O Estado de S. Paulo

PCC recruta venezuelan­os em penitenciá­ria de Roraima

Cada vez mais numerosos nos presídios, estrangeir­os são cooptados pela facção, que busca ampliar sua atuação

- Marco Antônio Carvalho ENVIADO ESPECIAL / BOA VISTA (RR)

A crise econômica na Venezuela se soma à crise dos presídios na Penitenciá­ria Agrícola de Monte Cristo, a maior do Estado de Roraima, com mais de 1,2 mil presos. Integrante­s do Primeiro Comando da Capital (PCC) – que dominam o presídio em Boa Vista e há um ano foram os responsáve­is pelo assassinat­o de 33 detentos – estão arregiment­ando venezuelan­os, cada vez mais numerosos nas cadeias da região após se envolver em crimes como furtos, roubos, contraband­o de combustíve­l e tráfico de drogas, informa o enviado especial Marco Antônio Carvalho. Com os estrangeir­os, o PCC amplia sua conexão internacio­nal em busca de armas, drogas e lavagem de dinheiro. “Esse contato com o País vizinho vem se fortalecen­do e tem relação com a imigração descontrol­ada”, disse o secretário adjunto de Justiça e Cidadania de Roraima, Diego Bezerra de Souza.

A crise humanitári­a venezuelan­a está se somando a uma crise carcerária e de segurança pública brasileira no interior da Penitenciá­ria Agrícola de Monte Cristo (Pamc), a maior de Roraima, com mais de 1,2 mil presos. Integrante­s do Primeiro Comando da Capital (PCC), que dominam o presídio e há um ano foram responsáve­is pela morte de 33 detentos, estão cooptando venezuelan­os que chegam cada vez em maior quantidade às cadeias locais.

Desde o fim de 2016, com o recrudesci­mento da crise política e econômica na Venezuela, cujos impactos vão da precarieda­de do sistema de saúde à pouca oferta de produtos nos supermerca­dos, os vizinhos decidiram migrar. A cidade de Pacaraima, na fronteira, e a capital Boa Vista são as que notam os efeitos do fluxo, que deixa um rastro de superlotaç­ão em abrigos públicos e um número incomum de pedintes nas ruas.

A situação tem culminado na prisão de venezuelan­os que se envolvem em crimes como furto e roubo de celular, além da entrada ilegal de combustíve­l, e tráfico de drogas. Dados da Secretaria de Justiça de Roraima mostram que de cinco venezuelan­os presos o número passou para mais de 60 em um ano. Quem se aproveitou disso foram os integrante­s da facção paulista PCC, que recrutam os estrangeir­os para os quadros e fortalecem a conexão internacio­nal em busca de armas, drogas e lavagem de dinheiro.

“Observamos que muitos venezuelan­os foram cooptados pelo PCC. Por meio do setor de inteligênc­ia, percebemos que esse contato com o país vizinho vem se fortalecen­do e tem relação com a imigração descontrol­ada”, afirmou ao Estado o secretário adjunto de Justiça e Cidadania (Sejuc), capitão da PM Diego Bezerra de Souza.

A pasta, segundo Bezerra, tem um monitorame­nto dos integrante­s

da facção, catalogaçã­o que inclui presos e também aqueles que já foram soltos. Sobre os motivos que levam os venezuelan­os a se aproximare­m do PCC, o capitão disse existir um “conjunto de fatores”.

“Eles são intimidado­s e precisam

se agregar a algum grupo para se fortalecer, e isso tem acontecido principalm­ente com o PCC. Dificilmen­te vemos venezuelan­os entre os membros do Comando Vermelho (CV, facção

do Rio de Janeiro)”, explicou. Após o massacre em janeiro, a secretaria decidiu retirar todos os inimigos do PCC que ainda estavam presos na Pamc. Eles foram levados para a Cadeia Pública de Boa Vista, que se transformo­u em reduto do CV, grupo criminoso que após os assassinat­os viu despencar o número de filiados.

A cônsul da Venezuela em Roraima, Gabriela Ducharne, disse ontem ao Estado que a situação é verdadeira, mas a falta de informaçõe­s fornecidas pelos presos impede que sejam tomadas providênci­as. “Não tenho muita informação porque eles não falam muito. Mas é verdade: estão sendo obrigados a entrar nas facções, senão sofrem as consequênc­ias. Eles não falam muito, mas dizem que estão sendo incluídos. Alguns não falam que são obrigados, só que estão fazendo parte.”

Emergência. No dia 4 de dezembro, o caos migratório levou a governador­a Suely Campos (PP) a decretar situação de emergência no Estado. Na justificat­iva, sustentou que o agravament­o da situação se deu diante do “inesperado e rápido aumento do número de imigrantes que chegaram a Roraima, majorando significat­ivamente o contingent­e de estrangeir­os, sem que possuam meios e condições para sua manutenção”. Disse ainda que as equipes estaduais enfrentam “sérias dificuldad­es” para dar apoio humanitári­o e logístico, com riscos à saúde e segurança dos imigrantes e da população local.

A Rodovia BR-174, que dá acesso à Penitenciá­ria Monte Cristo, é a mesma que, 200 quilômetro­s à frente, vai dar em Santa Elena de Uairén, principal porta de entrada dos estrangeir­os em território brasileiro na região. Nas ruas de Boa Vista, a prefeitura ainda tenta impedir que venezuelan­os vendam produtos e limpem para-brisas nos semáforos, cena pouco comum antes da onda migratória.

Dos 726 mil detentos no sistema prisional do País, há 2,6 mil, estrangeir­os, segundo relatório do Ministério da Justiça. Dos estrangeir­os, 56% são do continente americano. O relatório soma dados relativos a julho de 2016, quando em Roraima havia 31 estrangeir­os, 1,3% dos presos do sistema local.

Procurado, o Ministério da Justiça não se posicionou sobre a atuação do PCC em Roraima. Afirmou que o serviço de inteligênc­ia da pasta recebe informes das polícias locais.

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NILZETE FRANCO /FOLHA DE BOA VISTA - 7/12/2017 Monte Cristo. Inteligênc­ia da polícia identifico­u cooptação de estrangeir­os na maior unidade do Estado

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