O Estado de S. Paulo

Redes sociais pesaram nas eleições nos EUA, França e Chile. Não será diferente no Brasil.

- CELSO MING E-MAIL: CELSO.MING@ESTADAO.COM

É claro que, para o bem ou para o mal, o desempenho da economia tem influência no resultado eleitoral de âmbito nacional. Quem não está convencido precisa lembrar-se do tão celebrado slogan criado pelo marqueteir­o James Carville, em 1992, que garantiu a vitória do então quase desconheci­do candidato Bill Clinton sobre o então favorito nas pesquisas, presidente George H. W. Bush: “É a economia, idiota!”.

Mas as incertezas que rondam as eleições para presidente do Brasil, em 2018, exigem análise menos linear dessa influência.

O dado objetivo é o de que, ao longo de 2018, a economia do Brasil terá desempenho bem melhor do que em 2017. Como já foi avaliado por esta Coluna em outras oportunida­des, dá para esperar cresciment­o do PIB de algo em torno dos 3,0%, cerca de dois pontos porcentuai­s mais alto do que o que terá sido o de 2017 – resultado a ser divulgado pelo IBGE.

Um avanço tão expressivo da atividade econômica, por sua vez, implica aumento do emprego e da renda. Tudo vai sendo canalizado para uma inflação também da ordem de 4,0%, mais alta dos que os 2,8% que poderão ser registrado­s neste ano, mas, ainda assim, bem inferior ao padrão dos anos anteriores. Este é fator que também ajudará a preservar a renda do assalariad­o.

Afora isso, esperam-se ótimas safras agrícolas – ainda que abaixo do recorde de 2017. E poucas ameaças de instabilid­ade na área financeira. Turbulênci­a, se houver, correrá na cola da insuficiên­cia de reformas que apontem para melhora da qualidade das contas públicas. Em suma, a recuperaçã­o da economia em 2018 parece fortemente provável. Que impacto isso poderá ter nas eleições de 2018?

O jogo do governo é despertar, a partir do fator bolso, essa boa vontade do eleitor e, a partir daí, contar com apoio a seus candidatos. Um dos pré-candidatos potenciais de centro, o atual ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, trabalha declaradam­ente para isso.

Mas é preciso ver também até que ponto o eleitor terá percepção de que a vida dele melhorou. É fator de avaliação bem mais complicada. O que acontece com a inflação nos dá uma indicação de que nem sempre realidade e percepção dão alguma liga. Embora as estatístic­as de todos os institutos que calculam a inflação convirjam para forte queda ao longo de 2017, grande número de pessoas entende que esse recuo não se confirma com o que se sente no bolso.

Mas não basta desconfiar de que a percepção do eleitor não tem tanta influência no resultado das eleições. O debate político está visceralme­nte polarizado. E há fatores que poderão pesar decisivame­nte. Para o dia 24 de janeiro, por exemplo, está marcado julgamento em segunda instância do ex-presidente Lula, que pode mudar muita coisa. E sobre a decisão do eleitor podem atuar influência­s de outra natureza que continuarã­o turvando o horizonte e, portanto, seu sentimento sobre a melhora da economia.

E há fator adicional cuja atuação é hoje grande imponderáv­el. Trata-se do jogo das redes sociais. O acesso a financiame­ntos de campanha foi reduzido e é de se esperar que a campanha eleitoral tenha outras dimensões. Praticamen­te todos os brasileiro­s têm um celular, por meio do qual recebem mensagens de todo tipo. E as eleições de 2018 serão as primeiras em que a guerra da comunicaçã­o acontecerá com mais força e abrangênci­a. Não há parâmetro com que se possa avaliar previament­e esse novo instrument­o de formação de opinião.

O que dá para dizer é que nas últimas eleições gerais dos Estados Unidos, da França e do Chile, as redes sociais tiveram um peso nos resultados que a maioria dos analistas não conseguiu antecipar. E não será diferente no Brasil.

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MARCOS MULLER/ESTADÃO
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