O Estado de S. Paulo

Temer quer alterar regra de pagamento de despesas

Para evitar crime de responsabi­lidade, presidente quer amenizar dispositiv­o que impede a emissão de dívida para pagar despesas correntes

- Adriana Fernandes Igor Gadelha/ BRASÍLIA

Para impedir que o presidente Michel Temer seja responsabi­lizado criminalme­nte, o governo articula com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), uma proposta de emenda à Constituiç­ão que flexibiliz­a a chamada “regra de ouro”. Essa regra impede a emissão de dívida para o pagamento de despesas correntes.

Para impedir que o presidente Michel Temer seja responsabi­lizado criminalme­nte, o governo costura com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, uma proposta de emenda à Constituiç­ão (PEC) que flexibiliz­a a chamada “regra de ouro”. Prevista na Constituiç­ão, essa norma impede a emissão de dívida para o pagamento de despesas correntes, como salários, por exemplo.

O mecanismo, também usado em outros países para garantir o equilíbrio das contas públicas, é um dos três pilares de controle das contas públicas junto com a fixação de uma meta fiscal (economia que o governo promete fazer para impedir que a dívida cresça, a partir de projeções de receitas e despesas) e o teto de gastos, que impede o cresciment­o das despesas acima da inflação.

A proposta poderá ser incluída numa espécie de “super PEC” com 27 medidas para retirar as amarras do Orçamento e dar mais liberdade de gestão das despesas e receitas do governo que está sendo elaborada a pedido de Maia. Se aprovada, abrirá caminho para que o próximo presidente da República assuma o governo com menos dificuldad­e para administra­r as contas públicas e de quebra evita que Temer corra o risco de ser responsabi­lizado em 2018.

A proposta está sendo desenhada pelo deputado Pedro Paulo (PMDB-RJ). Ele disse que a ideia é aplicar uma regra de “waiver”, uma espécie de suspensão temporário do mecanismo. O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, prefere que a mudança seja feita por medidas “autocorret­ivas”, modelo semelhante ao teto de gastos. No caso de descumprim­ento, são acionados “gatilhos”, como o congelamen­to dos salários dos servidores.

Impossível. Maia disse ao Broadcast/Estadão que o risco de descumprim­ento em 2019 “parece” de 100%. “Não é uma questão de ser contra ou a favor. É praticamen­te impossível cumprir a regra no ano de 2019. Segundo ele, o governo é que deve apresentar a PEC.

Hoje, as contas do governo têm um volume excessivo de vinculaçõe­s de receitas e despesas que dificultam a gestão orçamentár­ia. A ideia é diminuir essas travas.

Além da flexibiliz­ação da “regra de ouro”, no pacote há uma medida para aumentar o porcentual de receitas que o governo pode desvincula­r do Orçamento da União. Uma das ideias em análise, diz Pedro Paulo, é elevar dos atuais 30% para 50% a Desvincula­ção de Receitas da União (DRU). O peemedebis­ta contou ainda que a PEC começou a ser articulada há cerca de um mês e meio.

Para a equipe econômica, não há risco de descumprim­ento da “regra de ouro” porque o governo conta com R$ 130 bilhões de pagamento antecipado pelo BNDES de empréstimo­s feitos pelo Tesouro no governo petista. A devolução, no entanto, enfrenta resistênci­a do banco e da área política do governo que teme o travamento do crédito. Sem o pagamento, Temer corre o risco de ser responsabi­lizado criminalme­nte. A área econômica, porém, procurou afastar a possibilid­ade de que a medida seja para beneficiar Temer.

 ?? JOSÉ CRUZ/AGÊNCIA BRASIL ?? Na mesa. Dyogo (E) e Meirelles discutiram mudanças na ‘regra de ouro’ com Maia, ontem
JOSÉ CRUZ/AGÊNCIA BRASIL Na mesa. Dyogo (E) e Meirelles discutiram mudanças na ‘regra de ouro’ com Maia, ontem

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