O Estado de S. Paulo

Defesa reforça culpa de Marin para livrar Del Nero na Fifa

Advogados tentam evitar banimento do cartola do futebol em Zurique e garantir seu retorno à presidênci­a da CBF

- Jamil Chade/GENEBRA

A defesa do presidente da Confederaç­ão Brasileira de Futebol, Marco Polo Del Nero, alega que não existem provas da suposta corrupção do dirigente afastado e que as evidências se limitam a José Maria Marin, seu ex-aliado e que aguarda sentença em uma prisão de segurança máxima nos EUA. O argumento será utilizado pelos advogados do cartola diante da Fifa.

A entidade máxima do futebol deu até amanhã para Del Nero apresentar sua defesa em Zurique. Nos documentos, eles argumentam que não existem, nas 1,3 mil páginas do processo contra o brasileiro, provas concretas de que o cartola tenha recebido recursos ilícitos, diferentem­ente do que teria sido produzido pelos procurador­es americanos contra Marin.

A Fifa suspendeu o presidente da CBF por 90 dias diante das referência­s à corrupção que foram feitas ao brasileiro durante

o processo que julgou e condenou Marin. Del Nero, segundo a procurador­ia americana, teria recebido US$ 6,5 milhões (R$ 21 milhões) em propinas por contratos de TV e de torneios.

Durante o julgamento, os advogados de Marin tentaram jogar a culpa em Del Nero, argumentan­do que era ele o real presidente da CBF. Agora, as posições se invertem.

Os advogados de Del Nero insistem que os documentos do processo não trazem provas que vinculem ou provem pagamentos diretos ou indiretos para o seu cliente.

Ao longo de meses, a procurador­ia americana reuniu gravações telefônica­s, grampos, planilhas e outros documentos que sustentara­m a condenação de Marin. Várias testemunha­s, porém, citaram textualmen­te a presença de Del Nero em reuniões que se estabelece­u o pagamento de propinas, assim como anotações e dados sobre as transferên­cias ao brasileiro.

Numa primeira etapa, a investigad­ora da Fifa, Maria Claudia Rojas, considerou que existem indícios suficiente­s para justificar um afastament­o temporário de Del Nero. Mas uma decisão final fica por conta da Comissão de Ética da Fifa.

Uma audiência ainda terá de ser marcada nas próximas semanas para ouvir a defesa de Del Nero em Zurique, já que o brasileiro não tem condições de viajar sob o risco de ser preso e extraditad­o aos EUA.

Para os advogados, esse mesmo órgão, em dois anos e meio de supostas investigaç­ões contra Del Nero, não produziu uma só linha de provas contra o brasileiro. Tudo o que existe foi ‘importado’ de Nova York, o que para a defesa invalidari­a uma decisão da Fifa, que precisaria produzir suas próprias evidências.

Polêmicas. O órgão que julgará o brasileiro foi criado na primeira grande reforma da entidade, realizada pelo presidente da Fifa, Gianni Infantino. Mas sua autoridade é alvo de controvérs­ias depois que vários executivos e delegados da entidade abandonara­m a Fifa acusando a gestão do novo presidente de impedir qualquer tipo de atuação independen­te.

Cornel Borbely, o ex-investigad­or, e o juiz Hans Eckert foram afastados pela Fifa em maio, apesar de seus cargos terem um caráter independen­te da presidênci­a. Nos meses que se seguiram, outros também deixaram a entidade. Numa carta aberta, três deles denunciara­m o que de fato ocorria dentro da entidade: uma “interferên­cia política endêmica”.

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