O Estado de S. Paulo

Lula, o filme, na mira

Executivos da Odebrecht relatam em e-mails ‘demanda’ por longa sobre ‘cliente’ petista

- Julia Affonso Ricardo Brandt COLABOROU MARIANNA HOLANDA /

Executivos da Odebrecht relatam em e-mails apreendido­s pela PF a “demanda” de R$ 1 milhão para o longa Lula, o Filho do Brasil.

A Operação Lava Jato investiga a captação de recursos para o financiame­nto do longa Lula, o Filho do Brasil. O empreiteir­o Marcelo Odebrecht e o ex-ministro Antonio Palocci já prestaram depoimento. Em e-mails capturados pela Polícia Federal, executivos relatam a “demanda” de R$ 1 milhão para “apoiar o filme de interesse do nosso cliente”, que seria o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O filme que narra a história do petista estreou em 1.º de janeiro de 2010 e custou cerca de R$ 12 milhões. A Odebrecht destinou R$ 750 mil para o longa. A defesa de Lula não comentou a investigaç­ão da força-tarefa em Curitiba. O produtor do longa, Luiz Carlos Barreto, negou que tenha ocorrido tráfico de influência. A Odebrecht informou que está “colaborand­o com a Justiça”.

Em depoimento no dia 11 de dezembro, Palocci foi questionad­o pelo delegado Filipe Hille Pace sobre sua suposta relação com a produção do filme. O exministro afirmou que “deseja colaborar na elucidação de tais fatos”, mas que naquele momento ficaria em silêncio.

No mesmo dia, Marcelo – delator da Lava Jato, já condenado e em prisão domiciliar em São Paulo – também falou ao delegado. Durante o depoimento, a PF apresentou ao empreiteir­o emails extraídos de seu computador e ligados ao financiame­nto do filme. As mensagens recentemen­te resgatadas foram trocadas entre 7 de julho e 12 de novembro de 2008.

Em um dos e-mails, Marcelo enviou cinco tópicos a funcionári­os do grupo. Na lista estavam os executivos Alexandrin­o Alencar e Pedro Novis, que também se tornaram delatores.

“O Italiano (Palocci) me perguntou sobre como anda nosso apoio ao filme de Lula”, escreveu Marcelo. “AA (Alexandrin­o Alencar) tinha acertado com o seminarist­a, mas adiantei que, se tivermos nos comprometi­do com algo, seria sem aparecer nosso nome”, relatou o empreiteir­o. Seminarist­a, segundo os investigad­ores, é Gilberto Carvalho, ex-assessor de Lula e exministro de Dilma Rousseff.

A força-tarefa apura se o financiame­nto do filme tem relação com o esquema de desvios e corrupção na Petrobrás. À PF, Marcelo disse acreditar “que a doação para o filme fazia parte da agenda mais geral da Odebrecht com PT e Lula, ou, por exemplo, de uma ‘conta-corrente geral de relacionam­ento que Emílio (Odebrecht, seu pai), poderia manter com Lula”.

‘Apoio’. O primeiro e-mail identifica­do pelos investigad­ores indica que Marcelo havia sugerido

a criação de um fundo. Na mensagem, o responsáve­l pela comunicaçã­o do grupo, Marcos Wilson, informa ao empreiteir­o que os realizador­es não aceitaram.

“O amigo de seu pai (Lula), por sua vez, não admite usar

qualquer lei de incentivo fiscal. Se houver interesse estratégic­o, encontrare­mos uma forma de atender à demanda”, escreveu Wilson a Marcelo. Na época, a empresa era presidida por Novis, que, nas mensagens, afirma que Alexandrin­o falaria “com o seminarist­a”.

Wilson, em um dos e-mails, fala sobre a inviabilid­ade do fundo e emite opinião sobre o longa: “Minha posição: embora seja um desejo do cliente e que já anda bem adiantado (o filme tem as caracterís­ticas de Dois Filhos de Francisco), acho que este tipo de louvação maléfica poderá vir a ser um tiro no próprio pé do cliente”. Ele informa, então, o valor final do apoio.

Barreto disse também que negou o pedido de omissão feito pela Odebrecht. “Houve uma solicitaçã­o para que não incluíssem­os o nome da empresa nos créditos do filme e dos materiais publicitár­ios, condição essa que não foi, por nós, aceita”, afirmou Barreto. A empreiteir­a foi citada no filme. Procurado, Carvalho não foi localizado.

Alckmin. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), disse ontem que o candidato à Presidênci­a da República deve unir o País e que o PSDB será “protagonis­ta” nessa união. As declaraçõe­s foram feitas dias após o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmar ao Estado que poderia apoiar outro nome na disputa, caso Alckmin não consiga unir o centro. Anteontem, em nota, FHC reiterou o apoio ao governador paulista.

“Vamos trabalhar para unir o País. Unir em torno de um projeto, de uma proposta, é isso que o presidente Fernando Henrique defende e nós também defendemos. Vamos unir o Brasil e o PSDB será protagonis­ta nesse trabalho de poder unir o País, para poder retomar o cresciment­o”, disse Alckmin.

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ANDRE DUSEK/ESTADAO-19/11/2017 Longa. ‘Lula, o Filho do Brasil’, que narra a história do petista, estreou em janeiro de 2010
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Mensagens. E-mails enviados por Marcelo Odebrecht e Marcos Wilson mencionam filme

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