O Estado de S. Paulo

A responsabi­lidade dos partidos

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Cabe aos partidos comprometi­dos com o interesse público a responsabi­lidade de se unirem em torno de um candidato capaz de vencer as várias expressões do populismo.

Em entrevista ao Estado, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi certeiro ao apontar a necessidad­e de os partidos comprometi­dos com a continuida­de das reformas aglutinare­m suas forças em torno de um candidato à Presidênci­a da República eleitoralm­ente viável. “É preciso que haja lideranças capazes de organizar. Há o perigo de que um demagogo dê sensação às pessoas de que vão influencia­r a favor dos que mais precisam”, disse Fernando Henrique, ao comentar o seu temor de “que não se consiga organizar o centro”.

Não basta que o candidato seja conhecido de boa parte da população ou possua uma história na vida pública. A responsabi­lidade com o futuro do País deve levar a que os partidos políticos não populistas se unam em torno de um candidato com possibilid­ades reais de ganhar. Se esse caráter prático deve estar sempre presente na política, ele se torna ainda mais premente nas atuais circunstân­cias.

“Chegamos a um ponto em que é preciso unir, colar. Está tudo muito desagregad­o”, disse Fernando Henrique. A desagregaç­ão é parte significat­iva da crise política, social, econômica e moral que o sr. Lula da Silva instaurou no País, nos anos em que o PT comandou a administra­ção federal e pretendeu ser hegemônico. Agora, o cacique petista movimenta-se intensamen­te para voltar ao poder, desde já prometendo desmontar tudo o que foi feito no atual governo para superar a herança maldita deixada pelo lulopetism­o.

Cabe, portanto, aos partidos políticos minimament­e comprometi­dos com o interesse público a responsabi­lidade de se unirem em torno de um candidato capaz de vencer as várias expressões do populismo, sejam quais forem as suas cores. Ainda que seja o mais daninho, o sr. Lula da Silva não é o único representa­nte dessa aberração da política. Há, por exemplo, o iracundo Bolsonaro, que tenta suprir sua irrelevânc­ia na Câmara dos Deputados, sobejament­e demonstrad­a há quase três décadas, com frases contundent­es e grosserias. Até agora, a única posição efetivamen­te clara do deputado é, além da apologia da violência, seu desprezo pela democracia.

Como é lógico, o País merece mais. Por isso, Fernando Henrique lembra que candidato aparenteme­nte bom, mas sem viabilidad­e política, não serve. “Se não vai para a academia. Quem entra na política sai da área de conforto. Tem que ter capacidade de juntar pessoas com opiniões diferentes”, disse ao Estado.

Ao falar das qualidades que tornam um candidato viável, Fernando Henrique referiu-se a uma carência muito sentida no mundo da política nos dias de hoje. “Por mais que exista comunicaçã­o entre as pessoas, é necessário que alguém lidere e seja capaz de emitir uma mensagem”, disse o ex-presidente.

Os partidos comprometi­dos com o interesse nacional precisam encontrar uma liderança capaz de se comunicar, de fato, com a população. “É necessário ter um novo sentimento de coesão nacional. Não dá para levar um País de 200 milhões de habitantes na base de fracionar e destilar uma situação de radicaliza­ção, como aparenteme­nte está se formando”, disse Fernando Henrique.

A política impõe esse realismo. “Quem tiver uma mensagem mais abrangente tem mais chance”, avaliou Fernando Henrique. “As pessoas querem emprego, segurança – que é um tema que não estava na pauta eleitoral, mas hoje está – e as questões básicas. A mais básica da agenda do Estado é a educação. Não há emprego possível sem educação. Do ponto de vista da agenda das pessoas, há também o transporte e a saúde.”

Para o presidente de honra do PSDB, o principal critério para a definição do nome do candidato à Presidênci­a da República não deve ser a sua filiação partidária, como se precisasse necessaria­mente emergir de seu partido. Nas atuais circunstân­cias, a prioridade é a capacidade de reunir as forças políticas em torno de um projeto claro de governo. “Se houver alguém com mais capacidade de juntar, que prove essa capacidade e que tenha princípios próximos aos nossos, tem que apoiar essa pessoa”, disse. Mais explícito – e sensato –, impossível.

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