O Estado de S. Paulo

‘Prometem sustentar a família deles lá fora’

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“Estou na Pamc há três anos, período que coincide com a tomada do presídio pelo PCC. Interessan­te é que, como não havia essa rixa com o Comando Vermelho, muitos dos que morreram em janeiro haviam convivido até na mesma cela de seus algozes. Quando houve aquilo em Manaus, respondera­m atacando integrante­s do CV, do Comando da Maioria, facção local ligada à Família do Norte (grupo criminoso com forte atuação na Região Norte) e ao CV. Para nossa surpresa, o PCC matou todos.

O que mudou depois do massacre foi a nossa relação com os presos. Antes, havia certa confiança porque entrávamos diariament­e, à noite até. Não existe mais isso. Só entramos com escolta da PM, em operações. Somos oito agentes por equipe de plantão e, na última contagem, os presos estavam em 1.213. Acredito que era para haver uns 50 agentes para essa população. Mas isso não existe.

Sobre os venezuelan­os, a maioria chega com crime pequeno, mas isso é o pior. Os caras do PCC os abordam e os convertem. Prometem que vão sustentar a família lá fora. Lá é mais fácil para armamento e droga. Como o cara não vai aceitar? Muitos que caem lá é porque estão passando fome – cara que roubou celular, moto. Fala que não tem emprego, fala que tem de mandar dinheiro para a família que está lá – 90% é desse perfil. Vai convidar e o cara vai aceitar, diz que vai sustentar a família lá fora. E, para pagar a mensalidad­e, alguém vai ter de assaltar. É um ciclo.”

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