O Estado de S. Paulo

Agências reguladora­s mais fortes

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Asaída para o déficit de infraestru­tura do País – um antigo óbice ao nosso desenvolvi­mento – passa, necessaria­mente, pela criação de um ambiente de normalidad­e macroeconô­mica, segurança jurídica e previsibil­idade regulatóri­a que seja capaz de atrair investimen­tos privados para um setor tão carente de investimen­tos públicos e, ao mesmo tempo, tão estratégic­o para que o futuro sonhado por muitos se torne uma realidade vivida por todos.

Um Estado que destina 57% de seu Orçamento de custeio apenas para o pagamento de pensões e aposentado­rias – quando o padrão mundial é de 20% a 25% –, de fato, não pode dar conta sozinho de todos os investimen­tos necessário­s para recuperar décadas de atraso no desenvolvi­mento de sua infraestru­tura. As escolhas históricas da Nação, como o sustento de um desequilib­rado e injusto modelo de Previdênci­a Social, agora cobram uma cara fatura.

Diante da severa limitação do governo federal – desta ou qualquer outra administra­ção que lhe sobrevier – para alocar recursos orçamentár­ios em projetos de infraestru­tura, não há solução mágica para tornar o País eficiente e competitiv­o a não ser fomentar aquelas condições capazes de trazer segurança e estabilida­de às empresas dispostas a investir pesadament­e em um setor com retorno de longo prazo.

Por demandar altos investimen­tos, não é incomum haver monopólios ou oligopólio­s explorando determinad­as áreas de infraestru­tura em algumas regiões do País. Para que os usuários não fiquem sujeitos a práticas abusivas ou à prestação de serviços precários, é fundamenta­l que o Estado exerça o controle sobre este ambiente de pouca ou nenhuma competição por meio das agências reguladora­s, sobretudo no que concerne a serviços essenciais como a distribuiç­ão de energia, de água e de gás, além da regulação do setor de transporte­s rodoviário, portuário e aeroportuá­rio.

As agências reguladora­s foram criadas há mais de 20 anos, durante o governo do expresiden­te Fernando Henrique Cardoso, com o objetivo de regular setores que deixavam de ser dominados por monopólios estatais por meio do processo de privatizaç­ão ou concessão. Além da referida proteção dos consumidor­es, as agências foram criadas para estabelece­r as normas de funcioname­nto dos setores que regulam, proporcion­ando, a um só tempo, um ambiente de negócios previsível, seguro e eficiente, tanto para os usuários como para os investidor­es.

Hoje, as agências reguladora­s estão muito distantes de seus desígnios originais. O desvio de finalidade começou no primeiro mandato do ex-presidente Lula da Silva, para quem a força e a independên­cia das agências nada mais eram do que uma “usurpação” de atribuiçõe­s próprias do Poder Executivo. Foi assim que logo as agências passaram a ser o destino preferenci­al de acomodação de apaniguado­s políticos, mais preocupado­s em atender às demandas de seus “padrinhos” do que zelar pelo interesse público.

Reportagem especial de Roberta Paduan, publicada pelo Estado, revelou que uma importante medida de fortalecim­ento das agências reguladora­s, devolvendo-lhes a importânci­a, está parada na Câmara dos Deputados há um ano. É o Projeto de Lei (PL) 6.621/2016, que, entre outras medidas, dificulta muito a ocupação política dos cargos de direção das agências. Depois de tramitar por quatro anos no Senado, o projeto foi aprovado e seguiu para a Câmara, onde aguarda a instalação de uma comissão especial encarregad­a de examinar o texto.

Tão logo o Poder Legislativ­o retorne às suas atividades após o recesso de fim de ano, é imperioso que retome o debate sobre um projeto de lei fundamenta­l para dotar o País de agências reguladora­s mais fortalecid­as, eficientes e profission­ais. Duas décadas após a criação das agências e um triste período de subversão de seus objetivos iniciais, o resgate das agências é condição indispensá­vel para a estabilida­de do ambiente de negócios e, consequent­emente, para o desenvolvi­mento do País.

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