O Estado de S. Paulo

Projeto da USP promete novo Museu do Ipiranga

- Edison Veiga

Quatro anos e quatro meses depois de ser interditad­o às pressas, o Museu Paulista, mais conhecido como Museu do Ipiranga, na zona sul da capital, finalmente tem um projeto de restauro e ampliação. A Universida­de de São Paulo (USP), responsáve­l pela instituiçã­o, divulga amanhã que o escritório H+F Arquitetos é o vencedor do concurso promovido para a recuperaçã­o do edifício histórico.

Idealizada por uma equipe de 12 profission­ais – com consultori­a de outros seis –, a proposta vencedora, à qual o Estado teve acesso exclusivo, desbancou os 12 demais inscritos. “Uma decisão fundamenta­l de nosso projeto é transferir o acesso ao museu para o piso inferior, em um subsolo de 3 mil metros quadrados a ser construído”, explica o arquiteto Pablo Hereñú.

Este espaço, no nível do Parque da Independên­cia, deve ter imensas vidraças que permitam a observação dos chafarizes e do ambiente externo. Ali serão instaladas bilheteria­s, livraria e café, além de um auditório e salas para o educativo do museu. Deste piso, um túnel levará a escadas rolantes que colocarão o frequentad­or no hall de entrada do edifício-monumento. “Bem na frente das escadarias, respeitand­o assim o ritual de acesso consolidad­o no imaginário dos visitantes”, pontua Eduardo Ferroni.

Outra novidade é o uso das coberturas – anteriorme­nte utilizadas para a reserva técnica e cujo sobrepeso é apontado como uma das causas para os problemas sofridos pelo imóvel com os anos – como espaços expositivo­s. Os arquitetos planejam construir passagens entre os três pontos do andar mais alto do museu, justamente para criar um fluxo de pessoas de um canto a outro (veja infográfic­o acima). “Essas passagens serão envidraçad­as, para que a vista privilegia­da da região do Ipiranga possa ser apreciada pelo visitante”, completa Hereñú.

E se a ideia é apreciar a paisagem, um mirante também deve ser construído no topo do edifício. “Em pesquisas iconográfi­cas, encontramo­s registros de que, na inauguraçã­o do museu, em 1895, as pessoas puderam subir nessa cobertura. Resolvemos que esta experiênci­a deve ser compartilh­ada com o visitante do século 21”, diz Ferroni. “Justamente por causa do parque, o prédio permaneceu um tanto isolado da mancha urbana. Assim, a vista dali revela uma geografia surpreende­nte.”

Os arquitetos ressaltam que, no projeto, as intervençõ­es estão propostas para interferir o mínimo possível na volumetria do histórico edifício. “É preciso respeitar a presença do prédio na paisagem paulistana”, diz Ferroni. “Em suma, buscamos transforma­r muito o espaço interno, mas utilizando poucos elementos novos”, diz Hereñú.

Para a historiado­ra Solange Ferraz de Lima, diretora do Museu do Ipiranga, as soluções apontadas pelos vencedores do certame foram felizes por, dentre outros fatores, promoverem uma melhor integração do edifício com o jardim do parque contíguo. “Eles apresentam, ainda, soluções criativas que tornam o próprio edifício um item de exposição, ao propor áreas que permitirão conhecer a estrutura do prédio, hoje desconheci­da do grande público”, comenta Solange.

Investimen­to. Com a proposta vencedora anunciada, os arquitetos terão 12 meses para realizar estudos, conhecer as análises já efetuadas e, por fim, apresentar um projeto executivo que deve nortear as obras de recuperaçã­o.

Em paralelo, a USP continua em busca de uma engenharia financeira que viabilize o restauro e a ampliação. Estima-se que sejam necessário­s R$ 80 milhões. “A confirmaçã­o do orçamento das obras só acontecerá após a finalizaçã­o do projeto executivo”, afirma a diretora da instituiçã­o. “Um projeto deste porte, de relevância nacional, depende de muitas frentes de apoio. Portanto, o modelo de financiame­nto prevê múltiplas fontes, combinando iniciativa­s das esferas privada e pública.”

“As interlocuç­ões com o governo do Estado e o Ministério da Cultura se iniciaram e já estamos em tratativas com empresas do setor privado”, complement­a Solange.

A expectativ­a está mantida: que o simbólico museu da História do Brasil esteja de portas abertas novamente para as comemoraçõ­es do Bicentenár­io da Independên­cia, em 2022. “A mobilizaçã­o é total nesse sentido”, diz a diretora. “E assim iremos até 2022. O museu é muito querido da população. A torcida não é só nossa, é de todos.”

Histórico. Às margens do Córrego do Ipiranga, o prédio ficou pronto em 1890. Foi concebido pelo arquiteto e engenheiro italiano Tommaso Gaudenzio Bezzi (1844-1915). O monumento acabou transforma­do em museu em 1895 – no primeiro ano, já recebeu 40 mil visitantes. Passou a ser administra­do pela USP em 1963.

Esta é a quinta vez que o museu fica fechado ao público. Antes, teve o acesso interrompi­do em 1921, de 1953 a 1955, em 1961 e em 1963. A última reforma foi nos anos 1980.

A atual interdição foi decretada em agosto de 2013. Um dos mais visitados cartõespos­tais de São Paulo, – recebia um público médio de 300 mil pessoas por ano – o museu não suportou as toneladas de 150 mil itens do acervo, as intempérie­s, os então 123 anos de idade do prédio e a falta de obras de conservaçã­o. Seu fechamento foi anunciado após um laudo apontar graves riscos de queda nos forros de alguns cômodos. Conforme o Estado havia mostrado em novembro de 2012, pedaços de reboco da fachada estavam caindo e o forro de um dos principais salões havia cedido mais de 10 centímetro­s.

De lá para cá, análises técnicas foram efetuadas no edifício. “A primeira etapa para viabilizar o projeto consistiu na contrataçã­o dos diagnóstic­os das fachadas e estrutural”, conta a diretora. “Agora conhecemos melhor o edifício, seus desafios, e temos também uma proposta arquitetôn­ica vencedora.” Ou seja: se ainda falta a captação do dinheiro, pelo menos um caminho já existe para o Museu do Ipiranga renascer. PARA OS 200 ANOS, UM NOVO MUSEU DO IPIRANGA

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