O Estado de S. Paulo

Maia trava na Câmara pauta ‘anti-Judiciário’

Presidente da Casa evita tensão com magistrado­s e MP, diferentem­ente de Cunha; estratégia é manter interlocuç­ão e se viabilizar para 2018

- Igor Gadelha

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), segurou o avanço de pautas aprovadas pelo Senado considerad­as como reações ao Poder Judiciário e à Operação Lava Jato. A atitude, segundo aliados, faz parte da estratégia de Maia de evitar confronto com magistrado­s e procurador­es a exemplo do que fez seu antecessor, o deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), preso em Curitiba.

Maia aparece em delações da Lava Jato. Executivos da Odebrecht relataram repasses, por meio de caixa 2, ao deputado nas eleições de 2008 e 2012. Na planilha de supostas propinas, apreendida pela Polícia Federal em 2016, ele é apelidado de Botafogo, uma referência ao seu clube de futebol. Relatório da PF também apontou supostas propinas de R$ 1 milhão da OAS a Maia em 2013. O parlamenta­r nega irregulari­dades.

Interlocut­ores de Maia dizem que a boa relação com ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e procurador­es é parte também do movimento para evitar desgastes e se viabilizar na disputa pelo Palácio do Planalto em 2018. O DEM tenta emplacá-lo com o discurso de que é o candidato capaz de reunificar a política e os três Poderes.

Chamada de “pauta anti-Judiciário”, pelo menos três propostas aprovadas no Senado tramitam em ritmo mais lento na Câmara: o projeto que regulament­a a aplicação do teto salarial; o que incluiu juízes e membros do Ministério Público no rol de autoridade­s que responderã­o por crime de abuso de autoridade; e a proposta de emenda à Constituiç­ão (PEC) do fim do foro privilegia­do.

As pautas apenas avançaram após reuniões de Maia com integrante­s do Judiciário. A principal interlocuç­ão foi com a presidente do STF, ministra Cármen Lúcia, com quem se reuniu pelo menos seis vezes neste ano. Também conversou com a nova procurador­a-geral da República, Raquel Dodge, e com o ministro Gilmar Mendes.

Procurado, Maia disse que todas as propostas serão votadas no próximo ano, “depois de um bom debate nas comissões e na sociedade”. Ele informou ainda que, em audiência com Cármen Lúcia, acertou de negociar com o Judiciário uma solução para o teto salarial. “Disse que iríamos construir juntos uma solução com diálogo”, afirmou.

Na Câmara, não há prazo determinad­o para aprovação de matérias. O ritmo da tramitação depende da decisão do presidente da Casa.

Abuso. Antes de mandar criar a comissão especial para analisar o projeto de abuso de autoridade, em 26 de outubro – seis meses após ele ser aprovado no Senado –, Maia conversou com Cármen Lúcia. Na época, fez questão de dizer que estava atendendo a pedido do presidente da Associação Nacional dos Procurador­es da República (ANPR), José Robalinho Cavalcanti, e da juíza Renata Gil, presidente da Associação dos Magistrado­s do Rio de Janeiro, seu reduto eleitoral.

Desde outubro, Maia segura a instalação da comissão, que já poderia ter sido formalizad­a, pois mais da metade dos 34 membros titulares já foi indicada. Quando o colegiado for instalado, o presidente da Câmara deve indicar deputados de perfil moderado para presidir e relatar a comissão.

“A harmonia entre os Poderes é imperativa na Constituiç­ão, e o Rodrigo tem cumprido isso muito bem. É bom para o País, no sentido de que as leis que são aprovadas passam com o crivo do Executivo e do Judiciário”, disse Elmar Nascimento (DEM-BA), um dos principais aliados de Maia e apontado como futuro relator na comissão do abuso de autoridade.

Teto e foro. Aprovado no Senado em dezembro de 2016, o projeto do teto salarial só andou na Câmara oito meses depois, quando Maia assinou ato de criação da comissão especial. Em três meses de trabalho, o colegiado realizou apenas sete reuniões e o relator, deputado Rubens Bueno (PPS-PR), só apresentar­á seu parecer em 2018.

No colegiado, o discurso também é de alinhament­o ao Judiciário. “Estamos construind­o o texto a quatro mãos. Estamos trabalhand­o alinhados: eu, Rubens, Maia, Cármen, Raquel Dodge e o ministro (João Otávio) Noronha (do Superior Tribunal de Justiça), do STJ e corregedor nacional de Justiça”, afirmou o deputado Benito Gama (PTB-BA), presidente da comissão especial e um dos aliados mais próximos de Maia.

A PEC do Foro Privilegia­do também andou devagar. Aprovada no Senado em maio, ela só foi analisada na Comissão de Constituiç­ão e Justiça (CCJ) da Câmara em novembro.

‘Diálogo’ “Disse (a presidente do STF,

Cármen Lúcia) que iríamos construir juntos uma solução com diálogo (sobre o teto salarial).” Rodrigo Maia (DEM-RJ) PRESIDENTE DA CÂMARA

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LUIS MACEDO/CÂMARA DOS DEPUTADOS Debate. Maia diz que vai discutir pautas com a sociedade

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