Três gerações de uma família lutam pelo bairro
Walter Taverna foi um dos responsáveis pelo tombamento da Bela Vista; sua filha e sua neta continuam engajadas
O comerciante Walter Taverna, de 84 anos, é um dos responsáveis pelo tombamento da Bela Vista. Na década de 1990, o bairro ainda se mantinha preservado em relação à configuração original, mas as características começavam a ser modificadas, o que fez com que moradores e instituições locais pedissem seu tombamento. Taverna foi um deles. “Era um tempo de muita especulação imobiliária. Eu consegui o tombamento. E não tenho estudo nenhum, hein?”, diz o comerciante, rindo.
Fundador da Sociedade de Defesa das Tradições e Progresso da Bela Vista, Taverna criou a Festa da Nossa Senhora de Achiropita com o formato que tem hoje. Também é conhecido por ter feito um bolo do aniversário de São Paulo, de 1,5 km, a maior pizza – de 554 metros de comprimento – e o maior sanduíche – de 600 metros.
Quase 20 anos depois, uma das responsáveis pelo “novo Bexiga” é a terceira geração de seu Taverna: a neta Thaís. Cineasta de 35 anos, ela se engajou em causas sociais e culturais relacionadas ao bairro sem perder de vista a preservação das tradições. Dedicação. Segundo ela, inspirada no avô, resolveu se dedicar pessoal e profissionalmente à região onde nasceu e mora até hoje, onde ajuda a cuidar do Museu Memória do Bexiga, criado por Taverna.
“Tive um estalo sobre a importância do bairro e do meu avô para a região cinco anos atrás. Olhei para o samba, a música na rua, os teatros, as casas tombadas, os museus, meu avô e pensei: Tem alguma coisa aqui”, conta. Ela se emociona ao lembrar que na década de 1990 o avô começou a comprar imóveis e chegou a ter cinco estabelecimentos abertos. “Não entendia. Perguntava: por que você sempre está abrindo e fechando lugares, vô? E ele dizia que alugava para manter as portas abertas.”
Outra responsável pela manutenção das tradições iniciadas por Taverna no bairro é a comerciante Solange, filha dele e mãe de Thaís. Aos 59, ela administra a cantina Conchetta, fundada pelo pai. É dona também de uma casa tombada onde hoje funciona a Casa Jardim Secreto, sede dos organizadores de uma feira de produtos artesanais.