Como diretor, exibe uma visão realista sobre a política
George Clooney alterna filmes de entretenimento puro com obras de cunho político. E não apenas no cinema, pensado em seu formato tradicional. Tanto assim que já anunciou a produção para a Netflix de uma série sobre o caso Watergate, que marcou profundamente a história americana, culminando com a renúncia do presidente Richard Nixon.
Clooney se destacou como diretor em Boa Noite, e Boa Sorte. O protagonista Edward R. Murrow, magistralmente interpretado por David Strathairn, vinha do rádio e tornara-se famoso por sua cobertura da 2.ª Guerra Mundial. Nos anos 1950, comandava na CBS o programa de TV cujo título era a famosa frase de despedida: “Boa noite, e boa sorte”. Naquele período de trevas da política americana, Murrow era como uma pequena luz liberal a enfrentar o então todo-poderoso diretor do FBI, Joseph McCarthy, que comandava a caça às bruxas na perseguição aos comunistas (reais ou imaginários) da Guerra Fria.
Clooney filma com o máximo de fidelidade possível. Recria um daqueles antigos estúdios de TV, cheios de tensão, pensamento rápido e tiradas cortantes. E também impregnado de fumaça, já que naquele tempo jornalista fumava como chaminé. Usa imagens documentais do próprio McCarthy para intensificar o tom de verdade dessa luta desigual, ponto alto da dignidade jornalística em qualquer tempo e lugar do mundo.
Em 2011, Clooney volta ao seu tema preferencial em Tudo pelo Poder (The Ides of March), história sórdida dos bastidores de uma campanha. Ele mesmo interpreta o governador Mike Morris, que disputa as primárias em Ohio e tem boas chances de se candidatar à presidência. Clooney revela uma visão madura da política, um otimismo lúcido e um tanto desencantado. Como atividade, a política não é flor que se cheire, mas é tudo que temos, se desejamos a democracia. A democracia, dizia Churchill, é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras já tentadas.