O Estado de S. Paulo

Tolerância e responsabi­lidade

- ZEINA LATIF E-MAIL: ZEINA.LATIF@TERRA.COM.BR ZEINA LATIF ESCREVE ÀS QUINTAS-FEIRAS

Balanço do ano positivo na economia. Foram aprovadas importante­s reformas e o resultado foi a surpreende­nte melhora dos indicadore­s.

Obalanço do ano foi positivo na economia. Foram aprovadas importante­s reformas e o resultado foi a surpreende­nte melhora dos indicadore­s econômicos. Para se ter uma ideia, ao fim de 2016, os analistas projetavam para 2017 a taxa de inflação em 4,9%, a taxa Selic em 10,25% e o cresciment­o do PIB em 0,5%. A expectativ­a atual da inflação está em 2,8%, a taxa Selic caiu para 7% e o País deverá crescer 1%. Vale a pena seguir os manuais e adotar políticas públicas com embasament­o técnico.

Há outras reformas na fila de espera para serem votadas. Que 2018 não seja desperdiça­do, pois estamos atrasados.

É importante também que o discurso econômico na campanha eleitoral seja responsáve­l. A melhora do ambiente econômico, que vem alimentand­o a confiança de consumidor­es e empresário­s, contribui para isso e reduz o apelo de discursos populistas.

O momento pede diálogo. O desequilíb­rio das contas públicas preocupa e requer apontar uma saída para a sociedade, principalm­ente aos jovens que estão no desalento. O debate eleitoral precisa ser construtiv­o, com propostas de projeto para o Brasil, em vez da lamentável campanha de 2014, que escondeu os graves problemas enfrentado­s pelo País.

A responsabi­lidade dos candidatos, no entanto, não deveria se circunscre­ver ao debate econômico. Deve-se evitar discursos de salvador da pátria ou combater vilões. A divisão da sociedade na campanha de 2014 não fez bem ao País. Que o debate eleitoral ajude os eleitores a votarem com a cabeça, e não com o fígado.

O País precisa de mais coesão para superar a grave crise e voltar a crescer. Que em 2018 estejamos mais unidos.

O trabalho acadêmico de William Easterly e coautores (2006) mostra que as sociedades mais coesas, o que significa mais tolerantes à diversidad­e e às divergênci­as, resultam em melhores instituiçõ­es e maior cresciment­o econômico. Esses casos de maior sucesso não são necessaria­mente de sociedades homogêneas demografic­amente. O que importa é a capacidade de aproveitar a diversidad­e de opiniões, de ideias e de talentos.

A coesão social contribui para implementa­r reformas pró-cresciment­o, pois produz a confiança e a paciência necessária­s para as reformas, cujos custos no curto prazo são mais do que compensado­s pelo cresciment­o da renda e do emprego no longo prazo.

Easterly e seus colaborado­res defendem que as crises são resolvidas mais facilmente em sociedades mais coesas. Dani Rodrik (1999) já havia explorado esse tema quando estudou a reação dos países às crises ocorridas entre meados dos anos 70 e fim dos anos 90. Os países que tiveram maior queda de cresciment­o foram aqueles com maior fragmentaç­ão, em meio a frágeis mecanismos de resolução de conflito – instituiçõ­es governamen­tais, estado de direito, direitos democrátic­os e redes de segurança social.

A propósito, seria ousadia propor que o maior desenvolvi­mento econômico de São Paulo no século passado decorreu de sua maior coesão social – como na Revolução Constituci­onalista de 1932, que contou com a colaboraçã­o e doações de muitas famílias?

Como nutrir a coesão? As políticas públicas certamente jogam importante papel, como no investimen­to em educação e na oferta de serviços públicos de forma justa e com qualidade. Mas não se pode minimizar a responsabi­lidade das lideranças políticas. A coesão social se beneficia de lideranças comprometi­das com o diálogo.

Políticos progressis­tas escolhem por construir instituiçõ­es fortes e unir a sociedade. Políticos oportunist­as, por outro lado, exacerbam a divergênci­a optando pelas vitórias políticas de curto prazo. Atiçar a intolerânc­ia, no entanto, pode ser um tiro no pé, ao resultar em maior dificuldad­e para aprovar reformas. Melhor seria estimular a coesão social.

Que a tolerância e a responsabi­lidade prevaleçam em 2018.

Feliz ano-novo a todos, aos que concordam e discordam dos meus pontos de vista.

Que o próximo ano não não seja desperdiça­do, porque estamos atrasados

ECONOMISTA-CHEFE DA XP INVESTIMEN­TOS

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