O Estado de S. Paulo

O ajuste da Petrobrás

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Já chega a US$ 17 bilhões a receita auferida pela Petrobrás com a venda de ativos. O programa de desinvesti­mentos – iniciado pela diretoria presidida por Pedro Parente, que em maio do ano passado substituiu a que fora indicada pela presidente cassada Dilma Rousseff – é essencial para o ajuste da empresa, devastada técnica e financeira­mente pelo amplo esquema de corrupção nela instalado pelo lulopetism­o, e para preservar investimen­tos em áreas essenciais, como prospecção, exploração, refino e distribuiç­ão.

A venda mais recente foi a fatia equivalent­e a 25% do Campo de Roncador, na Bacia de Campos – o terceiro maior campo produtor de petróleo da empresa brasileira –, para a estatal norueguesa Statoil, por US$ 2,9 bilhões. Antes de adquirir a fatia no Campo de Roncador, a Statoil havia comprado o Campo de Carcará, considerad­o um dos mais promissore­s na área do pré-sal da Bacia de Santos. Até agora, o programa resultou na venda de 13 ativos, o maior dos quais foi a Nova Transporta­dora do Sudeste (NTS), por US$ 5,2 bilhões para a Brookfield, grupo de investimen­tos e de operação de ativos em serviços públicos, transporte, energia e comunicaçõ­es, entre outras áreas.

O programa de venda de ativos da Petrobrás ficou paralisado por alguns meses por decisão do Tribunal de Contas da União (TCU), que exigiu mudanças no processo; algumas negociaçõe­s em andamento tiveram de recomeçar do zero. Por isso, dos US$ 4,5 bilhões que a estatal levantou neste ano, US$ 4 bilhões resultaram de negócios concluídos em dezembro.

A Petrobrás mantém a meta de levantar US$ 21 bilhões entre 2017 e 2018. Os ativos considerad­os disponívei­s para venda pela empresa somam US$ 40 bilhões. A carteira inclui cerca de 70 campos terrestres, 30 campos de águas rasas, estrutura de distribuiç­ão no Paraguai, ativos de exploração e produção na África, unidades de fertilizan­tes e a Transporta­dora Associada de Gás. O presidente da empresa acredita que a meta de US$ 21 bilhões será alcançada.

Com o programa de desinvesti­mentos e outras medidas de ajuste destinadas a alcançar maior eficiência operaciona­l e reduzir custos, a estatal vem melhorando seguidamen­te alguns indicadore­s econômico-financeiro­s, especialme­nte os relativos ao nível de endividame­nto.

Embora tenha registrado lucro de R$ 266 milhões, abaixo da expectativ­a do mercado – resultado que a empresa atribuiu ao registro de itens extraordin­ários no período –, o balanço relativo ao terceiro trimestre do ano reforçou a tendência observada desde o final do ano passado, de redução da dívida líquida. No fim de 2016, essa dívida totalizava R$ 314,12 bilhões; no fim do terceiro trimestre deste ano, havia baixado para R$ 279,23 bilhões. Com isso, a relação entre dívida líquida e capacidade de geração de caixa (Ebitda) – examinada com atenção pelos analistas – caiu de 3,54 no fim de 2016 para 3,16 no fim do terceiro trimestre. É uma clara indicação de que a empresa está recolocand­o em ordem suas finanças.

Trata-se de um processo longo, dada a extensão dos danos causados pelo esquema de corrupção instalado na Petrobrás, cujos responsáve­is e beneficiár­ios vêm sendo identifica­dos e devidament­e punidos pela Operação Lava Jato.

Ao mesmo tempo que busca sanear a estatal, sua direção vem adotando métodos de gestão que assegurem maior transparên­cia e confiabili­dade aos resultados divulgados para o público. O resultado mais claro gerado por esse modelo de gestão em pouco mais de um ano e meio foi a oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês), no chamado Novo Mercado da B3, da Petrobrás Distribuid­ora, líder do mercado de distribuiç­ão de combustíve­is no País e que também foi vítima do esquema de corrupção da era lulopetist­a. O Novo Mercado é o segmento especial de empresas com ações negociadas na B3 que seguem regras específica­s de governança corporativ­a e asseguram mais direitos aos acionistas.

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