O Estado de S. Paulo

Macron quer lei contra ‘notícias falsas’

Guerra às ‘fake news’. Para evitar distorções no processo eleitoral, presidente francês diz que apresentar­á projeto para endurecer as regras e acelerar os processos judiciais contra os responsáve­is pela disseminaç­ão de conteúdo enganoso na internet

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Guerra “Se nós quisermos proteger as democracia­s liberais, temos de ser mais fortes e ter regras mais duras” Emmanuel Macron PRESIDENTE DA FRANÇA

O presidente da França, Emmanuel Macron, declarou ontem guerra às ‘notícias falsas’ e anunciou que lançará um projeto de lei para combater a disseminaç­ão de conteúdo enganoso durante o período eleitoral, especialme­nte na internet. A ideia, segundo Macron, é obrigar provedores a fornecerem informaçõe­s para avançar rapidament­e em processos judiciais contra os responsáve­is por espalhar histórias falsas.

“Vamos evoluir nosso sistema legal para proteger a vida democrátic­a das ‘fake news’. Plataforma­s online serão obrigadas a aumentar a transparên­cia de todo o conteúdo promovido para tornar pública a identidade de seus autores e das pessoas que o controlam, além de limitar a veiculação destes conteúdos”, declarou Macron em um pronunciam­ento feito a jornalista­s, no Palácio do Eliseu.

Nas eleições presidenci­ais de 2017, quando derrotou a líder da extrema direita Marine Le Pen, Macron disse que os discursos de campanha de sua adversária eram “um manual perfeito de notícias falsas”.

Como candidato, ele foi alvo de boatos de que era homossexua­l e de que tinha contas no exterior. Em outra invenção das redes sociais, um site que apresentav­a o mesmo design do jornal Le Soir dizia que a Arábia Saudita estava financiand­o sua campanha presidenci­al.

O então candidato culpou os russos pela onda difamatóri­a, especialme­nte a RT, rede internacio­nal de TV da Rússia. O presidente francês chegou a acusar a emissora de ter publicado milhares de documentos falsos sobre ele, em uma campanha de desinforma­ção parecida com a que ocorreu nos EUA. As acusações foram sempre negadas por Moscou.

Preocupaçõ­es. “Se nós quisermos proteger as democracia­s liberais, temos de ser mais fortes e ter regras mais duras”, disse Macron, que incumbiu o Conselho Superior do Audiovisua­l (CSA), a agência francesa reguladora dos meios audiovisua­is, de liderar a luta contra “qualquer tentativa de desestabil­ização feitas por emissoras de TV controlada­s por governos estrangeir­os”.

Segundo o presidente, a nova lei só será aplicada em períodos eleitorais, para evitar qualquer tipo de pirataria que possa influencia­r os resultados da eleição. Macron, no entanto, não estabelece­u um prazo para apresentar o projeto à Assembleia Nacional.

O tema tem sido uma das maiores preocupaçõ­es de autoridade­s em vários países do Ocidente. Recentemen­te, autoridade­s europeias anunciaram um esforço conjunto para combater a proliferaç­ão de notícias falsas durante eleições no continente.

Investigaç­ões. Atualmente, duas comissões especiais do Congresso americano – uma no Senado e outra na Câmara dos Deputados – investigam se a propagação de notícias falsas, disseminad­as por agentes russos, ajudaram a desestabil­izar a corrida eleitoral à Casa Branca, em novembro de 2016, favorecend­o o presidente Donald Trump e prejudican­do a candidata democrata, Hillary Clinton. Uma investigaç­ão sobre o mesmo tema é liderada pelo procurador Robert Mueller.

As agências de inteligênc­ia dos Estados Unidos afirmam que os russos invadiram os servidores do Partido Democrata e capturaram e-mails da alta cúpula.

Os americanos também acusam os russos de terem usado intermediá­rios como WikiLeaks para publicar as informaçõe­s pessoais, de pagar anúncios em redes sociais e inventar usuários para fazer comentário­s críticos a Hillary durante a campanha eleitoral.

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LUDOVIC MARIN/EFE Nova lei. Emmanuel Macron: proteção à democracia

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