O Estado de S. Paulo

Ministro peruano renuncia após perdão a Fujimori

- LIMA

O governo do presidente peruano, Pedro Pablo Kuczynski, teve mais um revés ontem, quando o popular ministro da Cultura, Salvador del Solar, renunciou – três dias depois do indulto humanitári­o concedido pelo chefe de Estado ao ex-presidente Alberto Fujimori, preso por crimes contra a humanidade.

“Apresento minha renúncia ao cargo de ministro da Cultura”, anunciou Del Solar, pelo Twitter. Ele sempre foi contrário ao perdão a Fujimori. Considerad­o um dos integrante­s mais antifujimo­ristas da base de Kuczynski, o ministro vinha sendo cobrado por seu eleitorado e outros setores de oposição ao fujimorism­o para que mantivesse “coerência” e não desse qualquer tipo de embasament­o ao indulto.

Del Solar, de 47 anos, foi ator de cinema, teatro e televisão e é um político popular no Peru. Nos últimos meses, a imprensa local especulava que ele poderia iniciar uma carreira presidenci­al, como o francês Emmanuel Macron – com quem era comparado frequentem­ente.

O ministro estava na Colômbia quando Kuczynski anunciou o indulto a Fujimori, dias depois de ter escapado da destituiçã­o em uma votação no Congresso, justamente em razão da abstenção de dez deputados do partido fujimorist­a. “Agradeço ao presidente da República por ter me dado a oportunida­de de servir ao nosso país”, completou Del Solar ao renunciar. Ele ocupava a pasta desde dezembro de 2016.

O presidente executivo da TV e rádio públicas, Hugo Coya, também apresentou sua renúncia ontem, mas Del Solar foi o primeiro integrante do gabinete de PPK, como é conhecido o presidente Kuczynski, a deixar o governo desde o perdão concedido a Fujimori.

Na semana passada, o ministro do Interior, Carlos Basombrío, renunciou enquanto o Congresso peruano discutia a destituiçã­o de Kuczynski em razão de seus vínculos com a Odebrecht. O presidente estava sob pressão após um painel de investigaç­ão formado por parlamenta­res opositores revelar que a Odebrecht fez pagamentos de quase US$ 800 mil a uma empresa de consultori­a de Kuczynski em meados da década passada. À época, ele ocupava cargos de primeiro escalão na gestão de Alejandro Toledo.

Após PPK sair vitorioso da votação, parlamenta­res opositores o acusaram de obter os votos necessário­s – entre eles o de Kenji Fujimori – ao garantir a liberdade do ex-presidente.

O partido fujimorist­a Frente Ampla, que apresentou o pedido de destituiçã­o de Kuczynski, avalia promover uma nova moção contra o presidente após o indulto.

Fujimori, de 79 anos, governou o país de 1990 a 2000 e cumpriu 12 anos de uma pena de 25 anos de prisão pela morte de 25 pessoas no marco das operações antiterror­istas de seu governo. Parentes das vítimas da repressão do regime de Fujimori se organizava­m ontem para pedir a anulação do indulto. Hoje, organizaçõ­es de direitos humanos e grupos políticos se juntam aos grupos de parentes para uma marcha em Lima.

Ontem, o médico de Fujimori informou que ele ficará internado na clínica onde está até pelo menos sexta-feira e com visitas restritas. No sábado, ele teve uma arritmia e queda de pressão. O médico não informou se houve piora no caso.

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