O Estado de S. Paulo

CONSERTO FEITO POR MULHERES GANHA ESPAÇO

Equipes femininas que fazem consertos domésticos para mulheres ganham espaço

- Juliana Diógenes

Empresas de manutenção doméstica com mão de obra feminina para atender mulheres, como a da mecânica Isis Pioneli (foto), têm se espalhado pelo País. Para clientes, segurança e limpeza estão entre as vantagens.

Empresas de manutenção com mão de obra feminina para atender exclusiva ou preferenci­almente mulheres têm se espalhado pelo País. Já há serviços do tipo em pelo menos nove capitais: São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Porto Alegre, Salvador, Recife e Belém.

Uma das primeiras ações do tipo começou em agosto de 2015 em São Paulo. A então cineasta Ana Luísa Correard, de 29 anos, decidiu oferecer bicos de serviços de manutenção após desconfort­o com um funcionári­o que fez reparos na sua casa. “Estava sozinha e ele perguntava onde estavam meus amigos, que horas voltariam. Fui reclamar no Facebook e várias amigas falaram que passavam pelo mesmo problema.”

Para ajudar as amigas, ela se ofereceu para fazer serviços. O bico durou dois dias. E a publicação sobre o assunto repercutiu na internet, alcançando mil compartilh­amentos. Em 15 dias, ela largou o emprego. Criou a empresa Mana Manutenção e já acumulou 2,5 mil clientes, com uma equipe de oito mulheres.

A habilidade com serviços de manutenção Ana Luísa aprendeu com o avô. Hoje suas clientes são mulheres jovens “que querem incentivar outras mulheres a trabalhare­m em qualquer área que seja”, segundo ela. “Essas mulheres têm filho novo, moram sozinhas e, normalment­e, optam por uma prestadora de serviço mulher pela segurança que isso traz.”

Com o cresciment­o da empresa, Ana Luísa e a sócia começaram a compartilh­ar na internet vídeos e cursos básicos de elétrica, hidráulica, pintura e manutenção. Em janeiro, vão lançar um aplicativo.

A celebrante de casamentos Bárbara Nascimento, de 32 anos, já contratou um serviço semelhante: o Manas à Obra, também de São Paulo. “Quando descobri que tinham mulheres fazendo, fui atrás”, conta ela, cujo marido viaja muito. “Não confio em ficar sozinha com outros homens em casa.”

A coach Patrícia Andrade, de 53 anos, pensou na família ao pedir o socorro feminino. “São pessoas com quem íamos conviver o tempo todo por 50 dias. Precisa ser um serviço com carinho, paciente”, diz ela, que mora com o filho de 17 anos. Após a reforma da fiação elétrica, ficou impression­ada com a “limpeza” da equipe comparada a outras experiênci­as do tipo.

Segundo a dona do Manas à Obra, Priscila Vaiciunas, a clientela não é só feminina. “Quando é um homem que me procura e não conheço, tenho de ‘stalkear’ (pesquisar sobre ele na internet) o cara para ver se não tem nenhum tipo de problema”, explica ela, de 32 anos.

A demanda masculina, diz, geralmente é de quem estuda muito e não domina pequenos reparos. “Tem também os casados que ficam com receio de por homem estranho porque têm mulher ou filho em casa.”

Brasil afora. Em Salvador, a museóloga May Barros se inspirou no modelo já iniciado em São Paulo para criar a empresa Entre Minas. Os serviços mais pedidos são instalar prateleira, consertar descarga, trocar torneira e resistênci­a de chuveiro. Em dois anos, ela atendeu mais de 500 pessoas e hoje trabalha com outras duas moças – em 2018 a equipe deve crescer.

No Rio de Janeiro, o público da empresa Ela Repara é, na maioria, de mulheres que moram sozinhas. A proprietár­ia e mecânica Isis Pioneli, de 27 anos, conta que grande parte tem renda mais alta e vive com certa independên­cia. A iniciativa foi criada há pouco mais de um ano, após uma experiênci­a ruim de Ísis no emprego. “Tive de ouvir: ‘você não vai dar conta do trabalho igual aos outros homens dão.’”

Hoje, ela acredita que mesmo as mulheres ainda veem esse tipo de empresa com certa desconfian­ça. “Ainda acham que não vamos conseguir ou que não sabemos fazer”, afirma Isis, cuja irmã é formada em Eletrotécn­ica e a mãe, em Edificaçõe­s.

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FABIO MOTTA / ESTADÃO
 ?? FABIO MOTTA / ESTADÃO ?? Rio. A mecânica Isis Pioneli criou empresa há pouco mais de um ano e ainda vê desconfian­ça das próprias mulheres
FABIO MOTTA / ESTADÃO Rio. A mecânica Isis Pioneli criou empresa há pouco mais de um ano e ainda vê desconfian­ça das próprias mulheres

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