O Estado de S. Paulo

UM CAMINHO NOVO, O FUTEBOL TAILANDÊS

Após se acostumar com a vida no país asiático, jogadores ajudam a desenvolve­r o esporte local

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Para jogadores brasileiro­s sem clubes, o futebol asiático é opção. Além dos tradiciona­is mercados japonês e árabe, e do rico chinês, outro caminho surgiu recentemen­te: Tailândia. O futebol é dominado pelo Buriram United, time dos brasileiro­s Diogo, Rafael Bastos e Jajá, atual tricampeão da Liga Nacional Tailandesa.

Nos torneios continenta­is, seu melhor desempenho na Liga dos Campeões asiática ocorreu em 2013, quando a equipe chegou às quartas de final, perdendo para o iraniano Esteghlal. Desde então, caiu sempre na fase de grupos. A seleção começa a obter bons resultados diante dos vizinhos, como Malásia e Vietnã, mas sofre quando joga contra países com futebol mais desenvolvi­do. Nas Eliminatór­ias Asiáticas para a Copa do Mundo, chegou à fase final, mas ficou em último, sem vencer nenhuma das dez partidas.

Os brasileiro­s tiveram papel importante neste cresciment­o, ajudando a populariza­r o esporte. Neste ano, quatro dos cinco principais artilheiro­s vieram do Brasil – o goleador máximo foi o montenegri­no Dragan Boskovic, com 38 gols, tornando-se o recordista da Liga tailandesa em única edição. Jajá ficou quatro gols atrás de Boskovic.

Anteriorme­nte, os brasileiro­s Cleiton Santos, Diogo, ex-Palmeiras, Portuguesa e Flamengo, já haviam batido a marca, assim como Heberty, que joga no país há três anos. Ele tem 29 anos, com passagem pela Arábia Saudita. Foi artilheiro em 2014, com 26 gols. “Tenho expectativ­a de voltar a ser artilheiro. Não consegui nesta temporada porque joguei apenas metade do ano, mas quem sabe no próximo ano”, disse ao Estado – ele foi campeão da Copa da Tailândia pelo Muangthong United.

O sucesso dos brasileiro­s coincide com o fortalecim­ento do futebol no país. Os clubes têm procurado melhorar sua estrutura e construído novos estádios. Embora com capacidade em torno de 15 mil lugares, a nova arena do Muangthong dificilmen­te fica vazia, segundo Heberty e seu colega de time, Leandro Assumpção.

Assumpção, outro atacante, joga na Tailândia há seis anos. Nesse período, viu muitas coisas mudarem. “Pude ver uma evolução tanto na questão de estrutura física quanto na de salários. Vejo que eles investem nas categorias de base, mas não utilizam tanto os garotos. Aqui sou mais bem pago do que seria se estivesse em um time de segunda ou terceira divisão no Brasil”, diz – times médios brasileiro­s chegam a pagar salários entre R$ 30 mil a R$ 100 mil.

Outra questão sobre os salários é levantada por Rodrigo Vergílio, o ‘Careca’, atacante de 34 anos, que está no país há duas temporadas. “Aqui, além de receber mais, tenho a certeza que serei pago em dia. Não tem mais aquela inseguranç­a. Quando estava no Náutico, em 2014, torcedores me paravam e perguntava­m ‘quando você vai jogar?’. Eu respondia que queria, mas que era difícil sem receber”, relata o jogador.

Quanto ao estilo do futebol, Assumpção compara ao inglês. “Eles adoram o Inglês, então tentam jogar no estilo clássico, mesmo com as limitações. Há muita bola esticada, correria e jogadas aéreas”. Outra diferença entre o futebol brasileiro e o tailandês é o comportame­nto da torcida. “Não tem pressão. Mesmo com o time em fase ruim continuam sendo afetuosos. As estrelas são tratadas como seria Ronaldinho no Brasil”, diz Vergílio. Ao Estado, eles disseram não querer voltar. /LUÍS FELIPE SANTOS

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DIOGO LUIS/INSTAGRAM-22/12/2017 Em casa. Diogo, Rafael Bastos e Jajá: festa de campeão

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