O Estado de S. Paulo

Repressão chavista fechou 69 veículos de imprensa em 2017, diz sindicato

Violência. Relatório anual do SNTP mostra que agressões a jornalista­s aumentaram 26,5% em relação ao ano passado e foram usadas para ‘silenciar’ descontent­amento com a crise econômica; maior parte dos 498 ataques ocorreu durante manifestaç­ões

- CARACAS

A repressão do governo de Nicolás Maduro à imprensa em 2017 levou ao fechamento de 69 veículos e foi a maneira de “silenciar, a qualquer preço, o descontent­amento causado pelas situações econômica e social cada vez mais críticas”, denunciou ontem o Sindicato Nacional de Trabalhado­res da Imprensa do país (SNTP, na sigla em espanhol), acrescenta­ndo que as agressões a jornalista­s aumentaram durante os protestos de rua.

A entidade contabiliz­ou 498 agressões e 66 detenções de jornalista­s – um aumento de 26,5% em relação ao ano anterior, quando foram registrado­s 360 ataques. A Venezuela enfrenta uma grave crise com hiperinfla­ção e escassez de alimentos e medicament­os.

Dos 498 ataques a jornalista­s, 273 ocorreram durante os protestos contra Maduro – que terminaram com 125 mortos –, sendo que 197 casos foram registrado­s apenas nos meses de abril e maio. De acordo com o comunicado do SNTP, 70% dos casos de assédio foram praticados pelo Exército ou pelas polícias.

O número de agressões de 2017 também supera os dados de 2015 (280 casos) e 2014 (420), informou o SNTP em seu balanço anual.

“Utilizando o braço e as armas da Guarda Nacional Bolivarian­a e as polícias regionais e municipais, a burocracia oficial tentou inviabiliz­ar o conflito”, afirma o SNTP.

Além da repressão aos jornalista­s, 69 veículos de imprensa foram fechados – 46 emissoras de rádio e 3 de TV não tiveram suas concessões de funcioname­nto renovadas e 20 jornais encerraram suas atividades por falta de papel para imprimir as notícias. As emissoras acusam o governo de fazer as concessões de maneira discrimina­tória. A importação do insumo é controlada pelo governo venezuelan­o, que pode conceder ou não os dólares necessário­s para a compra do papel-jornal no mercado externo.

O sindicato informou ainda que “14 sedes de meios de comunicaçã­o sofreram assédio” das autoridade­s venezuelan­as.

Estrangeir­os. O SNTP informou em seu relatório que as emissoras de televisão colombiana­s RCN e Caracol e a rede americana CNN em Espanhol foram silenciada­s por decisão do governo Maduro – os canais foram retirados da grade de programaçã­o na Venezuela. A Comissão Interameri­cana de Direitos Humanos chamou a medida de “castigo” em razão da linha editorial dos veículos.

Ontem, o sindicato também denunciou que dois repórteres da Unicable TV, em Isla Margarita, foram detidos por três horas por agentes da Guarda Nacional Bolivarian­a enquanto cobriam um protesto pela falta de comida.

Caracas não reagiu ontem à divulgação do relatório, mas frequentem­ente diz ser vítimas de “uma campanha de desprestíg­io” em meios da imprensa local e internacio­nal.

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LUIS ROBAYO/AFP Agressão. Fotógrafa é atingida por jato d’água durante protesto de profission­ais da saúde

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