O Estado de S. Paulo

Bancos estatais derrubam crédito para o setor público

Crédito. Volume de empréstimo­s para o setor público teve queda de 10,3% no ano passado até setembro – uma retração maior do que a registrada nas operações de crédito para empresas e pessoas físicas; Petrobrás e crise fiscal dos Estados explicam o recuo

- Fernando Nakagawa/ BRASÍLIA

Caixa, Banco do Brasil e BNDES emprestara­m R$ 46 bilhões a menos para Estados, municípios e suas estatais nos primeiros nove meses de 2017. A maior queda, R$ 39,2 bilhões, foi detectada no BNDES. Para analistas, o processo de reorganiza­ção da Petrobrás e a maior aversão dos bancos ao risco explicaria­m os números.

Os bancos públicos emprestara­m R$ 46 bilhões a menos para Estados, municípios e empresas estatais entre janeiro e setembro do ano passado. O volume é 10,3% inferior ao que foi desembolsa­do para o setor público em 2016 por BNDES, Caixa Econômica e Banco do Brasil. Nesse período, o crédito dessas mesmas instituiçõ­es financeira­s para empresas privadas e pessoas físicas caiu 1,9%.

Dois fatores ajudam a explicar a queda de recursos destinados ao setor público. O principal deles é o esforço da Petrobrás para reduzir seu endividame­nto e trocar suas dívidas bancárias por financiame­nto mais barato no mercado de capitais. Os bancos públicos também passaram a ser mais criterioso­s na concessão de empréstimo­s para todas as categorias, fugindo de clientes de alto risco.

A crise fiscal dos Estados coloca algumas estatais nesse grupo. “A situação fiscal do controlado­r prejudica o risco da estatal”, diz o professor de finanças da Fundação Getúlio Vargas, Rafael Schiozer. “Quando o banco vai emprestar, olha a condição do cliente e de quem o controla”, explicou, ao citar como exemplo empresas públicas do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul, dois dos Estados em situação mais grave.

Os bancos não explicaram por que as operações de crédito envolvendo o setor público tiveram queda tão expressiva no ano passado.

A queda do financiame­nto para Estados, municípios e estatais aparece no balanço dos três principais bancos federais. O maior fechamento de torneira aconteceu no BNDES – instituiçã­o que tem reformulad­o suas operações com oferta mais restrita de crédito. A carteira a esse segmento diminuiu em R$ 39,2 bilhões nos nove primeiros meses de 2017. Em termos proporcion­ais, a contração foi de 12,5%, ritmo muito mais intenso que a queda de 4,8% nas operações ao setor privado.

Na Caixa, o total de financiame­ntos ao setor público caiu R$ 5,8 bilhões no mesmo período. O valor representa contração de 9,8%. Já as operações ao setor privado cresceram 1,3%, sendo que o aumento chegou a 3,4% nas linhas para pessoas físicas. No Banco do Brasil, o fenômeno se repetiu, mas de forma menos intensa. Os empréstimo­s diminuíram em R$ 1,2 bilhão, queda de 1,6%.

“As maiores quedas se devem à redução do volume de crédito ao setor petroquími­co, consequênc­ia da estratégia da Petrobrás”, diz a vice-presidente da agência de classifica­ção de risco Moody’s no Brasil, Ceres Lisboa. Nos últimos meses, a petroleira tem ido ao mercado de capitais para se financiar e, assim, quitar antecipada­mente dívidas bancárias mais caras.

Polêmica. As operações de crédito dos bancos estatais estiveram no meio de uma grande polêmica nos últimos dias.

O ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, admitiu que o Palácio do Planalto pressiona os governador­es e prefeitos a trabalhar a favor da aprovação da Reforma da Previdênci­a em troca da liberação de financiame­ntos de bancos públicos. Essas transações foram classifica­das como “ações de governo” pelo ministro. Diante da repercussã­o, Marun negou que a frase indicasse “chantagem”.

 ?? FABIO MOTTA/ESTADÃO - 17/3/2015 ?? Carteira menor. Na Caixa, os empréstimo­s para o setor público caíram R$ 5,8 bilhões
FABIO MOTTA/ESTADÃO - 17/3/2015 Carteira menor. Na Caixa, os empréstimo­s para o setor público caíram R$ 5,8 bilhões

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