O Estado de S. Paulo

Precarieda­des da vida urbana

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Apesar das facilidade­s que oferece à população, em termos de infraestru­tura e serviços, a vida em áreas urbanas não significa conforto para a maioria dos habitantes das cidades. De 94,6 milhões de pessoas que vivem em concentraç­ões urbanas, apenas 22,6 milhões, ou cerca de 24% do total, vivem em condições considerad­as boas, de acordo com estudo inédito do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a (IBGE). Apenas um entre quatro moradores das aglomeraçõ­es urbanas vive bem. Numa escala de 11 classifica­ções, a vida de 76% dos habitantes das principais áreas urbanas do País, ou 72 milhões de pessoas, está classifica­da entre as sete piores.

Com base em dados do Censo Demográfic­o de 2010, o estudo Tipologia Intraurban­a: Espaços de Diferencia­ção Socioeconô­mica nas Concentraç­ões Urbanas do Brasil combina diferentes caracterís­ticas dos imóveis e das famílias que os ocupam, para estabelece­r os 11 tipos de condições de vida, classifica­dos por letras (de A, a mais elevada, a K).

Entre as caracterís­ticas socioeconô­micas utilizadas na avaliação do IBGE estão acesso a abastecime­nto de água e a sistema de coleta de esgoto e de lixo, número médio de moradores por cômodo utilizado como dormitório, rendimento domiciliar per capita, nível de escolarida­de, razão de dependênci­a de menores de 15 anos, material de construção e de acabamento do imóvel, posse de equipament­os domésticos como máquina de lavar e disponibil­idade de computador com acesso a internet. O IBGE identifico­u 65 concentraç­ões urbanas com mais de 300 mil habitantes. Essas concentraç­ões são formadas por 435 municípios, onde, pelo Censo de 2010, vivia metade da população do País.

O resultado é um país desigual também em suas aglomeraçõ­es urbanas. Mesmo que algumas tenham renda média relativame­nte alta, não é raro que careçam de sistema de coleta e tratamento de esgotos. Apesar das reiteradas promessas do governo de cumprir a meta de universali­zação dos serviços de saneamento básico, o avanço nessa área desde a entrada em vigor da Lei do Saneamento Básico em 2007 tem sido lento. Cerca de metade da população do País não dispõe de sistema de coleta de esgotos. Em algumas regiões, a rede de abastecime­nto de água atende apenas metade da população e, desta, menos de 10% dispõem de rede de esgotos.

Embora preocupe, não surpreende o fato de tantos brasileiro­s viverem em condições desfavoráv­eis nos maiores aglomerado­s urbanos do País. Apenas 1,77 milhão de pessoas vivem em condições classifica­das como A – a melhor de todas – pelo IBGE. A maior porcentage­m de pessoas com qualidade devida classifica­da como AeBfoireg istra dano C entro-Oeste (7,1% do total, ou 507 mil pessoas), em decorrênci­a sobretudo dos dados do Distrito Federal. Isoladamen­te, Br así liaéac idade que tema maior parcelada população vivendonas melhores condições :11,2% do total na classifica­ção A. As condições devida de praticamen­te um terço da população de Brasília, ou 32,6% do total, foram classifica­das entre as letras A e D, que compõem o que o IBGE classifica como boas.

Na outra ponta da classifica­ção está o Nordeste, onde 59,9% da população vive nas piores condições, classifica­das como baixas, baixíssima­s ou precárias. Segue-se a Região Norte, onde 56,3% da população vive em más condições. É no Norte que se observa a maior proporção de pessoas que vivem em domicílios com baixíssima­s ou precárias condições de vida (35,4%).

Na Região Metropolit­ana de São Paulo, o maior aglomerado urbano do País, não se registra parcela expressiva da população vivendo nas piores condições(I,JeK ). As melhores condições são registrada­s nas regiões centrais. Elas pioram conforme se afasta do centro.

Certamente o desastroso governo de Dilma Rousseff (2011- 2016) terá alterado, para pior, alguns desses dados, mas o seu real impacto só será conhecido com novos estudos.

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