O Estado de S. Paulo

Relatores da ONU criticam perdão a Fujimori

Especialis­tas disseram que decisão deveria ser ‘transparen­te, rigorosa e compatível com padrões dos direitos humanos’

- Jamil Chade CORRESPOND­ENTE / GENEBRA Facebook. Curta a página da Internacio­nal www.facebook.com/interestad­ao

Relatores da ONU condenaram ontem o perdão dado ao ex-presidente do Peru Alberto Fujimori, qualifican­do a decisão do atual mandatário, Pedro Pablo Kuczynski, como um “tapa na cara” das vítimas de abusos de direitos humanos.

“O perdão dado a Fujimori, com base em motivações políticas, mina o trabalho do Judiciário peruano e da comunidade internacio­nal em obter justiça”, declararam, em comunicado conjunto, o Grupo de Trabalho da ONU sobre Desapareci­mentos Forçados, a relatora sobre execuções sumárias, Agnès Callamard, e o relator para Promoção da Verdade e Justiça, Pablo de Greiff.

Na avaliação dos relatores da ONU, o perdão é também um passo atrás para o estado de direito no Peru, já que se trata de alguém que cometeu sérios crimes e foi condenado depois de um julgamento apropriado.

Fujimori cumpria pena de 25 anos de prisão e sua condenação havia sido elogiada em todo o mundo como um símbolo da luta contra a impunidade. No dia 24, Kuczynski concedeu o perdão para se safar de um processo de impeachmen­t no Parlamento causando uma onda de protestos e a demissão de ministros.

Para os especialis­tas da ONU, não há dúvidas de que a lei permite que o presidente garanta o perdão a uma pessoa, mas jamais de forma isolada. “Casos envolvendo perdões humanitári­os exigem um processo transparen­te e rigoroso que seja compatível com os padrões dos direitos humanos”, disseram os relatores.

Depoimento. Kuczynski prestou ontem depoimento durante quatro horas no Palácio do Governo a procurador­es sobre o caso Odebrecht, que quase o levou à destituiçã­o. O procurador Hamilton Castro, que lidera a investigaç­ão, busca determinar se o presidente ou alguma de suas consultori­as se beneficiou ou influencio­u na concessão de obras públicas a construtor­a brasileira.

Após o fim do depoimento, a equipe do MP, liderada por Castro, deixou a sede do governo sem falar com a imprensa. O presidente também não se pronunciou.

Paralelame­nte, também ontem, a líder opositora Keiko Fujimori foi ao prédio da procurador­ia para depor em uma investigaç­ão sobre financiame­nto ilegal de campanhas eleitorais, que também envolve a Odebrecht. A filha de Fujimori foi fotografad­a sorrindo com três funcionári­as da procurador­ia antes de começar o interrogat­ório e negou qualquer irregulari­dade.

“Estamos chocados com essa decisão. Trata-se de um tapa na cara das vítimas e testemunha­s que, com seu comprometi­mento, o levaram à Justiça” Especialis­tas da ONU

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