O Estado de S. Paulo

Os idosos e a reforma

- JOSÉ PASTORE

Os países que elevaram a idade de aposentado­ria vêm enfrentand­o o grave desafio de garantir trabalho para os idosos. Este será também o caso do Brasil se a reforma da Previdênci­a Social fixar a idade mínima em 65 anos.

Segundo estimativa­s dos demógrafos, 50% das crianças que nascem hoje nos países avançados viverão até 105 anos! 50% dos jovens que têm 30 anos chegarão aos 100 anos! É a força da longevidad­e (Lynda Gratton e Andrew Scott, The 100-Year Life, London: Bloomsbury Publisher, 2016).

Nenhum sistema previdenci­ário terá capacidade de manter essas pessoas aposentada­s, sem poupança e sem trabalhar. Ou seja, os idosos saudáveis terão de trabalhar mais tempo, e assim vem ocorrendo até mesmo no Brasil. É impression­ante saber que entre os brasileiro­s aposentado­s mais de 1/3 trabalha regularmen­te. A metade alega ser necessário trabalhar para melhorar os benefícios da aposentado­ria; 25%, para manter a mente ocupada; 20%, para se sentirem produtivos; outros precisam ajudar a família (Pesquisa do Serviço de Proteção ao Crédito e Confederaç­ão de Dirigentes Lojistas, 2016).

Para os idosos trabalhare­m mais, há dois desafios a vencer. O primeiro é o de garantir emprego e trabalho. O segundo é o de prover familiarid­ade com as novas tecnologia­s.

Para enfrentar o primeiro desafio, os países avançados criaram novas formas de trabalhar, como é o caso do contrato intermiten­te, tempo parcial, terceiriza­do, autônomo, teletrabal­ho e outros. Naqueles países, a grande maioria dos idosos trabalha dessa maneira nos setores de comércio, serviços e turismo.

O segundo desafio se refere à necessidad­e de preparar os idosos para dominar a robotizaçã­o e a inteligênc­ia artificial, cuja entrada no mercado de trabalho se acelera a cada dia. Isso também tem sido feito nos países mais avançados: as tecnologia­s modernas vêm sendo simplifica­das para facilitar a aprendizag­em dos mais velhos.

Nos Estados Unidos, 25% dos motoristas do Uber têm mais de 55 anos e, aliás, desfrutam da preferênci­a da população. Para dirigir veículos, eles tiveram de aprender a lidar com aplicativo­s do mundo digital. O mesmo ocorre com escritório­s de advocacia e contabilid­ade, seguradora­s, consultori­as, imobiliári­as, escolas, agências de viagem, clínicas, biblioteca­s, museus e outras atividades que contratam profission­ais mais velhos que sabem usar recursos tecnológic­os modernos.

Até mesmo os serviços mais simples em restaurant­es, zeladoria, segurança e comércio de varejo (onde trabalha a maioria dos idosos) exigem um domínio razoável das técnicas do mundo digital. Ao aprendêlas, os idosos passam a ter mais chance de trabalhar (The Economist, The new old, the economics of longevity, 8/7/2017).

Na Suécia, Holanda, Inglaterra, Estados Unidos, França, Alemanha, Espanha, Itália, Grécia, Coreia do Sul e Japão crescem a cada dia os cursos de treinament­o de idosos no manuseio de tablets mais simples. Entre os idosos, a aprendizag­em tem sido surpreende­nte.

O Brasil deu importante­s passos no campo das novas formas de contrataçã­o com a aprovação da Lei 13.467/2017, que instituiu a reforma trabalhist­a – trabalho intermiten­te, tempo parcial, teletrabal­ho, autônomo, terceiriza­do, etc. Falta agora avançar no campo da simplifica­ção das tecnologia­s e do treinament­o dos idosos. Isso será essencial para enfrentar os desafios da longevidad­e, equilibrar as finanças públicas e garantir condições para o cresciment­o econômico e a geração de empregos – para jovens e para idosos.

PROFESSOR DA UNIVERSIDA­DE DE SÃO PAULO, É PRESIDENTE DO CONSELHO DE EMPREGO E RELAÇÕES DO TRABALHO DA FECOMERCIO-SP E MEMBRO DA ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS

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