Diálogo poderá dividir americanos e sul-coreanos
Líder da Coreia do Norte teria percebido a chance de colocar dois aliados históricos em lados opostos
Em sua declaração de ano-novo, o líder supremo da Coreia do Norte, Kim Jong-un, disse que avançaria na produção de armas nucleares e mísseis intercontinentais em 2018. Por trás da mensagem, no entanto, está uma nova estratégia para iniciar um diálogo com a Coreia do Sul e rachar uma aliança diplomática de sete décadas com os Estados Unidos.
No último dia do ano, sentindo a tensão entre o presidente Donald Trump e seu colega sulcoreano, Moon Jae-in, Kim pediu um diálogo urgente entre as duas Coreias antes da abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno, que será realizados em fevereiro, na Coreia do Sul.
O relacionamento entre Seul e Washington vem piorando a olhos vistos. Moon, um político liberal, defende a abertura econômica e a aproximação diplomática com os norte-coreanos, enquanto Trump trabalha duro para sufocar a Coreia do Norte com sanções cada vez mais duras. Moon tem irritado constantemente a Casa Branca sempre que sugere ter capacidade para vetar qualquer ação militar americana preventiva contra a Coreia do Norte.
Até então, Kim vinha ignorando Moon, a quem o ditador norte-coreano retratava como um “lacaio dos Estados Unidos”. No entanto, a dramática mudança de tom dos últimos dias sugere que o líder supremo norte-coreano percebeu a chance de aumentar o racha entre Moon e Trump. Kim aposta que a Casa Branca seja neutralizada e não possa mais exercer pressão contra a Coreia do Norte se não tiver a concordância de Seul.
A ousadia pode funcionar. Horas após o discurso de Kim, assessores do presidente sul-coreano saudaram a proposta da Coreia do Norte e agravaram ainda mais as tensões com os Estados Unidos. “O momento desta aproximação, combinado com a capacidade declarada de Kim de atacar os EUA, mudaram o cenário”, diz Robert Litwak, analista do Woodrow Wilson Center. “Agora, Kim tem um a rara chance de ficar do lado dos sul-coreanos contra o presidente americano.”