O Estado de S. Paulo

Abertura de lojas supera fechamento após 34 meses

Varejo. Em outubro, pela primeira vez desde dezembro de 2014, comerciant­es mais abriram do que fecharam pontos de vendas, o que resultou em um saldo de 1,2 mil unidades abertas no mês; no acumulado do ano, fechamento ainda supera inauguraçõ­es em 17 mil

- Márcia De Chiara Douglas Gavras

Em outubro, após 34 meses de resultados negativos, o total de lojas abertas no País voltou a superar o de fechadas. Segundo estudo feito pela Confederaç­ão Nacional do Comércio (CNC), com base em informaçõe­s enviadas pelos varejistas ao Cadastro Geral de Empregados e Desemprega­dos, o saldo foi positivo em 1.202 lojas. “Olhando os dados de janeiro a outubro, vemos que o varejo foi deixando a crise para trás”, diz o economista-chefe da CNC, Fabio Bentes.

Depois de 34 meses, a abertura de lojas no comércio voltou a ser positiva em outubro. Isso significa que, pela primeira vez, desde dezembro de 2014, os varejistas abriram mais lojas do que fecharam ao longo do mês – um reflexo direto da retomada das vendas a partir de agosto. Como abrir lojas envolve investimen­tos e contrataçõ­es, o dado está sendo considerad­o pelo setor como um indicativo de que a recuperaçã­o do varejo veio para ficar e deve ser um dos motores de cresciment­o da economia no ano que vem.

Em outubro, entre abertura e fechamento de pontos de venda, o saldo ficou positivo em 1.202 lojas, aponta estudo feito pela Confederaç­ão Nacional do Comércio (CNC) a partir dos dados das varejistas informante­s do Cadastro Geral de Empregados e Desemprega­dos (Caged). Foi o primeiro resultado mensal positivo desde dezembro de 2014, antes da crise. No mesmo mês do ano passado, o comércio mais fechou do que abriu lojas. O saldo ficou negativo em 6.809 pontos de venda.

O pior momento para o varejo foi na virada de 2015 para 2016, quando o saldo líquido de novas lojas ficou negativo na casa de 10 mil pontos de venda por mês, diz o economista-chefe da CNC, Fabio Bentes. “Fechar lojas da forma como o varejo fechou nos últimos anos é realmente jogar a toalha”, afirma.

Segundo ele, dos termômetro­s do comércio, o saldo de abertura de novas lojas talvez seja o mais importante, porque as vendas sobem e descem em função de datas comemorati­vas e de variáveis macroeconô­micas, mas o varejista se adapta. Agora, a decisão de abrir e fechar uma loja é uma sinalizaçã­o de longo prazo. “Olhando os dados de janeiro a outubro, vemos claramente que o comércio varejista foi deixando a crise para trás.”

Neste Natal, por exemplo, as vendas tiveram seu maior cresciment­o desde 2010, revertendo três anos consecutiv­os de retração, segundo o SPC Brasil. O avanço já vinha sendo registrado ao longo do ano.

As vendas do varejo ampliado, que inclui materiais de construção e veículos, tiveram a primeira reação em três anos, no acumulado de janeiro a outubro, com alta de 3,2%, em relação ao mesmo período de 2016.

O economista diz que não esperava uma reação simultânea de cresciment­o de venda e de abertura de lojas, como ocorreu.

Ele atribui esse movimento a quatro fatores: desacelera­ção da inflação, que ocorre desde o primeiro semestre; redução histórica da taxa básica de juros, hoje em 7% ao ano; liberação de recursos extraordin­ários, como os das contas inativas do FGTS e os do PIS/Pasep; e reação do emprego.

‘Despiora’. Apesar da reação registrada em outubro, no acumulado do ano, o varejo mais fechou do que abriu lojas. O saldo foi negativo em 17.306 pontos comerciais. Entre janeiro e outubro do ano passado, esse resultado estava negativo em 82.118. “O número de lojas fechadas caiu muito, houve uma ‘despiora’”, observa. A estimativa do economista da CNC é que 2017 termine ainda com saldo negativo. Nas suas projeções, os dois últimos meses do ano não serão suficiente­s para reverter o acumulado até agora.

Ele ressalta que houve um movimento generaliza­do de novos negócios, em todos os segmentos, apesar de a maioria dos saldos continuar negativa. Um ponto que chama a atenção é que, dos dez ramos do comércio varejista, só o de farmácias e perfumaria­s teve saldo positivo acumulado até outubro, de 303 lojas. A difusão da melhora do comércio também é observada em todas as regiões do País.

A centenária Pernambuca­nas, por exemplo, inaugurou no início de dezembro sua primeira unidade em Juiz de Fora (MG), na mesma semana, a rede de supermerca­dos Hirota abriu uma nova unidade do modelo express em São Paulo. O grupo MGB, dono das bandeiras Mambo, inaugurou em meados deste mês uma loja de atacarejo do Giga e vai inaugurar mais 13 pontos de venda no ano que vem (leia mais abaixo).

A perspectiv­a é que o saldo de novas lojas volte ao azul no ano que vem. “Em períodos eleitorais há um movimento pró-consumo”, diz Bentes, que prevê alta de 4,5% a 5% nas vendas do varejo ampliado.

“Em períodos eleitorais, há um movimento pró-consumo. Do ponto de vista do investimen­to, o caminho é oposto.” Fabio Bentes ECONOMISTA-CHEFE DA CNC

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DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO - 26/12/2017 Reação. Setor de vestuário foi um dos que se destacou, com melhora no saldo de abertura de lojas acumulado até outubro

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