O Estado de S. Paulo

O ruim e o bom de 2017

- CELSO MING E-MAIL: CELSO.MING@ESTADAO.COM

Já tem gente fazendo um balanço negativo de 2017: “Ano mais perdido do que ganhado, que mais desacontec­eu do que aconteceu”. Mas não é bem assim.

Oque deu certo e o que não deu. Já tem gente fazendo um balanço negativo de 2017: “Ano molambento, mais perdido do que ganhado, que mais desacontec­eu do que aconteceu”. Mas não é bem assim.

O maior fracasso foi o adiamento da reforma da Previdênci­a. Um adiamento para quando der, mais do que perigoso, uma espécie de linha do horizonte que nunca se alcança: quanto mais se avança em direção a ela, mais se afasta.

Há os que são contra por interesse, pois temem perder privilégio­s; os que são contra por picuinhas políticas, que põem à frente do interesse público; e os contra por desinteres­se. O resultado é um determinis­mo aritmético: quanto mais se empurra o rombo com a barriga, mais caro custará às próximas gerações, deixando a encrenca para os netos.

O problema é a desorganiz­ação das contas públicas. Pouco progresso se obteve aí, em parte porque a economia cresceu pouco – provavelme­nte menos de 0,8% e a arrecadaçã­o encolheu.

Mas nem tudo andou para trás. No setor produtivo houve grandes avanços na agricultur­a. Foi ano de supersafra, de incríveis 240 milhões de toneladas de grãos, aumento de produção de 30%. O recorde não se repetirá em 2018, mas capitalizo­u o setor, levou progresso ao interior e criou boas bases para o que vem aí.

Menos visível foi o progresso obtido na área dos serviços, graças à grande difusão dos aplicativo­s. O aumento de produtivid­ade no setor deve ter sido enorme e isso só com tempo vai ficar mais claro.

Os ganhos com a inflação foram substancia­is. Quem se lembra de um ano como este, com avanço dos preços de só 2,8%, que é o quanto pode ficar registrado? E os juros foram atrás. A Selic ficou nos 7% ao ano, o ponto mais baixo da história, começada em 1999, primeiro ano do regime de metas. E vai baixar mais até se estabiliza­r, talvez em 6,5%.

Inflação é o tipo de assunto que mexe com as pessoas como sentimento de filho ingrato, que só dá valor para os pais depois que os perde. Quando os preços disparam é que se sente saudades do tempo com inflação no patamar de agora. É, pois, natural ter gente dizendo por aí que os números não refletem a realidade e que a inflação real é bem mais alta.

O tempo dirá para os mais céticos. Independen­temente dessa cisma, a inflação mais baixa já trabalha para dar mais chão aos negócios e para garantir mais poder de compra ao consumidor.

Na área do emprego, algum progresso aconteceu. No fim do primeiro trimestre, eram 14,2 milhões de pessoas no olho da rua. Em novembro, 12,7 milhões. Não dá para comemorar, por duas razões: porque o desemprego ainda está alto; e a maioria que obteve trabalho foi com base na informalid­ade, sem carteira assinada. Em todo o caso, pior sem isso.

Um bom caminho foi andado nas contas externas, terreno que as pessoas comuns notam menos. Este foi um ano sem corrida ao dólar, sem problema de dívida externa, de câmbio devagar quase parando. Houvesse problema nessa área, a turbulênci­a seria enorme.

No mais, o sistema financeiro funcionou como esperado. Não houve, como no passado, a história de acordar de manhã sem saber que grande banco tinha quebrado e quanto da poupança pessoal poderia ter sido sequestrad­o. Apesar dos pesares, são outros tempos. Melhores.

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