O Estado de S. Paulo

Botos aparecem mortos no Rio

Problema foi detectado nas baías da Ilha Grande e de Sepetiba; quantidade de mortos já equivale a 10% da população local da espécie

- Roberta Jansen / RIO

Bióloga fotografa boto-cinza morto na Baía de Sepetiba, no litoral do Rio. Desde novembro, 148 cetáceos morreram ali e na Baía da Ilha Grande. Um vírus seria o causador da mortandade. Espécie é considerad­a “vulnerável”.

Um vírus pode ser o causador da mortandade fora do comum de botos-cinza (Sotalia guianensis) nas baías da Ilha Grande e de Sepetiba, no litoral do Rio. Só ontem foram achados quatro mortos. Desde novembro, 148 desses cetáceos morreram na região – o número equivale a quase 10% dessa população. O fenômeno intriga especialis­tas, que se preocupam com a preservaçã­o da espécie, classifica­da como vulnerável.

O problema começou a ser detectado na Baía da Ilha Grande. Ali, cerca de 60 botos foram encontrado­s mortos em menos de 30 dias, entre novembro e dezembro. A média de mortes da espécie na região para o mesmo período em anos anteriores era de apenas um indivíduo. Em seguida, o problema começou a ser detectado na Baía de Sepetiba, onde 88 mortes foram relatadas nos últimos 20 dias. As carcaças estão sendo levadas para o Laboratóri­o de Mamíferos Aquáticos e Bioindicad­ores da Universida­de do Estado do Rio de Janeiro (Maqua/Uerj), onde passam por necropsia.

“Chama a atenção a presença de um agente infeccioso, um vírus da família dos paramixoví­rus, que, embora só tenha sido detectado uma vez no Brasil, é relacionad­o à mortalidad­e em massa de cetáceos em vários lugares do mundo”, explicou o veterinári­o Elitieri Santos Neto, do Maqua/Uerj. O vírus não põe em risco a saúde humana.

Amostras biológicas foram enviadas para o Laboratóri­o de Patologia Comparada de Animais Selvagens da Faculdade de Medicina Veterinári­a e Zootecnia da Universida­de de São Paulo (USP). Ali, o sequenciam­ento genético do vírus está sendo feito e especialis­tas esperam determinar qual microrgani­smo está atacando os animais e sua procedênci­a.

A fragilidad­e dos animais, no entanto, não é recente. “Nos últimos dez anos, temos notado muitas lesões na pele dos golfinhos, um problema geralmente relacionad­o à baixa imunidade”, explicou o biólogo Leonardo Flach, do Instituto Boto-Cinza, que monitora há 20 anos os golfinhos da Baía de Sepetiba.

“Os animais estão cada vez mais magros. Nos últimos dois anos, registramo­s aumento do número de portos na região, de ruídos sonoros, de derrame de produtos químicos – são mais de 400 indústrias. Isso provoca estresse no animal, reduzindo sua imunidade”, disse Flach.

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WILTON JUNIOR/ESTADÃO
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WILTON JUNIOR/ESTADÃO Na praia. Equipes de busca e resgate acharam quatro espécimes mortos apenas ontem

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