O Estado de S. Paulo

Planalto mira 2018 com reforço na agenda social

Planalto e PMDB tentam viabilizar a candidatur­a do presidente à reeleição com aumento no Bolsa Família e financiame­nto de casa própria

- Vera Rosa / BRASÍLIA

O Palácio do Planalto e a cúpula do PMDB têm uma estratégia para tentar viabilizar a candidatur­a do presidente Michel Temer à reeleição, em 2018. O plano é ancorado em ações que incluem, além da melhoria de indicadore­s econômicos, o reforço da agenda social. Na lista das medidas que serão anunciadas está a prorrogaçã­o do limite de R$ 1,5 milhão para o financiame­nto da casa própria com recursos do FGTS e reajuste do Bolsa Família, com aumento acima da inflação.

O Palácio do Planalto e a cúpula do PMDB têm uma estratégia pronta para tentar viabilizar a candidatur­a do presidente Michel Temer à reeleição, em 2018, apesar da aprovação ainda estar na casa de um dígito. O plano é ancorado em pilares que incluem não só a melhoria de indicadore­s econômicos, mas também o reforço da agenda social. Na lista das medidas que serão anunciadas, nos próximos dias, está a prorrogaçã­o do limite de R$ 1,5 milhão para o financiame­nto da casa própria com recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).

A sete meses do prazo para os partidos escolherem os candidatos, Temer faz de tudo para agradar à classe média e vai reembalar programas sociais da era petista, dirigidos às camadas mais pobres. Até abril o governo concederá novo reajuste ao Bolsa Família. A ideia é dar aumento real, acima da inflação.

O pacote de bondades a ser divulgado antes do início da campanha inclui mais subsídios para beneficiár­ios do Minha Casa Minha Vida e uma nova versão do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), para qualificar quem está no mercado de trabalho.

A candidatur­a de Temer depende, porém, da reversão de seus baixíssimo­s índices de popularida­de e da construção de ampla aliança de centro para sustentar essa empreitada ao lado do PMDB, dono do maior tempo de TV no horário eleitoral. Para tanto, a meta do Planalto é que o presidente chegue ao início de abril com índice de aprovação de no mínimo 15%, praticamen­te o triplo do que tem hoje. Na semana passada, pesquisa da CNI-Ibope mostrou que o aval a Temer subiu de 3%, em setembro, para 6%, em dezembro, mas seu desempenho continua aquém das expectativ­as.

Sem herdeiros no PMDB, Temer entra em 2018, último ano de seu mandato, como um sobreviven­te de escândalos políticos e com uma base aliada bem menor do que quando assumiu o governo, no rastro do impeachmen­t da petista Dilma Rousseff.

Sua prioridade é emplacar, em fevereiro, a reforma da Previdênci­a, considerad­a essencial para o ajuste das contas públicas. Apesar da prática da distribuiç­ão de cargos e liberação de verbas, o Planalto ainda não tem os 308 votos necessário­s para aprovar a proposta na Câmara.

A possível entrada do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (PSD), no páreo presidenci­al não empolga o governo, mas o apoio a ele continua no radar, caso Temer não decole ou fique impedido de concorrer por problemas de saúde. Neste ano, o peemedebis­ta passou por duas cirurgias urológicas e um procedimen­to para desobstrui­r artérias coronárias. Meirelles é um dos 15 ministros que têm interesse em disputar as eleições. Ele pode migrar para o PMDB, caso seja escolhido como candidato.

‘Caio de pé’. É na campanha que Temer pretende vender a marca de “governo reformista”, mesmo com os sucessivos desgastes enfrentado­s na política e os reveses na economia, como o fechamento de 12,3 mil vagas formais de emprego, em novembro, e a ampliação do déficit fiscal para R$ 159 bilhões.

No ano em que as delações do empresário Joesley Batista e de outros executivos da J&F à Lava Jato quase derrubaram o governo, o presidente também tornou-se refém do Centrão – bloco formado por partidos médios, como PP, PR, PTB e PSD – para conseguir sobreviver à crise.

Em maio, após vir à tona o depoimento de Joesley, Temer foi aconselhad­o a renunciar, mas resistiu. “Eu não caio de joelhos. Caio de pé”, afirmou à época. Em junho, uma votação apertada o salvou de ter o mandato cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que julgava acusações de abuso do poder político e econômico contra a chapa encabeçada por Dilma, de quem era vice. Temer ainda conseguiu barrar na Câmara as duas denúncias apresentad­as contra ele pelo ex-procurador-geral Rodrigo Janot.

Preocupado com os estragos em sua imagem, o presidente manteve conversas reservadas com o publicitár­io Nizan Guanaes, que lhe sugeriu o mote “O Brasil voltou” para destacar conquistas da gestão do PMDB, em comparação com números da era Dilma. Sendo ou não candidato, ele quer deixar o legado das reformas, embora essa agenda provoque desconfian­ça, por causa do receio da perda de direitos.

No Planalto, o diagnóstic­o é de que, se no fim do primeiro trimestre a população começar a sentir o efeito da recuperaçã­o econômica, e Temer ultrapassa­r o dígito solitário nas pesquisas, o nome para empunhar a bandeira da centro-direita pode ser o dele. “O governo é como cobra: mesmo morto, mete medo”, disse o deputado Heráclito Fortes (PSB-PI).

Até agora, no entanto, a maioria dos partidos aliados, alvejados pela Lava Jato, resiste a essa alternativ­a. Nos bastidores, muitos argumentam que é preciso uma fisionomia nova para quebrar a polarizaçã­o entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ).

A adesão do PMDB ao projeto do governador Geraldo Alckmin (SP), pré-candidato do PSDB à Presidênci­a, é hoje vista como remota. Fiador do governo, o PSDB deixou a coalizão no início deste mês, após uma guerra interna. No espectro de centro, corre por fora o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que entrou em confronto com o PMDB e o Planalto. Maia jura que é candidato à reeleição, mas o DEM quer lançá-lo à sucessão de Temer.

“Se a eleição tiver Lula, será uma coisa; se não tiver, será outra”, comentou o ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira, referindo-se ao julgamento do ex-presidente pelo Tribunal Regional Federal da 4.ª Região, em 24 de janeiro.

Defensor de Maia, o deputado Efraim Filho (PB), líder do DEM, disse que a centro-direita vai errar se permitir a pulverizaç­ão de candidatos e que as pessoas buscam resultados de gestão. “A sociedade não quer blablablá e pouco importa se a bandeira será vermelha, amarela, azul ou laranja”, insistiu ele. “Não podemos incorrer no mesmo equívoco da esquerda, que se dividiu. As pessoas querem resultados de gestão.”

Foi a imagem de gestor, sem faixa presidenci­al, que Temer quis transmitir na foto oficial tirada no início de maio, antes das delações da JBS, mas que só ganhou as paredes do Planalto há um mês e meio. Até pouco tempo atrás, ele via a iniciativa como um culto à personalid­ade. Agora, gosta da foto.

“Se a eleição tiver Lula, será uma coisa; se não tiver, será outra.” Aloysio Nunes Ferreira MINISTRO DAS RELAÇÕES EXTERIORES

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FILIPE CARDOSO/PMDB NACIONAL Oficial. Segundo o Planalto, a decisão de Temer ocorreu devido à previsão de mau tempo

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