O Estado de S. Paulo

‘Bloco continua sendo zona de livre-comércio imperfeita’

Para ministro, há muitos entraves, mas Mercosul retomou sua dimensão econômica e comercial

- BRASÍLIA

O principal objetivo comercial do Mercosul este ano, o préacordo com a União Europeia, ficou para 2018. Mas o bloco tem abertas sete frentes de negociação de acordos, dos quais os mais novos são Coreia do Sul e Cingapura. A retomada da dimensão econômica e comercial é o principal destaque do período do Brasil à frente do bloco, disse o ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes.

O sr. está frustrado com o adiamento do acordo com a UE? Não. É normal. A coisa está bem encaminhad­a. Vamos chegar a um acordo, sim.

O Brasil encerrou seu semestre na presidênci­a do Mercosul. O que o sr. destaca do período? De um lado, a retomada da vocação do Mercosul como um bloco econômico-comercial. De outro, a reafirmaçã­o do pilar democrátic­o.

O período brasileiro começou com a suspensão da Venezuela. É a isso que o sr. se refere quando fala em pilar democrátic­o? Cumprimos algo que estava previsto no acordo constituti­vo do Mercosul: os países, para fazer parte do bloco, têm de respeitar as instituiçõ­es democrátic­as. Na Venezuela, é notória a ruptura das regras democrátic­as. Isso é reconhecid­o inclusive por um governo mais à esquerda, que é o uruguaio. Em decorrênci­a disso, ela foi suspensa. Esperamos que volte logo.

Em que o Mercosul avançou na frente comercial e econômica?

O Mercosul voltou a se concentrar muito ativamente nas questões de intercâmbi­o entre seus países. Por outro lado, buscamos atingir o outro objetivo do bloco, que é fazer dele uma plataforma de inserção dos países que o compõem na economia mundial.

Mas o comércio dentro do bloco ainda tem muitos entraves. Nosso primeiro esforço foi identifica­r quais barreiras existiam. Encontramo­s 78. E já conseguimo­s eliminar mais de 80%. Mas o Mercosul continua sendo uma zona de livrecomér­cio imperfeita. Pelo fato, por exemplo, de o açúcar não estar incluído no bloco. E, no caso dos automóveis, pelo fato de termos um comércio administra­do.

E do Mercosul para fora? O que há em negociação? Tivemos em abril uma reunião dos países do Mercosul com os da Aliança para o Pacífico e definimos um roteiro de ações para aproximar as economias. Já vamos ter em 2019 tarifa zero. O acordo Mercosul-Egito entrou em vigor. Trocamos ofertas com o Efta (Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenst­ein) e esperamos para o primeiro trimestre a vinda de uma delegação canadense.

E o acordo com a Coreia do Sul? Há resistênci­a da indústria?

Obtivemos em novembro autorizaçã­o para negociar acordo com a Coreia do Sul. A consulta que fizemos com o setor privado revelou que temos grande interesse em acesso à agricultur­a e teríamos problemas com a concorrênc­ia com produtos industriai­s deles em alguns setores de nossa indústria. Por isso, decidimos começar a negociação sem determinar de antemão se vai ser uma liberaliza­ção ampla ou com linhas tarifárias.

Qual o resultado de sua recente viagem ao Sudeste Asiático? Tive uma reunião com chancelere­s da Asean, que são 11 países, um polo dinâmico e de grande cresciment­o. Da parte deles, há interesse, mas também alguma dificuldad­e em negociar em bloco. Por isso estamos conversand­o um a um. O que está mais próximo e adiantado é Cingapura. Além disso, estamos interessad­os em ampliar acordos com o México e a Índia. / L..A.O.

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MARCELO CAMARGO/AGÊNCIA BRASIL -20/12/2017 Otimismo. Para Nunes, haverá acordo com UE

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