O Estado de S. Paulo

Frio deixa mortos e cancela voos nos EUA

Batalha judicial. Deputados e senadores de ambos os partidos criticaram decisão do secretário de Justiça, Jeff Sessions, que revogou diretriz de Barack Obama e autorizou os procurador­es federais a combater legislaçõe­s estaduais que liberaram o uso da drog

- WASHINGTON /

Avião parado no Aeroporto JFK, em Nova York, onde todos os voos foram cancelados ontem. No país, mais de 5 mil partidas foram adiadas por causa da forte nevasca. Ontem, mais quatro pessoas morreram, elevando para 21 o número de mortos com a onda de frio. As temperatur­as ainda podem chegar a 40°C negativos.

O governo do presidente americano, Donald Trump, reverteu ontem uma diretriz de seu antecessor, Barack Obama, e autorizou procurador­es federais a abrir investigaç­ões relacionad­as ao uso de maconha em Estados onde ela foi legalizada. A medida deve dificultar o funcioname­nto da milionária indústria legal da droga nesses locais.

Em comunicado, o secretário de Justiça, Jeff Sessions, disse que a regulament­ação anterior feria o Estado de Direito, bem como a capacidade do departamen­to de aplicar regulações federais. “O memorando de hoje (ontem) apenas instrui os procurador­es a usar os princípios anteriores para desmontar organizaçõ­es criminosas e a crise de drogas e violência que atinge o país”, disse Sessions.

Para especialis­tas, a medida deve ampliar a confusão sobre a legalidade do consumo da droga nos Estados Unidos. A lei federal veta o uso da maconha, mas Alasca, Califórnia, Nevada, Oregon, Colorado, Washington, Maine, Massachuse­tts e Washington D.C. têm legislaçõe­s contrárias.

Os Estados criticaram a decisão. “Existe uma lista de coisas mais importante­s que os procurador­es federais têm a fazer. Esta lista é composta, basicament­e, de todas as outras coisas”, afirmou o deputado democrata Ted Lieu, da Califórnia. Maura Healey, secretária de Justiça de Massachuse­tts, lamentou que a medida retire recursos cruciais do combate a drogas mais letais, como os opioides.

Os republican­os também criticaram a decisão. “Isso vai contra o que Sessions disse em sua audiência de confirmaçã­o”, disse o senador republican­o Cory Gardner, do Colorado. “Sem notificar o Congresso, ele está passando por cima da vontade dos eleitores.” O deputado democrata Earl Blumenauer, do Oregon, considerou a decisão um “ultraje”. “Ela viola a vontade de eleitores, republican­os e democratas, que querem o governo federal fora desse debate”, disse.

Califórnia. O principal alvo da medida deve ser a Califórnia, que detém a maior indústria canábica do país. Apesar de o uso recreativo ter entrado em vigor apenas na segunda-feira, a produção foi legalizada há quase duas décadas, quando começou a venda para fins medicinais. A indústria hoje está consolidad­a e o excedente é enviado para Estados onde a droga foi legalizada, ainda que esse comércio seja ilegal.

No Colorado, Estado pioneiro na iniciativa, a receita obtida com a venda ultrapasso­u US$ 1 bilhão no último ano. Projeções indicam que o comércio de maconha legal nos EUA chegue a US$ 23 bilhões em 2021. Fontes do governo americano evitaram dizer se haverá uma perseguiçã­o a produtores e vendedores nos Estados onde ela foi legalizada e não disseram se o objetivo da medida é combater a indústria interestad­ual de maconha.

“Provavelme­nte, grandes investidor­es e produtores serão afetados”, disse Kevin Sabet, ex-funcionári­o da agência antidrogas americana, crítico da legalizaçã­o. “Toda a indústria que pensava estar a salvo de problemas legais nesses Estados está ameaçada.”

Sessions é um ferrenho opositor da legalizaçã­o da maconha. Ao assumir o Departamen­to de Justiça, no entanto, ele elogiou a medida de Obama como uma “opção orçamentár­ia válida”. Durante a campanha, em 2016, Trump considerou o tema da legalizaçã­o da maconha uma questão estadual e não federal.

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REBECCA BUTALA HOW/AFP

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