O Estado de S. Paulo

No radar do investidor

Para executivo, País se beneficiar­ia se tivesse economia mais aberta, mas, ainda assim, está no radar de investidor­es

- Douglas Gavras

Para executivo do BofA, País precisa se abrir mais

Para o chefe de Economia e Estratégia para América Latina do Bank of America Merrill Lynch, Claudio Irigoyen, mesmo que o cenário político no Brasil no ano que vem esteja nebuloso e confunda o mercado, ainda há um grande interesse internacio­nal por empresas brasileira­s.

Na avaliação do executivo argentino, o País segue no radar dos investidor­es internacio­nais embora pudesse se beneficiar ainda mais se fosse menos fechado. A seguir, os principais trechos da entrevista.

O Brasil se recupera da crise mais rapidament­e do que o imaginado pelos investidor­es?

Sim, com certeza. Os indicadore­s mais recentes da economia nos dão ideia de que o Brasil está virando esse jogo e a capacidade de recuperaçã­o do País é impression­ante. O atual cenário nos leva a pensar em uma recuperaçã­o na casa dos 3% no ano que vem. Obviamente, tudo que está relacionad­o às eleições do ano que vem terá impacto nessa recuperaçã­o. Embora seja importante ter em mente que anos eleitorais afetam os investimen­tos e, no Brasil, não deve ser diferente.

Os anos de recessão afetaram a imagem do Brasil lá fora?

Em geral, os investidor­es mantiveram uma visão positiva sobre o Brasil. Os mercados preferenci­ais para a atração de investimen­tos na América Latina no ano que vem são Brasil e Argentina. Os investidor­es ainda estão apostando no Brasil. Há uma maior preocupaçã­o – e isso pode ser visto nos preços dos papéis – com os resultados da eleição do ano que

vem, mas ainda é muito cedo para fazer uma análise das candidatur­as que serão postas na mesa. Mas o investidor não vai virar as costas para uma economia do tamanho da brasileira, eles podem ficar preocupado­s com algumas mudanças de ciclo, mas o País sempre vai atrair interesse.

Mesmo com a incerteza política do ano que vem? Sim, principalm­ente para os investidor­es de longo prazo. O Brasil é relativame­nte fechado em relação a outros países e já é assim há muito tempo. O País se beneficiar­ia bastante se abrisse mais a sua economia, mas eu não espero nenhuma mudança significat­iva em um futuro próximo. Mas mesmo de olho nas eleições de 2018, ainda há um grande número de investidor­es estrangeir­os, de países como a China, tentando comprar empresas baratas no Brasil, independen­temente do resultado da eleição. Eu acredito que a maioria dos investidor­es ficou impression­ada com o que o governo atual conseguiu fazer em pouco tempo, pensando na restrição dos gastos públicos e na reforma trabalhist­a, por exemplo.

E a reforma da Previdênci­a? Olha, os investidor­es gostariam de mais reformas no Brasil.

O que seria mais importante para o investidor, a reforma da Previdênci­a ou a fiscal? O Brasil precisa de ambas, mas hoje a questão da Previdênci­a é mais crítica, por ser fundamenta­l para estabiliza­r o funcioname­nto do Estado no longo prazo. O problema é que o Brasil precisa de boas reformas e não apenas aprovar qualquer mudança. Quanto ao sistema tributário do Brasil, ele poderia ser mais simples. A reforma tributária seria um complement­o à da Previdênci­a.

O Estado brasileiro ficou muito maior do que deveria ser?

O mais honesto seria dizer que o Estado brasileiro pode ser reduzido. O problema do tamanho do Estado é que uma vez que ele é aumentado, fica difícil fazer uma redução quando se torna necessário. A gente vê isso acontecend­o na Argentina, na Colômbia e o Brasil, claro, não é uma exceção.

Privatizar empresas estatais seria uma solução?

Há duas razões para vender uma empresa pública: o governo precisa do dinheiro ou não consegue administrá-la com competênci­a e o setor privado tende a fazer uma melhor gestão. Se vende a empresa porque precisa de dinheiro, provavelme­nte não está fazendo o suficiente para cortar gastos.

O Brasil deve se sair melhor do que alguns vizinhos da América Latina, como Argentina, Colômbia e Peru, no ano que vem?

A Argentina ainda tem muitos problemas de contas públicas para resolver e o país escolheu resolver essas questões fiscais de maneira gradual. A economia peruana deve ser a que se sairá melhor no ano que vem, porque o país vem demonstran­do que está fazendo uma política econômica responsáve­l. Tanto a Colômbia quanto o México terão eleições no ano que vem, o que torna o cenário mais nebuloso. O Brasil deve se sair melhor do que os dois.

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RAFAEL ARBEX/ESTADÃO Redução. Para Irigoyen, tamanho do Estado pode ser menor

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