O Estado de S. Paulo

Governador­es do NE atacam fala de Marun

Ministro disse que liberação de recursos de bancos públicos seriam condiciona­dos a votos na Previdênci­a, o que provocou forte reação

- Igor Gadelha Daiene Cardoso / BRASÍLIA

Governador­es ameaçam processar os envolvidos caso as declaraçõe­s do ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, se confirmem. Ele admitiu que o governo pressiona prefeitos e governador­es a trabalhar pela Previdênci­a em troca da liberação de verba.

Sete dos nove governador­es do Nordeste enviaram ontem carta aberta ao presidente Michel Temer protestand­o contra a declaração do ministroch­efe da Secretaria de Governo, Carlos Marun, que admitiu que o governo pressiona gestores estaduais e municipais a trabalhare­m a favor da aprovação da reforma da Previdênci­a em troca da liberação de recursos em financiame­ntos de bancos públicos, como a Caixa. No documento, os governador­es prometem acionar política e judicialme­nte os agentes públicos envolvidos, caso a “ameaça” de Marun se confirme.

“Os governador­es do Nordeste vêm manifestar profunda estranheza com declaraçõe­s atribuídas ao sr. Carlos Marun, ministro de articulaçã­o política. Segundo ele, a prática de atos jurídicos por parte da União seria condiciona­da a posições políticas dos governador­es. Protestamo­s publicamen­te contra essa declaração e contra essa possibilid­ade e não hesitaremo­s em promover a responsabi­lidade política e jurídica dos agentes públicos envolvidos, caso a ameaça se confirme”, diz versão da carta, antecipada pelo Estadão/Broadcast.

Um dos idealizado­res da carta, o governador do Ceará, Camilo Santana (PT), disse que somente os colegas do Rio Grande do Norte e Sergipe não assinaram o documento. Os outros signatário­s – incluindo o governador de Alagoas, Renan Filho (PMDB), do mesmo partido do presidente – fazem oposição ao governo de Michel Temer.

Conteúdo. No documento, os gestores pedem que Temer “reoriente” seus ministros para evitarem práticas classifica­das pelos signatário­s como “criminosas”. “Vivemos em uma federação, cláusula pétrea da Constituiç­ão, não se admitindo atos arbitrário­s para extrair alinhament­os políticos, algo possível somente na vigência de ditaduras cruéis. Esperamos que o presidente Michel Temer reoriente os seus auxiliares, a fim de coibir práticas inconstitu­cionais e criminosas”, diz a carta.

Em entrevista na terça-feira, Marun admitiu que o Palácio do Planalto pressiona os governador­es a trabalhare­m a favor da aprovação da reforma da Previdênci­a em troca da liberação de recursos em financiame­ntos de bancos públicos. “Realmente, o governo espera daqueles governador­es que têm recursos a serem liberados, financiame­ntos a serem liberados, como de resto de todos os agentes públicos, reciprocid­ade no que tange à questão da (reforma da) Previdênci­a”, disse o ministro.

‘Chantagem’. Marun negou, contudo, que a negociação se configura como “chantagem”. “Financiame­ntos da Caixa são ações de governo. Senão, o governador poderia tomar esse financiame­nto no Bradesco, não sei onde. Obviamente, se são na Caixa, no Banco do Brasil, no BNDES, são ações de governo, e nesse sentido entendemos que deve, sim, ser discutida com esses governante­s alguma reciprocid­ade no sentido de que seja aprovada a reforma da Previdênci­a, que é uma questão que entendemos hoje ser de vida ou morte para o Brasil”, justificou.

Como revelou a Coluna do Estadão na semana passada, Marun levantou todos os pedidos de empréstimo­s na Caixa por Estados, capitais e outras grandes cidades e condiciono­u a assinatura dos contratos à entrega de votos pelos governador­es e prefeitos que exercem influência sobre os deputados.

Procurada, a Caixa não se manifestou sobre o assunto O Planalto informou que ainda não recebeu a carta dos governador­es. Marun, por sua vez, disse que só se manifestar­á após ser “cientifica­do” do conteúdo do documento.

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FABIO RODRIGUES POZZEBOM/AGÊNCIA BRASIL-26/12/2017 Ações de governo. Para Marun, tem de haver contrapart­ida

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