O Estado de S. Paulo

Caminhos para o Brasil

‘Não podemos perder mais quatro anos’, diz Navarro

- Mônica Scaramuzzo Renata Agostini

O presidente da Telefônica, Eduardo Navarro, classifica a eleição de 2018 como histórica. Para ele, não se trata de eleger um candidato, mas de definir um projeto de País. O executivo diz que o Brasil não pode cair no populismo e eleger um político que “venda ilusão”, mas sim buscar alguém que faça reformas sem abandonar programas sociais. “Não podemos perder mais quatro anos.”

Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista:

• O que Michel Temer deve se dedicar a fazer em 2018?

Em ano eleitoral, ter reformas estruturai­s profundas e impopulare­s é muito difícil. Concluída a reforma da Previdênci­a, o mais realista seriam reformas infraconst­itucionais, que requerem menor consenso.

• Para a Telefônica, qual a reforma mais importante a ser feita?

Nosso produto não é exportável, só pode ser vendido no País. O mais importante é que a economia volte a crescer. Do ponto de vista setorial, é a reforma das telecomuni­cações. A lei que nos regula é de 1998, que na sua época foi muito oportuna, mas ficou antiga. A população quer celular, banda larga. E temos uma regulament­ação da época do orelhão.

• O que é preciso para que empresas retomem investimen­tos?

Primeiro, gerar demanda. As empresas querem ganhar dinheiro, vender mais. Uma das formas é reduzir a carga tributária. De tudo que ganhamos, 36% ou 37% vão para impostos. Se conseguíss­emos ter um Estado mais produtivo poderíamos reduzir a carga fiscal, e esse dinheiro iria para o consumo e mais investimen­to.

• As eleições de 2018 preocupam a Telefônica?

Nem no pior momento da recessão alteramos nosso plano de investimen­to. Nossa visão é de longo prazo. O debate de 2018 não começou. Ainda se fala em nomes. Para nós, muito mais importante­s são os programas. Quero saber o que cada candidato irá propor do ponto de vista do que acreditamo­s importante: uma agenda reformista, que aumente emprego. O País hoje tem capacidade de cresciment­o de 2% ou 3%, mas tem de crescer 5%. Temos de olhar os países que competem conosco, do sudeste asiático, China, Índia, que crescem a 7%, 8%. Hoje temos nível de cresciment­o inferior ou igual ao de Estados Unidos e Europa, países ricos que têm infraestru­tura construída.

• Com a crise fiscal, programas sociais têm sido questionad­os. Eles deveriam ser mantidos?

Ninguém pode negar que na última década houve redução significat­iva da miséria do País, que se ajudou a criar uma classe média. Os programas sociais foram muito importante­s, mas não foram suficiente­s. Faltou a parte do investimen­to. De qualquer forma, os programas sociais são importante­s. Qualquer solução proposta que esqueça um dos dois lados pode significar novo voo de galinha. Já tivemos períodos de grande cresciment­o que não foram acompanhad­os

por melhor distribuiç­ão social e batemos contra a parede. Recentemen­te tivemos cresciment­o do consumo e da distribuiç­ão de renda que não foram acompanhad­os da alta de produtivid­ade. Deu no que deu. Não podemos cair no populismo, que só defenda uma agenda. Você tem de ter capacidade de explicar à sociedade que as duas áreas são importante­s.

• O sr. vê com bons olhos a candidatur­a de um ‘outsider’?

Se for um outsider, a dúvida é a capacidade de fazer a necessária aglutinaçã­o com a classe política e diversos setores, como sindicatos. Às vezes um empresário que teve grande êxito na vida pública não tem a mesma capacidade (na política). Se vier um outsider que tenha capacidade de articulaçã­o, será mais do que bem-vindo. Mas o mais importante é que reúna as capacidade­s. Tem de ter princípios de éticas e transparên­cia e agenda clara de País. Não podemos vender ilusão. Estamos diante de uma eleição histórica. Não vai ser uma eleição entre um candidato ou outro. Vai ser uma eleição entre projetos de País. Não podemos perder mais quatro anos. Se os próximos quatro anos forem positivos, o País vai deslanchar. Se não conseguirm­os fazer isso, sou pessimista sobre o que acontecerá.

• A Telefônica programou-se para investir R$ 8 bilhões por ano. Há risco de isso mudar?

Não trabalhamo­s com cenário catastrófi­co que possa compromete­r nossos investimen­tos.

• O que seria um cenário catastrófi­co? Um eleito de extrema direita ou extrema esquerda?

Não associamos cenário catastrófi­co a nenhuma ideologia ou partido político. Para nós, o que importa é o cenário macroeconô­mico: taxa de juros, inflação, dólar. Não vejo cenário catastrófi­co para o Brasil. Há um cenário mais acelerado ou aquele em que andamos mais devagar. Não trabalhamo­s com a possibilid­ade de o País voltar atrás.

• Há candidatos que falam em reestatiza­ção. Como o sr. vê esse tipo de discurso?

Não é papel do Estado fazer gestão de empresa de comunicaçã­o, energia etc. Pode se reservar um ou outro setor estratégic­o. Mas o governo tem de se preocupar em nos dar melhor segurança, educação e saúde e em criar um marco regulatóri­o que permita que os investimen­tos privados aconteçam.

• O governo de Michel Temer deixará legado ou ficará marcado por suspeitas de corrupção?

Michel Temer conseguiu uma série de avanços, algo muito positivo. Sobre a parte política, não comentarei. Do ponto de vista econômico, pode deixar o legado de pavimentar as bases para o próximo governo.

 ?? FELIPE RAU/ESTADÃO-24/11/2017 ?? Longo prazo. Telefônica manterá investimen­to, diz Navarro
FELIPE RAU/ESTADÃO-24/11/2017 Longo prazo. Telefônica manterá investimen­to, diz Navarro

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil