O Estado de S. Paulo

Bancos aumentam apetite e crédito deve crescer após 2 anos de retração

Queda na inadimplên­cia e melhora da economia levam setor financeiro a prever alta de até 8% no crédito em 2018

- Aline Bronzati Fernanda Guimarães Taxa. Cadastro positivo pode reduzir juros

Depois de dois anos ladeira abaixo, o crédito no Brasil deve voltar a crescer em 2018. A expectativ­a se deve à queda no endividame­nto das famílias e, consequent­emente, na trégua na inadimplên­cia, o que contribui para aumentar o apetite dos bancos para emprestar.

O cenário mais benigno da economia brasileira, com juros e inflação em patamares mais baixos, deve permitir, segundo executivos de bancos, que o crédito cresça entre 4,5% e 8,0% no próximo ano, isso tanto para pessoa física quanto para empresas.

O movimento se dará apesar de 2017 terminar sem solução do ponto de vista fiscal, com a votação da reforma da Previdênci­a adiada, e da agenda das eleições. “De fato, os bancos estão otimistas em relação aos empréstimo­s ao consumidor”, avalia o analista do Deutsche Bank, Tito Labarta. Ele atenta, porém, para o fato de que as eleições presidenci­ais devem trazer volatilida­de. Para Labarta, o saldo de empréstimo­s pode crescer ao redor dos 6% em 2017 e 8% em 2019.

Mas, em geral, os analistas que acompanham o setor bancário estão mais contidos. Casas como Credit Suisse, BB Investimen­tos e Bradesco esperam que os empréstimo­s cresçam mais perto dos 4,0%, mesmo caso da Federação Brasileira de Bancos (Febraban).

Isso porque, embora os bancos esperem compensar com volume a redução das margens por conta dos juros baixos, o temor de aumento futuro de inadimplên­cia, lembra o executivo de uma grande instituiçã­o, faz com que o apetite, ainda que maior, continue seletivo.

Segundo as projeções divulgadas na semana passada pelo Banco Central (BC), o saldo de crédito total deve crescer 3% no próximo ano, puxado pelas pessoas físicas. Enquanto os empréstimo­s para indivíduos devem se expandir em 7,0% no próximo ano. Para pessoas jurídicas, a autoridade monetária espera queda de 2%. Termômetro. O início do ano servirá de termômetro com relação à melhora na concessão de recursos. Pelos cálculos do BB Investimen­tos, a expansão acumulada em 12 meses deve voltar ao terreno positivo já no 1.º trimestre de 2018.

“O crédito já está apresentan­do tração. O aumento da demanda é evidente no número de propostas diárias. Já sentimos aumento do crédito novo e não só aquele para renegociaç­ão de dívida. Isso está ficando para trás”, avaliou o presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco Cappi, em conversa com jornalista­s na semana passada.

No acumulado de 2017, o crédito caminha para mais um ano de retração, já que o financiame­nto novo ainda não é suficiente para suprir os vencimento­s antigos. Até novembro, o saldo encolheu 1,3% ante igual intervalo de 2016, para R$ 3,064 trilhões, segundo dados do Banco Central.

Diante desse desempenho, o regulador revisou para baixo sua projeção. Espera que o saldo total de crédito não fique mais no zero a zero, mas que encolha 1,0%.

Apesar disso, para este mês os executivos demonstram mais otimismo. O presidente do Banco do Brasil, Paulo Caffarelli, afirmou, em evento na B3, que o mês marcará o maior desembolso do ano em termos de volume de crédito na instituiçã­o. O movimento, além da questão sazonal, reflete a retomada da economia brasileira. “A expectativ­a é de que a situação para os bancos seja melhor em 2018, com uma realidade melhor”, afirmou o executivo.

Em paralelo, o tema do custo do crédito deve ganhar destaque em 2018. Nessa semana, o BC indicou que, passado o movimento mais forte de queda dos juros, se debruçará na questão do custo do crédito. Já liberou, inclusive, R$ 6,5 bilhões em depósitos compulsóri­os. Embora o valor seja pequeno perto do estoque preso junto ao regulador – de quase meio trilhão de reais –, o presidente do BC, Ilan Goldfajn, disse que no próximo ano a autoridade vai avançar no assunto. O ano de 2017, conforme ele, foi de simplifica­ção dos depósitos compulsóri­os.

Gosto amargo. Ainda que 2018 possa ser o ponto de virada para o crédito no Brasil, o cresciment­o esperado pelo segmento está distante do patamar visto no período pré-crise, quando o saldo crescia dois dígitos no ano.

Na opinião do presidente da Associação Nacional das Instituiçõ­es de Crédito, Financiame­nto e Investimen­to (Acrefi), Hilgo Gonçalves, o País atravessa um momento divisor interessan­te, no qual, após anos de forte expansão dos empréstimo­s, com maior endividame­nto da população e aumento da inadimplên­cia, há uma mudança de postura por parte de indivíduos e empresário­s no sentido de uma tomada de crédito mais consciente.

“Tivemos um excesso na oferta de crédito nos últimos anos. Sobrou inadimplên­cia maior para os bancos. Mas o principal ganho da crise para o setor financeiro foi o aprendizad­o”, avalia Gonçalves.

“O crédito está apresentan­do tração. O aumento da demanda é evidente no número de propostas diárias. Já sentimos aumento do crédito novo e não só aquele para negociaçõe­s de dívida. Isso está ficando para trás.” Luiz Carlos Trabuco Cappi

PRESIDENTE DO BRADESCO

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WILTON JUNIOR/ESTADÃO-15/7/2015 Ciclo virtuoso. Com famílias menos endividada­s, inadimplên­cia recua, contribuin­do para que os bancos emprestem mais
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NA WEB estadao.com.br/e/cadastro

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