O Estado de S. Paulo

‘Revolta do Pernil’ na Venezuela

Governo de Maduro coloca a culpa em Portugal

-

Mulher enfrenta policial em Caracas, em protesto contra a falta de carne de porco, fundamenta­l nas refeições de fim de ano na Venezuela. Nas redes sociais, os protestos, em várias regiões do país, foram apelidados de “Revolta do Pernil”. O presidente Nicolás Maduro acusou Portugal de sabotagem, por não ter enviado os pernis.

Na noite de quarta-feira e durante todo o dia de ontem, vários protestos espontâneo­s foram registrado­s em várias cidades da Venezuela. Desta vez, as pessoas foram às ruas irritadas pela ausência do tradiciona­l pernil de Natal – iguaria fundamenta­l no fim de ano do venezuelan­o. Nas redes sociais, o episódio foi apelidado de “Revolta do Pernil”.

Precavido, o presidente Nicolás Maduro foi imediatame­nte à TV para encontrar um culpado, desta vez incomum: Portugal. “O que aconteceu com o pernil? Eles nos sabotaram. Posso dizer isso de um único país: Portugal”, esbravejou o chavista em discurso transmitid­o pela estatal VTV.

Segundo o presidente, que havia prometido que não faltaria carne de porco nas festas de fim de ano, o governo comprou todo o pernil disponível na Venezuela para distribuir a preços subsidiado­s. Além disso, encomendou mais peças para suprir a demanda do país. “Mas eles nos perseguem”, disse Maduro, sem especifica­r quem. “Eles perseguira­m nossas contas bancárias. Eles perseguira­m os dois barcos gigantes que vinham (com o pernil).”

Diosdado Cabello, número dois do chavismo e deputado da Assembleia Nacional Constituin­te, disse em seu programa de TV que “os portuguese­s se compromete­ram” com o governo venezuelan­o, mas que “foram assustados pelos gringos e não entregaram os pernis”.

Surpresa. Acusados de sabotar o Natal dos venezuelan­os, os portuguese­s receberam ontem com surpresa as acusações de Maduro. Primeiro, o chanceler Augusto Santos Silva, em entrevista à rádio TSF, disse que Portugal vive sob economia de mercado, que as exportaçõe­s cabem a empresas privadas. “O governo português não tem o poder de sabotar o Natal de ninguém”, disse.

No início da noite, a Raporal, companhia que opera no setor alimentíci­o, revelou que o governo venezuelan­o deve mais de 40 milhões de euros a diversas empresas portuguesa­s por pernis de Natal enviados no ano passado. Em nota, a direção disse que a Venezuela comprou, em 2016, 14 mil toneladas de carne – e não pagou. O embaixador venezuelan­o em Portugal garantiu ontem que o pagamento será regulariza­do até março de 2018.

Os protestos foram registrado em Ciudad Guayana e outras cidades do Estado de Bolívar, em Isla Margarita e em vários pontos de Caracas, como Antímano e La Vega, favelas da zona oeste da capital e conhecidos redutos do chavismo. Em algumas manifestaç­ões, como em La Vega, a Guarda Nacional Bolivarian­a teve de usar gás lacrimogên­eo para dispersar a multidão.

 ??  ??
 ?? FEDERICO PARRA/AFP ?? ‘Revolta do Pernil’. Protesto em Caracas contra a ausência da iguaria na mesa do venezuelan­o
FEDERICO PARRA/AFP ‘Revolta do Pernil’. Protesto em Caracas contra a ausência da iguaria na mesa do venezuelan­o

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil