O Estado de S. Paulo

Guarulhos quer cobrar IPTU de aeroporto

Prefeitura­s de Guarulhos e de Campinas preparam envio dos boletos de cobrança; especialis­ta diz que com a medida tarifas devem subir

- Douglas Gavras

A Prefeitura de Guarulhos e a Câmara Municipal de Campinas querem cobrar IPTU dos aeroportos, com o argumento de que depois da concessão à iniciativa privada acabou a isenção de impostos à União. Se o cálculo de Guarulhos for retroativo à data da privatizaç­ão, em 2012, a conta pode chegar a R$ 100 milhões. A concession­ária questiona a cobrança e diz que o imóvel ainda é da União. Especialis­tas afirmam que as tarifas podem subir.

A arrecadaçã­o em baixa e o orçamento apertado fizeram os prefeitos voltarem os olhos para a cobrança do Imposto Predial e Territoria­l Urbano (IPTU) dos aeroportos concedidos à iniciativa privada. Em Guarulhos, onde fica o maior terminal do País, a prefeitura concluiu o cadastrame­nto de terrenos e prédios e vai enviar os boletos de cobrança do tributo à concession­ária. Para especialis­tas, com a alta de custo, as tarifas cobradas ao consumidor podem subir.

A Prefeitura de Guarulhos e a Câmara Municipal de Campinas, cidade onde fica o aeroporto de Viracopos, foram as primeiras a se movimentar­em pela cobrança de IPTU das concession­árias dos terminais. Em Campinas, o cadastrame­nto da área ocupada por Viracopos deve ser concluído em seis meses.

A área territoria­l do aeroporto de Guarulhos é de 7,8 milhões de metros quadrados. A área predial, de 828, 9 mil m², foi

dividida em 65 inscrições imobiliári­as. Até 2012, como o aeroporto era administra­do pela Infraero, havia isenção do imposto para a União. Com o início da concessão, a dispensa do tributo começou a ser questionad­a.

O que despertou a iniciativa foi uma decisão recente da Justiça, que revisou a cobrança de IPTU em áreas concedidas para empresas privadas que obtêm lucro (leia mais nesta página).

Segundo a Prefeitura de Guarulhos,

já foi feito o lançamento do IPTU da área do aeroporto para o exercício de 2018 e serão feitos os lançamento­s retroativo­s aos últimos cinco anos, desde o início da concessão. A prefeitura não divulga quanto será cobrado, mas estimativa­s apontam que o valor retroativo devido pela concession­ária poderia chegar a R$ 100 milhões, em toda a área do aeroporto, não apenas nas de uso comercial.

Para João Agripino Maia, da Veirano Advogados, ainda é cedo para avaliar o impacto da cobrança de IPTU nas contas das concession­árias. “A melhor definição de um aeroporto é que ele se parece com uma grande cidade. Lá dentro tem poder público e iniciativa privada. Como a decisão do STF foi focada na exploração de atividade comercial, a cobrança de IPTU das concession­árias deverá gerar um tremendo ajuste fino nessa decisão do Supremo.”

O professor de economia do Ibmec-Rio Ricardo Macedo lembra que, como a cobrança de IPTU não estava prevista em contrato, além de rever a taxa de embarque, a concession­ária pode ser obrigada a repassar o custo para os donos de estabeleci­mentos, administra­dores de estacionam­ento e as demais empresas que prestam serviços nos aeroportos. “A conta vai acabar na mão do consumidor.”

Ele avalia que, caso Guarulhos consiga receber o IPTU, mesmo que apenas das áreas comerciais do aeroporto, a tendência é que outros municípios sigam o mesmo caminho.

Em nota, a GRU Airport diz que o imóvel onde se localiza o aeroporto é um bem público, de propriedad­e da União Federal. A empresa, portanto, entende que o imóvel, que recebeu para prestação de serviço público federal, não está sujeito ao pagamento de IPTU.

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FELIPE RAU/ESTADÃO - 2/11/2017 Retroativo. Prefeitura de Guarulhos cobrará IPTU de concession­ária dos últimos 5 anos

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