O Estado de S. Paulo

Maus sinais na política fiscal

Apesar da alta na receita, quadro fiscal no início de 2018 será pior que ao longo de 2017.

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Amelhora expressiva da arrecadaçã­o tributária federal em novembro, quando cresceu 9,49% em termos reais na comparação com novembro de 2016, assegurou alguma folga financeira imediata para os órgãos federais. Mas o alívio será efêmero. Decisões tomadas pelo Poder Judiciário e outras adiadas pelo Congresso Nacional não deixam dúvidas de que, a despeito do aqueciment­o da atividade econômica – que se expressa no aumento da receita –, 2018 começará com um quadro fiscal pior do que tem sido ao longo de 2017. Logo nos primeiros dias de 2018 o governo terá de decidir onde vai cortar gastos para evitar que o déficit primário comece a crescer e ultrapasse o limite de R$ 159 bilhões.

A Lei Orçamentár­ia Anual para 2018 aprovada pelo Congresso prevê um déficit primário de R$ 157 bilhões, ligeiramen­te inferior ao limite definido anteriorme­nte pela Lei de Diretrizes Orçamentár­ias (LDO). Mas esse resultado só seria assegurado caso os parlamenta­res tivessem aprovado medidas que asseguram receita adicional de R$ 21,4 bilhões no próximo exercício. Propostas de iniciativa do Executivo destinadas a aumentar a arrecadaçã­o em 2018 tiveram sua tramitação prejudicad­a durante as negociaçõe­s da reforma previdenci­ária, considerad­a prioritári­a pelo Palácio do Planalto, pela confiança que instilaria nos agentes econômicos. O ano está prestes a terminar sem a votação da reforma da Previdênci­a nem das medidas necessária­s para assegurar o cumpriment­o da metas fiscais para o próximo exercício.

Da receita adicional esperada pelo Executivo em 2018, R$ 6 bilhões viriam da tributação de fundos exclusivos prevista em medida provisória (MP) não votada pelo Congresso a tempo de permitir a cobrança em 2018. Mesmo que o governo edite nova MP, a cobrança só poderá ser feita em 2019. Já o projeto de lei que acaba com a desoneraçã­o da folha de pagamento para alguns setores – e corrige grave equívoco do governo Dilma Rousseff, que impôs severas perdas ao Tesouro sem estimular a atividade no ritmo prometido pelas autoridade­s – está praticamen­te parado na Câmara dos Deputados.

Por decisão liminar do ministro Ricardo Lewandowsk­i, do Supremo Tribunal Federal, foi suspensa a medida provisória que adiava para 2019 o reajuste dos servidores federais previsto para 2018 e elevava de 11% para 14% a contribuiç­ão dos funcionári­os ativos e inativos que ganham mais de R$ 5,3 mil. Essas duas medidas teriam um impacto de R$ 6,6 bilhões no próximo exercício.

Parte da quebra de arrecadaçã­o em relação ao valor estimado originalme­nte no Orçamento para 2018 poderá ser compensada pela melhora observada nos últimos meses em razão do cresciment­o da economia. Em novembro, as receitas especiais decorrente­s do programa de parcelamen­to de dívidas tributária­s e do aumento da alíquota do PIS/Cofins sobre combustíve­is somaram-se aos efeitos da melhora da atividade econômica, propiciand­o o ingresso de R$ 115,1 bilhões nos cofres do Tesouro, no melhor desempenho para o mês desde 2014.

A receita acumulada nos 11 primeiros meses do ano, de R$ 1,204 trilhão, é 0,13% maior, em valores reais, do que a do período janeiro-novembro de 2016. Ou seja, em termos acumulados, ainda é lenta a recuperaçã­o da receita.

“A capacidade de recompor medidas para o Orçamento de 2018 é pequena”, reconheceu o ministro do Planejamen­to, Dyogo Oliveira. Assim, o ajuste terá de ser feito com o corte de despesas. Se em 2017 muitos órgãos públicos tiveram dificuldad­es para manter suas atividades por causa do bloqueio de verbas necessário para conter o déficit público, 2018 poderá ser pior, pelo menos enquanto não se encontrar uma solução para a quebra da arrecadaçã­o que era considerad­a certa. O espaço para corte nas chamadas despesas discricion­árias é pequeno. Pode-se prever que o ajuste terá de ser feito em boa parte com o corte de investimen­tos para expansão e melhoria dos serviços públicos. Perde o País, que precisa desses serviços.

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