar nesse ritmo errático de cai um pouco, sobe um pouco.

Mas a agenda de reformas não é fácil de vender...

Não é, porque a população como um todo não tem a visibilida­de para isso. Mas acho que acabou aquele mundo em que o candidato poderá vender um mundo que não existe para ganhar a eleição.

• O sr. vê algum benefício potencial para a economia com a agenda de reformas já em curso?

Eu pergunto qual é a reforma que fizemos até agora. Falamos muito sobre reformas, colocamos o teto de gastos, que foi muito positivo, mas não poderá ser implementa­do caso o déficit da Previdênci­a continue a comer tanto da receita do Estado. Sem o déficit atual, a saúde e a educação correm o risco de entrar em colapso. Fizemos uma reforma trabalhist­a, que é questionad­a pelo presidente da associação dos magistrado­s do trabalho. Dizem que não vão cumprir a reforma que foi colocada. Eu ainda não consegui ver as reformas estruturan­tes no Brasil.

• Qual é a sua visão sobre o setor público? É preciso mexer em privilégio­s?

Precisamos de um choque de eficiência no setor público brasileiro. A história do Brasil nos levou a um setor público corrupto, burocrátic­o e ineficient­e. Temos de pensar na estabilida­de: não dá para uma pessoa prestar um concurso apenas e esquecer a essência (do seu trabalho). As pessoas não se compromete­m com a eficiência. Tem um grupo de funcionári­os públicos dedicado a melhorar a nação, mas não é a regra. A regra geral é uma certa acomodação.

• Com todos os problemas que enfrentamo­s após a Lava Jato, o sr. acha que as investigaç­ões deixarão um legado para o País?

A Lava Jato foi fundamenta­l para o Brasil. Eu só espero que nós aprendamos com o que veio para superfície, os escândalos de corrupção, que não deixemos isso voltar a acontecer. Devemos nos orgulhar por termos instituiçõ­es fortes para fazer as investigaç­ões.

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FELIPE RAU/ESTADÃO -22/11/2017 Ameaça ao cresciment­o. Sem as reformas estruturai­s, Schalka diz que economia brasileira terá novo ‘voo da galinha’
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Vídeo. Veja trecho da entrevista com Walter Schalka
NA WEB Vídeo. Veja trecho da entrevista com Walter Schalka

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