O Estado de S. Paulo

21 mortos na crise do Irã

Saindo de controle. Autoridade­s informam que mais de mil pessoas foram presas e garantem que muitos podem ser condenados à morte por saírem às ruas contra o regime e a crise econômica; em seis dias de manifestaç­ões, número de mortos chega a 21

-

O líder supremo do Irã, Ali Khamenei, disse ontem que os protestos no país são orquestrad­os por inimigos como EUA e Israel. As manifestaç­ões contra a crise econômica e o regime já causaram 21 mortes.

Autoridade­s iranianas informaram que nove pessoas morreram na madrugada de ontem em protestos na Província de Isfahan, a cerca de 350 quilômetro­s de Teerã. Com isso, o número de mortes durante as manifestaç­ões contra o regime autoritári­o e a crise econômica, que começaram na quinta-feira, chegou a 21.

Segundo relatos oficiais, seis manifestan­tes morreram em confrontos com a polícia após a tentativa de invasão de uma delegacia da cidade de Qahderijan. Em Khomeinysh­ahr, um menino de 11 anos morreu após disparos de manifestan­tes. Além deles, um membro da Guarda Revolucion­ária, força de elite iraniana, foi morto em Kahriz Sang. A outra vítima foi um policial, em Najafabad.

Autoridade­s ameaçaram ontem os manifestan­tes, dizendo que podem ser condenados à morte. “A cada dia que passa, aumentará seu crime e o castigo. Nós já não os consideram­os como manifestan­tes, mas como pessoas que querem prejudicar o regime”, disse o presidente do Tribunal Revolucion­ário de Teerã, Musa Ghazanfar-Abadi.

Segundo ele, quem for preso será declarado culpado por diferentes delitos, entre os quais “atentado contra a segurança nacional” e “inimizade com Deus”, ambos punidos com a pena de morte.

A TV estatal informou ontem que cerca de 100 pessoas foram detidas durante a madrugada noite na Província de Isfahan. Em todo o país, mais de 1.000 pessoas já foram presas desde o início dos protestos, a maioria delas em Teerã.

“Pelo menos 200 pessoas foram detidas no sábado; 150, no domingo; e 100, na segunda-feira”, declarou o vice-prefeito de Teerã, Ali-Asghar Nasserbakh­t,

que declarou ainda não ter pedido apoio à Guarda Revolucion­ária, encarregad­a da segurança da capital.

Interferên­cia. Ainda ontem, o líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, rompeu seu silêncio sobre a onda de protestos e

afirmou que os distúrbios são orquestrad­os pelos adversário­s do país, especialme­nte EUA e Israel.

Ele afirmou que, nos acontecime­ntos dos últimos dias, “os inimigos se uniram e estão usando de todos os seus meios, seu dinheiro, suas armas, suas políticas

e seus serviços de segurança para criar problemas para o regime islâmico.”

“Eles esperam apenas uma chance para se infiltrar e atacar o povo iraniano”, declarou Khamenei. “O que pode impedir o inimigo de agir é o espírito de coragem, de sacrifício e a fé do povo iraniano, dos quais vocês são testemunha”, acrescento­u o aiatolá.

Reação. Os EUA anunciaram ontem que pedirão uma sessão de urgência do Conselho de Segurança da ONU para discutir uma resposta para a situação no Irã. “As liberdades que estão consagrada­s na Carta das Nações Unidas estão sob ataque no Irã”, afirmou a embaixador­a americana na ONU, Nikki Haley.

De acordo com ela, a ideia é que também haja outra reunião de urgência no Conselho de Direitos Humanos, em Genebra, para analisar o mesmo tema. Haley, porém, não estabelece­u uma data para as reuniões. “De uma forma ou de outra, teremos uma reunião sobre o que está acontecend­o no Irã com os protestos e a luta em favor da liberdade”, afirmou.

 ?? THE NEW YORK TIMES ??
THE NEW YORK TIMES
 ?? AP–30/12/2017 ?? Pressão. Estudantes protestam contra o governo iraniano na Universida­de de Teerã; mais de 1.000 pessoas já foram detidas
AP–30/12/2017 Pressão. Estudantes protestam contra o governo iraniano na Universida­de de Teerã; mais de 1.000 pessoas já foram detidas

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil