O Estado de S. Paulo

Diálogo poderá dividir americanos e sul-coreanos

Líder da Coreia do Norte teria percebido a chance de colocar dois aliados históricos em lados opostos

- Choe Sang-hun David Sanger THE NEW YORK TIMES / SEUL

Em sua declaração de ano-novo, o líder supremo da Coreia do Norte, Kim Jong-un, disse que avançaria na produção de armas nucleares e mísseis interconti­nentais em 2018. Por trás da mensagem, no entanto, está uma nova estratégia para iniciar um diálogo com a Coreia do Sul e rachar uma aliança diplomátic­a de sete décadas com os Estados Unidos.

No último dia do ano, sentindo a tensão entre o presidente Donald Trump e seu colega sulcoreano, Moon Jae-in, Kim pediu um diálogo urgente entre as duas Coreias antes da abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno, que será realizados em fevereiro, na Coreia do Sul.

O relacionam­ento entre Seul e Washington vem piorando a olhos vistos. Moon, um político liberal, defende a abertura econômica e a aproximaçã­o diplomátic­a com os norte-coreanos, enquanto Trump trabalha duro para sufocar a Coreia do Norte com sanções cada vez mais duras. Moon tem irritado constantem­ente a Casa Branca sempre que sugere ter capacidade para vetar qualquer ação militar americana preventiva contra a Coreia do Norte.

Até então, Kim vinha ignorando Moon, a quem o ditador norte-coreano retratava como um “lacaio dos Estados Unidos”. No entanto, a dramática mudança de tom dos últimos dias sugere que o líder supremo norte-coreano percebeu a chance de aumentar o racha entre Moon e Trump. Kim aposta que a Casa Branca seja neutraliza­da e não possa mais exercer pressão contra a Coreia do Norte se não tiver a concordânc­ia de Seul.

A ousadia pode funcionar. Horas após o discurso de Kim, assessores do presidente sul-coreano saudaram a proposta da Coreia do Norte e agravaram ainda mais as tensões com os Estados Unidos. “O momento desta aproximaçã­o, combinado com a capacidade declarada de Kim de atacar os EUA, mudaram o cenário”, diz Robert Litwak, analista do Woodrow Wilson Center. “Agora, Kim tem um a rara chance de ficar do lado dos sul-coreanos contra o presidente americano.”

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