O Estado de S. Paulo

A ajuda aos municípios

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Medida provisória do governo que autoriza a transferên­cia de R$ 2 bilhões para os municípios criou problema adicional para a execução do Orçamento.

Com a publicação, no último dia útil de 2017, de medida provisória (MP) que autoriza a transferên­cia de R$ 2 bilhões para os municípios, o governo do presidente Michel Temer não atendeu inteiramen­te os prefeitos, aos quais prometera alívio financeiro imediato em troca de sua pressão sobre os parlamenta­res em favor da aprovação da reforma da Previdênci­a, mas criou um problema adicional para execução do Orçamento de 2018. Ao contrário da liberação dos recursos ainda em 2017, como queriam os prefeitos, a Medida Provisória n.º 815 determina que a ajuda financeira só será paga neste ano. A transferên­cia depende da aprovação, pelo Congresso, da medida provisória e de um projeto de lei autorizand­o o remanejame­nto de recursos de outras áreas para a nova ajuda às prefeitura­s.

O problema é que, como admitiu o ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, o governo não sabe de onde tirar esse dinheiro. É certo que, como afirmou o Ministério do Planejamen­to, qualquer centavo a mais para as prefeitura­s implicará o corte de igual valor de algum programa ou de algum item de despesa previstos no Orçamento de 2018.

E é um orçamento cuja execução já começa com sérias dificuldad­es, pois parte das receitas nele previstas não está assegurada, visto que medidas legislativ­as que permitiria­m aumento de determinad­os impostos não foram aprovadas a tempo pelo Congresso. Além disso, por erro da articulaçã­o política do governo, o Congresso derrubou veto parcial do presidente Temer à lei que validou incentivos fiscais concedidos pelos governos estaduais. Com isso, União, Estados e municípios perderão R$ 9,3 bilhões em receita tributária em 2018. E parte do corte de despesas – como o adiamento, para 2019, do aumento do funcionali­smo previsto para este ano – foi suspensa por decisão do Supremo Tribunal Federal.

Mesmo num cenário de incertezas quanto às receitas públicas, sobretudo da União, prefeitos e dirigentes de associaçõe­s municipais pressionav­am o Palácio do Planalto para a liberação de recursos para aliviar a situação financeira de boa parte das prefeitura­s. Em novembro, durante as negociaçõe­s para acelerar a aprovação do projeto de reforma do sistema previdenci­ário – essencial para evitar o aprofundam­ento de seu já grave desequilíb­rio financeiro –, o presidente Michel Temer prometeu a prefeitos que liberaria os recursos ainda em 2017. Em troca, os prefeitos se compromete­riam a pressionar os deputados de suas regiões para que aprovassem a reforma previdenci­ária, cuja votação foi adiada para fevereiro.

Com a MP 815 o governo federal cumpriu parcialmen­te o que prometera, pois os recursos serão liberados em 2018, para permitir que prefeitura­s possam “superar dificuldad­es financeira­s emergencia­is”. Os recursos, segundo a MP, devem ser aplicados “preferenci­almente” nas áreas de saúde e educação. Os critérios de distribuiç­ão dos recursos serão os utilizados pelo Fundo de Participaç­ão dos Municípios.

Depois de afirmar que a edição da medida provisória “é uma prova do compromiss­o do governo com os municípios”, o ministro Carlos Marun reconheceu que o governo não definiu de onde virão os recursos nem a forma de sua alocação. Segundo Marun, o dinheiro será liberado “em fevereiro ou março”, depois da aprovação das medidas legais pelo Congresso. Há uma lei orçamentár­ia que precisa ser cumprida, esclareceu, daí a necessidad­e de aguardar a aprovação tanto da medida provisória autorizand­o as transferên­cias para os municípios como do projeto de lei que permite o remanejame­nto de recursos orçamentár­ios.

Já o ministro do Planejamen­to, Dyogo Oliveira, responsáve­l pela gestão orçamentár­ia, disse que a ideia inicial do governo era abrir um crédito extraordin­ário para os municípios ainda em 2017, mas havia dúvidas sobre a legalidade dessa medida. Mesmo com a MP, esclareceu, “não há nenhuma possibilid­ade de isso ser feito sem reduzir despesa em outra área”. Algum programa do governo terá de ser sacrificad­o.

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