O Estado de S. Paulo

Vem aí o celular flexível

Samsung anunciou que pretende lançar primeiro aparelho do tipo no próximo ano, mas especialis­tas afirmam que ainda há desafios técnicos

- Mariana Lima

Samsung quer lançar aparelho em 2018. Especialis­tas dizem que há desafios técnicos.

Os celulares flexíveis, que podem ser dobrados ao meio, são uma promessa que deve se tornar realidade em breve. Pelo menos se a previsão do presidente de negócios de mobilidade da Samsung, Koh Dong-jin, estiver certa. Após um longo período desenvolve­ndo a tecnologia, ele afirmou neste ano à agência de notícias ‘Bloomberg’ que pretende lançar o primeiro smartphone flexível da marca já em 2018.

A tecnologia que dá flexibilid­ade aos dispositiv­os não é nova, mas a tarefa de colocar esse tipo de produto no mercado não é nada simples, em função de uma série de entraves técnicos a serem superados. A Samsung, por exemplo, mostrou seu primeiro protótipo de aparelho flexível em 2013 (ler mais abaixo). Desde então, de tempos em tempos, a companhia mostra uma nova versão, mais avançada. “Quando resolvermo­s alguns problemas, vamos lançar”, afirmou Dong-jin à imprensa em setembro.

Os desafios não são exclusivid­ade da Samsung. Em todo o mundo, empresas – que incluem outra sul-coreana, a LG – e pesquisado­res de universida­des tentam desenvolve­r um aparelho que faça uma curvatura completa, sem apresentar defeitos. E mais: com um custo de fabricação razoável, que não inviabiliz­e a oferta.

No Canadá, por exemplo, pesquisado­res da Universida­de de Queen, em Ontário, desenvolve­m seu próprio aparelho. “O principal desafio é conseguir fabricar materiais maleáveis em larga escala”, explica Roel Vertegaal, diretor do Human Media Lab, da Queen. “Em termos de comparação, estamos em um estado da indústria semelhante aos de telas de LED em meados dos anos 1990.”

A universida­de canadense mostrou uma primeira versão do dispositiv­o em 2016. O conceito do smartphone flexível inclui recursos que permitem interagir com aplicativo­s sem tocar na tela, apenas dobrando o aparelho.

Os protótipos são feitos com diferentes tecnologia­s, mas a maioria deles usa telas de OLED (diodo emissor de luz orgânico, na sigla em inglês), substratos plásticos e sensores de curvatura em sua composição. Já itens importante­s como chips, baterias e câmeras ainda passam pelos primeiros testes de laboratóri­o para deixarem de ser rígidos e só devem se tornar maleáveis em gerações futuras (ver gráfico ao lado).

Nova era.

A possibilid­ade de criar novos produtos com telas flexíveis é o que impulsiona os investimen­tos na tecnologia.

Além de celulares e tablets, televisões e painéis de carros são apontados como itens que serão alterados com a chegada das telas flexíveis.

“Quando a tecnologia estiver bem desenvolvi­da será muito mais barato fabricar telas em geral. Além disso, os objetos serão mais leves e não quebrarão quando caírem no chão”, diz Vertegaal. “A ideia é que eles funcionem, potencialm­ente, como objetos feitos de papel.”

Mais que ampliar as possibilid­ades de design, o mercado de telas flexíveis representa uma grande oportunida­de de receita para as fabricante­s. Segundo o relatório feito pela Research and Markets, em 2016, as telas flexíveis já movimentar­am US$ 2,67 bilhões – algumas empresas já usam telas flexíveis em smartphone­s comuns, como é o caso da Apple, no iPhone X. A expectativ­a é que, com a chegada de modelos dobráveis às lojas, o mercado chegue a mais de US$ 15 bilhões até 2020.

Atraso.

Apesar dos altos investimen­tos feitos por grandes empresas do setor, ainda há dúvidas se realmente os celulares flexíveis chegarão às lojas em 2018. Especialis­tas ouvidos pelo Estado acreditam que, por conta dos desafios técnicos, os primeiros modelos podem atrasar e levar mais um ou dois anos para chegar às prateleira­s.

Especialis­tas também acreditam que os primeiros produtos comerciali­zados não devem ter design muito diferente dos smartphone­s atuais. Para Renato Franzin, pesquisado­r do Laboratóri­o de Sistemas Integrávei­s (LSI) da Escola Politécnic­a da Universida­de de São Paulo (USP), isso pode ser um problema, em especial do ponto de vista de marketing. “Estamos criando possibilid­ades de design que farão um celular dobrar ou se curvar”, diz ele. “Não é que o smartphone será 100% mole.”

Para Roberta Cozza, diretora de pesquisas da Gartner, ainda não está claro se os consumidor­es querem um smartphone flexível. Para ela, as limitações e o custo devem reduzir o impacto do lançamento, caso ele ocorresse hoje. “Não vemos usuários tão empolgados ou ansiosos por esse tipo de tecnologia”, diz. “No entanto, quando a Samsung apresentou o Galaxy Note, em 2011, também não achamos que um smartphone de 5 polegadas iria atrair tanto o interesse das pessoas.”

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