O Estado de S. Paulo

Atraente retrato de uma mulher em movimento

‘Jeune Femme’, o longa de Léonor Serraille com Laetitia Dosch, venceu a Caméra d’Or em Cannes

- Luiz Carlos Merten

Começa com a protagonis­ta gritando impropério­s e batendo, literalmen­te, com a cabeça na porta. Prossegue com ela dando cabeçadas por Paris. Jeune Femme, Jovem Mulher, o longa de Leónor Serraille com Laetitia Dosch, venceu a Caméra d’Or, a Palma de Ouro para diretor(a) estreante no Festival de Cannes do ano passado. Da sua primeira cabeçada, Laetitia retém, ao longo do filme, a marca de uma cicatriz, ou de um sangue coagulado. Mas a mulher que termina o longa de Léonor Serraille, é diferente da que começou. Jovem Mulher, ou o itinerário de uma transforma­ção.

De cara, logo após a (auto)agressão que abre o filme, Paula – é o nome da personagem – desabafa para o médico que a atende, contando sua história. Ela voltou a Paris atrás do namorado, que não quer mais saber dela – daí a porta fechada. Seu mundo desmorona, ela esbraveja, revolta-se. O tempo todo – o tempo do filme –, Paula está em movimento no bairro de Montparnas­se. À procura de quê, exatamente? De si mesma. Seu discurso é incoerente, as ações são impensadas. Paula estende sua revolta a todo o mundo, ao mundo.

É fácil, mas não acurado, dizer que o filme – a diretora – toma partido da autopiedad­e e do miserabili­smo de Paula. Porque, na verdade, o que Léonor Serraille propõe é o retrato de uma balzaquian­a (a mulher de 30) que começa à deriva e, face à hostilidad­e do mundo, termina por se reinventar. O mais curioso é que um júri eminenteme­nte masculino – cinco homens, duas mulheres, incluindo a presidente, atriz e diretora Sandrine Kiberlain – avalizou o retrato, às vezes exasperado, sempre intenso, dessa ‘emancipaçã­o’ coroada com a câmera de ouro.

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ZETA FILMES Laetitia Dosch. Mulher de 30, à deriva, encontra-se

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