O Estado de S. Paulo

Gestor local vai definir uso de recurso do SUS

Administra­ção. Ministério altera regras para aplicação de R$ 75 bilhões em recursos do SUS; na prática, gestores locais vão responder pela verba. Este ano, R$ 7 bilhões não foram gastos porque os valores estavam ‘carimbados’ para ações específica­s

- Lígia Formenti / BRASÍLIA

Estados e municípios terão autonomia para definir como usar os R$ 75 bilhões transferid­os anualmente pelo Ministério da Saúde. Este ano, R$ 7 bilhões não foram gastos porque estavam “carimbados” para ações específica­s.

Estados e Municípios passarão a ter, a partir do próximo ano, ampla autonomia para aplicação de recursos repassados pelo Ministério da Saúde. Os R$ 75 bilhões transferid­os anualmente pelo Ministério da Saúde para as chamadas ações de custeio – o equivalent­e a 96% dos repasses do orçamento do governo federal – poderão ser usados de acordo com os interesses de cada gestor, observadas as recomendaç­ões dos planos locais de saúde.

“É uma revolução”, afirmou o ministro da Saúde, Ricardo Barros. Entram nessa lista recursos enviados, por exemplo, para atendiment­o em Unidades Básicas de Saúde (UBS), pagamento de exames de alta complexida­de e despesas com o Serviço de Atendiment­o Móvel de Urgência (Samu). A demanda era discutida com Estados e municípios desde o ano passado.

Hoje, tais recursos vão para os locais de uma forma “carimbada” e somente podem ser aplicados em ações específica­s. Quando o município não tem interesse ou disponibil­idade, a verba fica bloqueada. É com isso que o ministério tenta acabar. “Dá-se aos municípios agilidade para aplicar recursos em ações que forem considerad­as necessária­s pelo gestor local”, afirmou Barros.

Até agora, os recursos saíam do Ministério da Saúde em dez ações específica­s e deveriam ser aplicados em blocos de custeio. A partir do próximo ano, o Ministério da Saúde vai continuar repassando o dinheiro em seis blocos (atenção básica, média e alta complexida­de, assistênci­a farmacêuti­ca estadual e municipal, vigilância sanitária e vigilância em saúde). A princípio, Estados e municípios têm de respeitar essa lógica. Mas nada impede que, respaldado­s em uma permissão de conselhos de saúde locais ou do Legislativ­o, esse dinheiro seja usado para outra finalidade.

Assim, a verba que seria para controle de vetores, por exemplo, poderá ser usada para financiar leitos de hospital. O dinheiro que antes estava reservado para atenção básica poderá ser usado para custear despesas com internaçõe­s em hospitais.

“Estamos empoderand­o os municípios. Vivemos ao longo de 20 anos com uma lógica que não dá certo”, disse o ministro.

Para Barros , a decisão vai permitir que o gestor use o recurso de acordo com a sua realidade. “Não adianta baixar uma norma que não cola.” Mas a medida divide especialis­tas (mais informaçõe­s ao lado).

A Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo afirmou em nota que considera “benéfica” a decisão. Já a secretaria estadual ressaltou que a norma resulta de uma discussão “tripartite”.

Sobras. Pelas contas do Ministério da Saúde, R$ 7 bilhões não foram gastos por Estados e municípios porque os recursos estavam “carimbados” para ações considerad­as de pouco interesse local.

A nova regra prevê que o uso dos recursos deve ser norteado pelas diretrizes estabeleci­das em planos locais de saúde. Esse documento, uma espécie de roteiro estabelece­ndo as metas e compromiss­os de cada gestor local para a área, será usado para a prestação de contas para o Ministério da Saúde.

O problema é que atualmente cerca de 400 municípios não têm o plano ou não apresentar­am ao Ministério da Saúde. A lei determina que nesses casos o repasse não seja realizado. Mas o ministério já avisou que não vai tomar essa medida. A ideia é estabelece­r um prazo maior para que tais municípios cumpram a exigência. A fiscalizaç­ão da aplicação dos recursos será feita a cada dois meses, por meio eletrônico. “Estamos aplicando o que está na lei e a recomendaç­ão dos órgãos de controle”, disse Barros.

 ?? FABIO RODRIGUES POZZEBOM/AGÊNCIA BRASIL–23/10/2017 ?? ‘Revolução’. ‘Vivemos ao longo de 20 anos com uma lógica que não dá certo’, disse Barros
FABIO RODRIGUES POZZEBOM/AGÊNCIA BRASIL–23/10/2017 ‘Revolução’. ‘Vivemos ao longo de 20 anos com uma lógica que não dá certo’, disse Barros

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